ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: FENÓIS E FLAVONÓIDES NO COLMO E NA CASCA DE TRÊS VARIEDADES DE CANA-DE-AÇÚCAR

AUTORES: OLIVEIRA, M. W. (UFSC) ; BRIGHENTE, I.M.C. (UFSC) ; COLLA, G. (UFSC) ; ARISTIDES, E.V.S (USINATRIUNFO) ; PEREIRA, M.G. (USINATRIUNFO)

RESUMO: Avaliaram-se os teores de fenóis e de flavonóides nos colmos industrializáveis e na casca dos colmos de três variedades de cana: RB867515, RB92579 e RB98710. Colmos industrializáveis, descascados ou não, e casca dos colmos, foram prensados a 210 kgf/cm2, por sessenta segundos. O bagaço resultante da prensagem foi submetido à extração etanólica e, no extrato hidroalcoólico determinaram-se os teores de fenóis e de flavonóides. Nas cascas dos colmos foram encontrados os maiores teores de fenóis e de flavonóides. A menor concentração de flavonóides e de fenóis nas cascas dos colmos, respectivamente, 63 e 785 mg/kg de matéria seca foi observada na RB98710. Por outro, a RB92579 apresentou as maiores concentrações desses compostos nas cascas dos colmos: 139 e 1.386 mg/kg de matéria seca.

PALAVRAS CHAVES: açúcar, etanol, qualidade do caldo

INTRODUÇÃO: Na indústria sucroalcooleira do Brasil o rendimento da fermentação alcoólica e a qualidade do açúcar produzido, dependem, dentre outros, da variedade de cana, da época de colheita, das condições edafoclimáticas, do controle de pragas e dos tratos culturais, especialmente das adubações. Em relação à variedade, o aumento dos teores de fenóis e de flavonóides no caldo da cana influencia negativamente no metabolismo da levedura e na cor do caldo, diminuindo a eficiência industrial e a qualidade do açúcar produzido, aumentando consequentemente os custos de produção e reduzindo o valor de venda do açúcar.
As variedades RB867515 e RB92579 têm sido as mais plantadas na região nordeste do Brasil, devido ao potencial produtivo e ampla adaptação a diferentes ambientes edafoclimáticos, porém, na grande maioria dos locais a RB92579 apresenta caldo escuro devido ao alto teor de fenóis, superior a 1.000 mg/L. Avaliação realizada pelos autores mostrou que a raspagem da casca da RB92579 diminui muito o teor de fenóis no caldo dessa cana, podendo-se inferir que grande parte dos fenóis se encontra na casca dos colmos.
Ante a essa observação, e na ausência de informações relacionadas ao tema, conduziu-se o presente trabalho com o objetivo de avaliar os teores de fenóis e de flavonóides no bagaço resultante da prensagem dos colmos industrializáveis e da casca dos colmos de três variedades de cana: RB867515, RB92579 e RB98710. A RB98710 apesar de ser uma variedade recente, tem apresentando, nos vários locais de cultivo, caldo límpido, indicativo de baixos teores de fenóis e de flavonóides e, por este motivo, foi incluída nesse estudo como uma referência.

MATERIAL E MÉTODOS: Os colmos das variedades de cana RB867515, RB92579 e RB98710 foram coletados em lavouras comerciais da Usina Triunfo, localizada no município de Boca da Mata, Alagoas, onde os invernos são chuvosos e os verões secos. As lavouras onde foram coletados os colmos estão em solos de mesma classificação e fertilidade, além de receberem a mesma calagem, gessagem, adubação e tratos culturais.
No mês de fevereiro, quando as canas apresentavam- se muito maduras, foram coletados os colmos industrializáveis. A cana foi cortada rente ao solo, despalhada e despontada. Após a coleta, os colmos foram lavados suavemente em água corrente, com auxílio de uma bucha, para remover apenas terra e impurezas aderidas à casca. A seguir os colmos de cada variedade foram separados em duas amostras. Uma amostra foi descascada e a outra não. Amostras de colmos com casca, colmos sem casca e as cascas dos colmos foram passados em picadeira de forragem, homogeneizados e uma subamostra de 500 g foi submetida à prensagem, de 210 kgf/cm2, por 60 segundos, seguindo procedimento padrão adotado nas usinas e destilarias do Brasil (FERNANDES, 2000). O caldo extraído dessas subamostras foi analisado quanto aos teores de sólidos solúveis, sacarose aparente e fibra. Uma amostra de casca não prensada também foi passada em picadeira de forragem. Subamostras de casca não prensada e do bagaço originário da prensagem das subamostras foram secas em estufa de ventilação forçada, a 45ºC, até massas constantes, finamente moídas e, submetidas à duas extrações etanólicas, de sete dias cada. No extrato hidroalcoólico determinaram-se os teores de fenóis (ANAGNOSTOPOULOU et al., 2006) e de flavonóides (WOISKY & SALATINO, 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das análises dos teores de sólidos solúveis, sacarose aparente, fibra, fenóis e flavonóides estão apresentados na tabela 1. Pela análise desta tabela verifica-se que as maiores diferenças entre as variedades foram quanto aos teores de fenóis, flavonóides e fibra. Os teores médios de sólidos solúveis e de sacarose aparente, próximos a 21,0 e 18, 5% são característicos de cana madura (FERNANDES, 2000) e, semelhantes aos relatados por Aristides et al. (2009) e Oliveira et al. (2010), em estudos conduzidos com a RB867515 e RB92579, em Alagoas.
Nas cascas foram encontrados os maiores teores de fenóis e de flavonóides. A RB92579 foi a variedade que apresentou os maiores teores desses compostos e, a RB98710 os menores. Comparativamente à RB98710, os teores de fenóis na casca da RB9579 e da RB867515 foram, respectivamente, 30 e 80% maiores, com incrementos de 230 e 600 mg/kg de matéria seca.
A prensagem da casca reduziu os teores de fenóis na RB867515 em 53%, mas para a RB92579 esta redução foi de 68%. Por outro lado, a prensagem da casca da RB92579 reduziu os teores de flavonóides somente em 10%. Assim, poder-se-ia especular que os maiores teores de fenóis na casca da RB92579 e maior remoção desse composto pela prensagem devem ser alguns dos fatores que estão contribuindo para que essa variedade tenha caldo escuro e com teor de fenóis próximo a 1.000 mg/L, conforme observado pelos autores deste trabalho, em avaliações realizadas em diversas unidades sucroalcooleiras de Alagoas, do sul da Bahia, do norte do Espírito Santo e do noroeste de Minas Gerais.



CONCLUSÕES: Os maiores teores de fenóis e de flavonóides foram constatados nas cascas da cana;
A RB92579 foi a variedade com maior concentração de fenóis e de flavonóides;
Maior concentração de fenóis nas cascas da RB92579, associada à elevada remoção desses compostos pela prensagem, contribuem para que o caldo dessa variedade seja escuro e com alto teor de fenóis.


AGRADECIMENTOS: CNPq, UFSC e USINA TRIUNFO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ANAGNOSTOPOULOU, M. A. KEFALAS, P.; PAPAGEORGIOU, V. P. ASSIMOPOULOU, A.N. Radical scavenging activity of various extracts and fractions of sweet orange peel (Citrus sinensis L.) Food Chemistry, n.94, p.19-25, 2006.

ARISTIDES, E. V. S.; FERRO, J. H. A.; OLIVEIRA, M. W.; OLIVEIRA, T. B. A.; PAULINO, A. S. Qualidade do caldo de duas variedades de cana adubadas com doses de cobre e manganês. IN: IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica- Belém - PA, 2009. CD ROOM.

FERNANDES, A.C. Cálculos na agroindústria da cana-de-açúcar. STAB - Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil. 2000. 193p.

OLIVEIRA, M. W.; MAGRINI, J. L.; ARISTIDES, E. V. S., SILVA, V. S. G. Produção da cana-de-açúcar influenciada pela aplicação de substâncias húmicas, aminoácidos e extrato de algas marinhas. IN: XII Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente -Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP) SP - 2010. CD ROOM.

WOISKY, R. G.; SALATINO, A. Analysis of propolis: some parameters and procedures for chemical quality control. Journal of Apiculture Research, v.37, p.99-105, 1998.