ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: Monitorização biológica da exposição a Hg de trabalhadores de incineração de resíduos de serviço de saúde

AUTORES: PAVESI, T. (ENSP / FIOCR) ; SAGGIORO, E. M. (ENSP / FIOCR) ; DA SILVA, C. (ENSP / FIOCR)

RESUMO: O presente estudo avalia Hg urinário para trabalhadores de incineração de resíduos de serviços de saúde (RSS). As determinações analíticas foram feitas por espectroscopia de absorção atômica com geração de vapor frio e os resultados corrigidos pela creatinina. Os valores obtidos foram comparados com os limites propostos pela legislação brasileira e ACGIH, além de comparados os grupos da área de incineração e o grupo de trabalhadores de outras áreas. Não há amostras acima do IBMP, mas os trabalhadores do grupo OA apresentaram valores acima do valor de referência, esperarado para a população em geral, alertando para o fato de que estão expostos.

PALAVRAS CHAVES: mercúrio, urina, incinerador

INTRODUÇÃO: A incineração é a decomposição de resíduos a altas temperaturas (900°C) na presença de oxigênio. O processo pode levar à redução de 75% em volume e de 90% em peso (STABILE e BROOKS, 1999). Ainda que sejam destruídos agentes patogênicos e matéria orgânica, a incineração promove frequentemente a formação de poluentes orgânicos e concentração de metais, nas cinzas, emissões gasosas e particulados. Nos Estados Unidos da América as plantas de incineração de resíduos de serviço de saúde (RSS) representam a terceira fonte antropogênica de Hg (10%), superado apenas por plantas de incineração municipais (19%) e fábricas de lâmpadas (33%). Os compostos de Hg ainda hoje são encontrados em termômetros, além de formulações terapêuticas como bactericida e fungicida em soluções nasais, oftálmicas, vacinas, produtos injetáveis, germicidas, diuréticos e contraceptivos, além das restaurações odontológicas. Além dos RSS serem mistura heterogênea de artigos descartados por prestadores de serviço incluindo até lâmpadas, os próprios incineradores recebem resíduos industriais variados. A toxicologia do Hg e compostos varia em função da espécie química, e já é conhecida. Longa exposição mesmo a baixas concentrações de Hg prejudicam o organismo. A via inalatória é a rota mais importante para ingestão de Hg elementar e orgânico na a exposição ocupacional. A taxa de retenção pulmonar varia de 74 a 80% (FOÁ e , 1986), dos pulmões o Hg é levado pelo sangue e distribuido no organismo, acumulando-se nos rins, sistema nervoso central, fígado, medula óssea, vias aéreas superiores, pele, parede intestinal, glândulas salivares, coração, músculos e placenta. A eliminação é através dos rins. O objetivo deste estudo foi avaliar o Hg urinário para trabalhadores de incinerador de RSS, em Mauá (São Paulo).

MATERIAL E MÉTODOS: O incinerador estudado tem capacidade de queima para até 10 ton/dia de RSS de diversas origens (consultórios, clínicas veterinárias, etc.) com predomínio de hospitais, qualitativamente resíduos heterogêneos a cada dia. O forno, funciona 24 horas/ dia, caracteriza-se por leito fixo e sistema de alimentação e limpeza manuais. A escória produzida é destinada a aterro industrial da própria empresa.
Durante as coletas a média diária de queima foi de 5t de resíduos e não foram incluídas lâmpadas. Os trabalhadores foram divididos em 2 grupos: os da área de incineração (AI, n=8) e os trabalhadores de outras áreas na mesma planta (AO, n=10). Foram realizadas 3 sequências de coletas, de 5 dias laborais consecutivos cada, coletando-se 2 amostras por dia: antes e depois da jornada de trabalho (n= 540).
A determinação de Hg foi feita por espectroscopia atômica por geração de vapor frio com injeção de amostra em fluxo, em equipamento Analyst AA800, marca Perkin Elmer. Empregou-se cloreto estanhoso como redutor e soluções aquosas como soluções de referência para as curvas de calibração (ZENEBON et al., 1999). As concentrações foram expressas em função da creatinina urinária determinada através de kit (marca Labteste) de reativos por método espectrofotométrico (PAVESI, 2004). Os trabalhadores foram entrevistados quanto a diversos fatores incluindo alimentação.
O estudo, foi aprovado pelo Comitê de ética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, (protocolo CEP n.34/2004)



RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nenhuma amostra excedeu o Indice Biológico Máximo Permitido (IBMP) (MTE, 1994) ou o índice biológico de exposição (BEI) (ACGIH, 2003), ambos 35µg/g creatinina. Entretanto, o ambiente de trabalho não pode ser considerado controlado quanto à exposição a Hg considerando-se os trabalhadores externos à área de incineração. A Figura 1 mostra a distribuição das concentrações médias de Hg para cada uma das sequências de coleta por grupo de trabalhadores. As 3 sequências mostram valores de Hg urinário acima do Valor de Referência (VR), 35µg/g creatinina (MTE, 1994) para os trabalhadores do grupo AI: 3%, 23% e 41% das amostras. Na 2ª e 3ª sequências houve diferença estatisticamente significativas entre os valores para diferentes áreas (AI e OA). Chama atenção que, embora a carga queimada foi menor do que a capacidade da planta, para as seqüências de segundo e terceiro, observamos que um número considerável de amostras de trabalhadores OA acima do VR: 8% e 29% respectivamente. Na segunda seqüência 16% das amostras totais estão acima do VR e 29% delas são trabalhadores OA. Na terceira sequência 34% das amostras estão acima do VR, destas 47% são trabalhadores OA, veja Figura 2. A razão pode ser a ineficiência dos sistemas de tratamento de gases de emissão. Não foi observada diferença estatisticamente significativa comparando-se as amostragens antes e após a jornada de trabalho e também quando comparados os dias da semana.





CONCLUSÕES: Não há amostras acima do IBMP, mas os trabalhadores do grupo OA apresentaram valores acima do VR, esperarado para a população em geral, alertando para o fato de que estão expostos. Após este estudo, foi recomendada à empresa a manutenção do sistema de tratamento de gases e para realizar a avaliação médica de rotina dos trabalhadores, a fim de reconhecer os sinais e sintomas precoces de contaminação por mercúrio.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem à FAPESP pelo financiamento do projeto Fapesp n.1/00475-1.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ACGIH. American Conference of Governmental Industrial Hygienists. Threshold Limit Values (TLVs) for Chemical Substances and Physical Agents Biological Exposure Indices. Cincinnati, OH. 2003.
MTE Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora 7. Portaria n°24 de 29/12/1994
PAVESI, T. et al. Determinação de mercúrio urinário por absorção atômica pela geração de vapor frio na presença de cobre. In: XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE TOXICOLOGIA, Recife - PE, 2005
STABILE, I.; BROOKS,S. Medical monitoring for human health impacts from health impacts from hazardous waste incineration. In: Roberts, S.M.; Teaf, C.M; Bean, J.A. (Eds.). Hazardous Waste Incineration: Evaluating the human health and environmental risks. New York: Lewis Publishers, p. 295-313, 1999.
ZENEBON, O.; SAKUMA, A.M.; de Maio, F.D.; Okada, I.O.; Lichtig, J.; Analytical Letters, 32, p. 1339 -1349, 1999.