ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: ANALISANDO AS CONCEPÇÕES DE ALUNOS SOBRE O TEMA CHULÉ E CECÊ

AUTORES: MONTES, R.H. DE O (UFU) ; CUNHA, R.A. (UFU) ; GONDIM, M.S.C. (UFU) ; PINHEIRO. J.S. (UFU)

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar as concepções dos alunos a respeito do tema Chulé e Cecê como ferramentas motivadoras do conhecimento e de uma aprendizagem efetiva no ensino de química. Para isto foi aplicado um questionário sobre o tema em uma turma da 3ª série do ensino médio. As análises das respostas mostram que os alunos apresentam dificuldades em relacionar conteúdos químicos com situações cotidianas. Conclui-se que relacionar o conhecimento químico com fatos do cotidiano dos alunos, deve ser um dos objetivos primordiais dos processos de ensino e aprendizagem.

PALAVRAS CHAVES: odores corporais, cotidiano, química.

INTRODUÇÃO: A bromidrose é o nome dado ao mau cheiro que é ocasionado pela decomposição do suor liberado pelas glândulas sudoríparas dos pés e axilas e pode estar relacionado a quadros de transpiração excessiva. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, os maus cheiros decorrentes da bromidrose surgem também por outros motivos, como o abafamento freqüente dos pés devido ao uso de sapatos fechados.
Os pés encerrados em sapatos podem facilmente alcançar temperaturas de até 39ºC, que combinada com o ambiente escuro e úmido, são condições ideais para o desenvolvimento e multiplicação das bactérias que produzem substâncias como ácido isovalérico e metanotiol, que são responsáveis pelo odor característico dos pés.2
Da mesma forma atuam os tecidos sintéticos nas axilas favorecendo a proliferação de fungos e bactérias.1 Estes microrganismos decompõem o suor pelo processo de fermentação que libera substâncias com odor desagradável.2 Compostos orgânicos voláteis como: ácidos graxos, cetonas, aldeídos, ésteres e álcoois podem ser encontrados no Cecê.3
Esta temática se apresenta como uma possibilidade de tratar conteúdos de química de forma contextualizada nas 3 séries do ensino médio, tais como: ácidos e bases, reação de neutralização, gases, funções e reações de compostos orgânicos e volatilidade.
Partindo da idéia de que a aprendizagem de Química deve possibilitar aos alunos a compreensão das transformações químicas que ocorrem no mundo de forma abrangente e integrada, para que possam julgar, com fundamentos, as informações adquiridas na mídia, na escola, com pessoas, etc. O presente trabalho visa analisar as concepções de alunos de uma turma do 3° ano do ensino médio a respeito do tema “Cecê e Chulé” bem como de conteúdos químicos relacionados a este tema.


MATERIAL E MÉTODOS: Elaborou-se um questionário que foi aplicado em uma turma de alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma Escola Estadual, na cidade de Uberlândia – MG. As perguntas estão associados à temática: Química dos Odores Corporais.
O questionário, reproduzido na integra abaixo, foi elaborado com 6 questões distintas. O questionário abordou principalmente questões relacionadas à volatilidade, ácidos e bases e fenômenos exotérmicos e endotérmicos, sendo 4 questões relacionadas com Cecê e Chulé.
1ª) Por que utilizar limão para eliminar os odores provenientes do “CC” não funciona, enquanto que uma mistura de bicarbonato de sódio e água funciona? (Figura 1)
2ª) O que são substâncias ácidas e substâncias básicas?
3ª) Joãozinho foi ao futebol e ao chegar em casa, bagunceiro como é, deixou suas chuteiras e meias jogadas na sala. Sua mãe sentada no sofá reclamou do chulé do filho. Porque o cheiro do chulé se espalha pelo ambiente?
4ª) Porque alguns queijos tem cheiro parecido com cheiro de chulé?
5ª) Diferencie um processo endotérmico de um exotérmico.
6ª) Porque a utilização de talco evita o chulé?
A análise dessas respostas serviu como eixo de trabalho para entender as dificuldades que os alunos têm em relacionar os conteúdos químicos com o cotidiano.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: O resultado do questionário nos mostrou que grande parte dos alunos consegue classificar as substâncias quanto à acidez e basicidade. O limão principalmente foi mencionado por grande parte dos alunos como ácido. Ressaltamos que 44,20% dos alunos compreendem que há reação de neutralização segundo a definição de Arrhenius.
Grande parte das respostas sobre a definição de substâncias ácidas e básicas partiu da memorização, na maioria dos casos incompleta, da definição de Arrhenius4. Um problema é que os alunos podem apresentar dificuldades futuras na compreensão da Teoria Ácido Base de Bronsted e Lowry, por exemplo, o caráter básico de aminas. Ou ainda a compreensão de por que o cátion sódio e o cloreto são inertes em soluções aquosas independente do pH da mesma.
Na questão 3 foi possível notar a baixa porcentagem (2.5% - 1 aluno) que respondeu que o odor presente no chulé se espalha devido a volatilidade das substância que o compõem. Isto nos mostra que a forma como os conceitos químicos foram apresentados a estes alunos não lhes permitem relacionar propriedades físico-químicas a fenômenos que ocorrem cotidianamente.
Apenas 12,5% dos alunos responderam que os queijos contém substâncias que também estão contidas no chulé. O que mostra que o aluno possui uma certa dificuldade em relacionar que materiais diferentes possam apresentar algumas substâncias em comum, e assim, apresentar algumas propriedades em comum.
Em relação à utilização de talco para evitar o chulé, o conceito de neutralização foi utilizado para relacionar os fenômenos. Ou seja, os alunos já desenvolveram melhor uma idéia sobre um meio propício para o desenvolvimento de bactérias e somaram as informações previamente passadas (suor contém substâncias ácidas) sugerindo possível resolução ao problema.




CONCLUSÕES: Concluímos com esta análise que os conceitos químicos, caso sejam trabalhados de forma ahistórica e dogmática não contribuem de forma efetiva para que os alunos façam relações com os fatos observados no cotidiano. Desta forma é imprescindível que o professor busque formas alternativas que possibilitem o desenvolvimento da criatividade a fim de melhorar as condições de aprendizado, aproveitando da melhor forma possível os recursos disponíveis. Logo relacionar o conhecimento químico com fatos do cotidiano dos alunos, deve ser um dos objetivos primordiais dos processos de ensino e aprendizagem.

AGRADECIMENTOS: Á FAPEMIG pelo apoio financeiro e ao IQ-UFU.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: 1 - Disponível em: <http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/2-cecê,chulée bafo.pdf>. Acesso em: 07/07/2011
2 - Disponível em: <http://www.calcadodesportivo.com/footpain/dornospes/bromidose.htm>.
Acesso em: 07/07/2011
3 - CURRAN A. M., RABIN S. I., PRADA P. A., FURTON K. G. Comparison of the volatile organic compounds present in human odor using SPME-GC/MS. Journal of Chemical Ecology, Vol. 31, No. 7, July 2005.
4 - Oliveira, A. M. Concepções Alternativas de Estudantes do Ensino Médio: Ácidos e Bases. 2008. 71 f. Dissertação de Mestrado – Instituto de Ciências Básicas da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2008.