ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: IDENTIFICAÇÃO DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS DE Eugenia umbelliflora

AUTORES: CAVALCANTE, I.D. (UFSC) ; OLIVEIRA, A. S DE (UFSC) ; BRIGHENTE, I. M. C. (UFSC) ; PIZZOLATTI, M. G. (UFSC)

RESUMO: As espécies do gênero Eugenia, um dos maiores da Família Myrtaceae, chamam a atenção pelo seu potencial terapêutico, apresentando atividades antiinflamatória, antibacteriana, citotóxica, antitumoral, hipoglicemiante, entre outras. Considerando o potencial terapêutico descrito para o gênero, o objetivo deste trabalho foi realizar o estudo fitoquímico desta espécie. Foi preparado o extrato bruto hidroalcoólico das folhas e antes da partição líquido-líquido separou-se um material insolúvel que foi fracionado por cromatografia em coluna. Este fracionamento levou ao isolamento de uma mistura de triterpenos ácidos (uvaol e eritrodiol) e esteróides (beta-sitosterol e estigmasterol), caracterizados por espectroscopia de Infra-vermelho e Ressonância Magnética Nuclear de 1H e 13C.

PALAVRAS CHAVES: eugenia umbelliflora, triterpenos, esteróides.

INTRODUÇÃO: Eugenia umbelliflora, conhecida popularmente como “baguaçu”, é uma espécie pertencente a um dos maiores gêneros da família Myrtaceae. O gênero Eugenia é um dos 100 gêneros pertencentes à Família Myrtaceae.
As espécies do gênero Eugenia possuem uma variedade de atividades biológicas, entre as quais destacam-se a atividade antimicrobiana, antioxidante, antidiabética e antiinflamatória, que comprovam a eficácia do uso das plantas deste gênero na medicina popular. De um modo geral, os compostos que mais se destacam nas espécies do gênero Eugenia são os flavonóides e triterpenóides, sendo também encontrados chalconas e taninos. Devido à abundância de compostos fenólicos, como taninos e flavonóides, as espécies pertencentes ao gênero Eugenia exibem uma grande atividade antioxidante (EINBOND et al., 2004).
Um estudo do óleo essencial das folhas da Eugenia umbelliflora mostrou que o sesquiterpeno viridiflorol foi o composto encontrado em maior quantidade (17,7%), seguido dos monoterpenos -pineno (13,2%) e -pineno (11,2%),(MAGINA et al., 2009). Estudos fitoquímicos com as folhas de Eugenia umbelliflora resultaram no isolamento dos triterpenos taraxerol, alfa-amirina, beta-amirina, betulina, ácido betulínico e ácido trimetoxi elágico (MEYRE-SILVA et al., 2009).
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi realizar uma investigação fitoquímica da espécie Eugenia umbelliflora de onde foram isolados e identificados o triterpeno uvaol e o esteróide beta-sitosterol, ambos em mistura, através de técnicas espectroscópicas como espectroscopia no infravermelho e ressonância magnética nuclear de hidrogênio e carbono.


MATERIAL E MÉTODOS: O material vegetal – folhas de Eugenia umbellifora - foi coletado nas imediações do campus da UFSC, em janeiro de 2010. As folhas trituradas e secas (415,0 g) foram maceradas em etanol 96% durante 7 dias, sendo o extrato obtido filtrado e o solvente extrator evaporado. Este mesmo procedimento foi realizado por mais duas vezes. Os extratos resultantes das três macerações foram então reunidos, resultando no final das extrações em 39,6 g extrato bruto seco das folhas. O extrato bruto foi ressuspendido em água/metanol (80/20) e deixado em repouso na geladeira por 7 dias. Através deste processo foi obtido um precipitado que foi chamado de fração insolúvel. A fração insolúvel (11,0 g) obtida da precipitação do extrato bruto etanólico foi submetida a uma cromatografia em coluna de sílica gel. Como fase móvel, usou-se 100% de hexano, aumentando gradativamente a polaridade do solvente através da adição de acetato de etila até a polaridade de 100 % de acetato de etila. Desta coluna foram coletadas 41 frações de 100 mL cada, que depois de evaporadas foram comparadas via cromatografia em camada delgada, e reunidas quando similares. Algumas destas frações precipitaram e após recristalização foram analisadas por espectroscopia de IV e RMN, sendo determinados seus pontos de fusão. Merecem destaque as sub-fraçções 20 (Hexano/AcOEt 80%) e 30 (Hexano/AcOEt 30%), que após recristalização em metanol apresentaram-se na forma de precipitados brancos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A sub-fração 20 apresentou um precipitado branco, com um ponto de fusão de 134,5-136,0 ºC. O espectro de infravermelho em pastilha de KBr apresentou as bandas 3434 cm-1, 2960-2850 cm-1, 1462 cm-1,1645 cm-1. A análise do espectro de RMN 1H permitiu a visualização um grupo de sinais na região de campo alto entre 0,6-2,4 ppm típicas de estruturas esteroidais. Analisando o espectro de RMN de hidrogênios, verificou na região de hidrogênio ligado a C-sp2 (~5 ppm) e na região de hidrogênio ligado a carbono carbinólico (~3,5 ppm) dois conjuntos de sinais indicando tratar-se de uma mistura de esteróides na proporção de 80:20. Na análise do espectro de RMN de 13C observou a presença de cerca de 33 sinais, indicando a hipótese da presença de mistura, visto que os esqueletos esteroidais apresentam entre 27 e 29 carbonos. Observou-se os sinais: C 121,71; 129,29; 138,30; 140,77; 71,82 ppm. De acordo com a literatura comparada (KOVGANKO, 2000; FORGO e KÖVÉR, 2004), os deslocamentos químicos de RMN de 1H e RMN de 13C indicam que os dois compostos presentes na fração 20 são o β-sitosterol e o estigmasterol. A análise de infra vermelho da fração 30, sólido branco de ponto de fusão 211,4-213,1ºC apresentou um perfil de absorção típico de estruturas esteroidais ou triterpênicas com sinais 3389 cm-1, 2990-2860 cm-1, 1462,1631 cm-1. O espectro de RMN 1H, apresentou os deslocamentos 5,13; 5,19; 3,53; 3,21; 0,73-1,15; 1,32-1,82; 1,91 ppm e o espectro de RMN de 13C apresentou 30 sinais, para os quais vale destarcar: C 15,0; 56,0; 79,0; 69,94; 125,04; 138,08; 122,37; 144,21 ppm. Os deslocamentos químicos foram comparados segundo dados da literatura e assim, concluiu que a fração 30 é formada pelos triterpenos uvaol e eritrodiol literatura (PAULETTI et al., 2002; MAHATO e KUNDU, 1994).



CONCLUSÕES: O estudo fitoquímico e a caracterização por infra-vermelho e RMN de 1H e 13C da fração insolúvel, obtida do extrato bruto hidroalcólico das folhas de E. umbelliflora, levou ao isolamento de uma mistura de esteróides o β-sitosterol e estigmasterol e uma mistura de triterpenos, o uvaol (um triterpeno com esqueleto ursano) e o eritrodiol (um triterpeno com esqueleto oleanano).

AGRADECIMENTOS: CAPES, CNPQ, UFSC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: EINBOND, L.S.; REYNERTSON, K.A.; LUO, X.D.; BASILE, M.J.; KENNELLY, E.J. 2004. Anthocyanin antioxidants from edible fruits. Food chemistry, v. 84, p. 23-28.

FORGO, P. e KÖVÉR, K.E. 2004. Gradient enhanced selective experiments in the 1H NMR chemical shift assignment of the skeleton and side-chain resonances of stigmasterol, a phytosterol derivate. Steroids, v. 69, p. 43-50.

KOVGANKO, N.V.; KASHKAN, N.Z.; BORISOV, E.V. 2000. 13C NMR Spectra of functionally substituted 3-chloroderivatives of cholesterol and -sitosterol. Chemistry of Natural Compounds, v. 36, n. 6.

MAGINA, M.D.A. 2009. Estudo fitoquímico e biológico de espécies do gênero Eugenia. Tese (Dissertação de Doutorado) - Departamento de Química, UFSC, Florianópolis.

MAHATO, S.B.; KUNDU, A. 1994. 13C NMR spectra of pentacyclic triterpenoids - a compilation and some salient features. Phytochemistry, v. 37, n. 6, p. 1517-1575.

MEYRE-SILVA, C.; PETRY, C.M.; BERTE, T.E.; , BECKER, R.G.; ZANATTA, F.; DELLE-MONACHE, F.; CECHINEL FILHO, V.; ANDRADE, S.F. 2009. Phytochemical Analyses and Gastroprotective Effects of Eugenia umbelliflora (Myrtaceae) on Experimental Gastric Ulcers. Natural Product Communications, v. 4, n. 7, p 911-916.

PAULETTI, P.M.; ARAÚJO, A.R.; BOLZANI, V.S.; YOUNG, M.C.M. 2002. Triterpenos de Styrax camporum. Química Nova, v. 25, n. 3, p. 349-352.