ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Avaliação da toxicidade aguda e do efeito ansiolítico do óleo essencial das folhas de Citrus sinensis.

AUTORES: MELO, C.H.S. (UFPI) ; CARDOSO, K.M.F. (UFPI) ; CARVALHO, R.B.F. (UFPI) ; FREITAS, R. M. (UFPI) ; FEITOSA, C.M. (UFPI)

RESUMO: A ansiedade é um dos principais distúrbios do sistema nervoso central (SNC) de alta
prevalência. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar, no modelo do teste de
labirinto em cruz elevado (TLCE), um possível efeito ansiolítico das espécies de Citrus
sinesis. Analisou-se durante 30 dias os sinais gerais de toxicidade aguda com o
tratamento nas doses de 50, 100 e 150 mg/kg dos óleos essenciais das folhas de C.
sinensis (OECs), além do rendimento do OECs. Os tratamentos foram realizados oralmente
por gavagem e os resultados comparados com seus respectivos grupos-controle e Diazepam
(DZP). No OECs não foi observado toxicidade aguda, devido à inexistência de mortes nos
grupos quando tratados diariamente, no TLCE o OECs houve a existência de efeito
ansiolítico quando comparados ao grupo DZP.

PALAVRAS CHAVES: efeito ansiolítico, óleo essencial, citrus sinensis.

INTRODUÇÃO: A ansiedade é um dos mais freqüentes distúrbios do Sistema Nervoso Central (SNC) e
estima-se que aproximadamente 27 milhões de americanos são afetados por esta desordem
(DUPONT et al., 1996). Os modelos experimentais utilizando roedores para avaliação da
atividade ansiolítica são diversos e ainda não há um consenso na literatura a
respeito daquele mais específico ou com maior poder preditivo (ZANGROSSI e GRAEFF,
2004). Segundo o pesquisador inglês Richard Lister (1990) um modelo animal ideal
deveria reproduzir todas as características do fenômeno que procura investigar, sendo
desta forma mais uma reprodução do que um modelo.
Para o estudo de ansiedade, selecionamos a espécie Citrus sinensis, que apresenta
atividade sedativa/hipnótica, contrastando com o extrato etanólico das folhas, que
não apresentou esta atividade (CARVALHO-FREITAS, COSTA, 2002). O extrato alcoólico da
casca dos frutos mostrou efeito antiespasmódico (FOSTER et al., 1980). O suco dos
frutos apresentou, in vitro, atividade antimicrobiana (CACERES et al., 1987). A
laranja é amplamente divulgada como digestiva, expectorante, diurética e hipotensora
na medicina tradicional, embora sua eficácia não tenha sido comprovada
cientificamente. Ao chá das folhas se atribui as propriedades sudorífera, antigripal,
carminativa, ansiolítica, calmante e antiespasmódica (LORENZI; MATOS, 2002).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar, no modelo do teste de labirinto em cruz
elevado (TLCE), um possível efeito ansiolítico da espécie de C. sinesis, bem como
durante 30 dias consecutivos de tratamento foram avaliados os sinais gerais de
toxicidade aguda em camundongos adultos após os tratamentos com as doses de 50, 100 e
150 mg/kg do óleo essencial das folhas de C. sinensis (OECs).


MATERIAL E MÉTODOS: O óleo essencial de C. sinensis foi obtido, partindo-se de 3 kg de folhas frescas
trituradas e utilizando-se o sistema de hidrodestilação, em aparelho tipo Clevenger
(Matos et al., 1999) durante o período de quatro horas. O óleo coletado foi
subseqüentemente seco com sulfato de sódio anidro (Na2SO4) e mantido sob refrigeração
até a realização da análise. O rendimento do óleo foi de 0,3%.
O OECs foi emulsionado em Tween 80 0,05% dissolvido em salina 0.9% (veículo), o
controle negativo foi tratado com o veículo, outro grupo foi tratado com diazepam
(DZP; controle positivo) e o tratamento com OECs dividiu-se em três doses diferentes
(50, 100 e 150 mg/kg). Todos os grupos foram tratados durante 30 dias consecutivos
por via oral.
Foram utilizados 50 camundongos machos Swiss adulto com peso variando (25-30 g),
divididos em 5 grupos de 8 animais provenientes do Biotério Central da Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Durante todos os experimentos, os animais foram aclimatados
a 22 ± 2 ºC e mantidos em gaiolas de acrílico de 30 x 30 cm2, com ciclo claro /
escuro alternado de 12 horas, recebendo ração padrão tipo Purina e água ad libitum.
Os resultados que obedeceram a uma distribuição paramétrica foram analisados pela
Análise de Variância (ANOVA) e pelo teste de Student Newman Keuls como post hoc teste
através do programa GraphPad Prism versão 5.00 para Windows, GraphPad Software. Os
dados não paramétricos (percentagens) foram analisados pelo mesmo programa utilizando
o teste do qui-quadrado. As diferenças foram consideradas estatisticamente
significativas a partir de p<0,05.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Após análise no CG/MS foi verificado que os principais constituintes do OECs são
limoneno (20, 14%), citronelol (30,42%), geranial (31,42%).
Durante 30 dias consecutivos de tratamento não foram observados sinais clínicos de
toxicidade e todos os animais sobreviveram ao período de tratamento. Também não foi
verificada nenhuma diferença quanto à toxicidade em função do sexo entre os
camundongos.
Na avaliação da atividade ansiolítica o animal é submetido ao labirinto em cruz
elevado, este equipamento consiste em dois braços abertos e dois braços fechados
perpendiculares e de um labirinto de 45 cm acima do piso (LISTER, 1987). Após 30
minutos do último dia do tratamento por via oral, os camundongos foram colocados no
centro do TLCE e foram observados durante 5 min. Os parâmetros observados foram o
número de entradas nos braços abertos e o tempo de permanência nos braços abertos. Os
parâmetros primeiro e o último foram expressos em porcentagem. O número de entradas
nos braços fechados foi considerado como o índice de atividade locomotora e a
porcentagem do tempo gasto e porcentagem de entradas na braços abertos como o índice
de ansiedade (LISTER, 1987).
No Teste Labirinto em Cruz Elevado (TLCE) o camundongo é posto em uma situação na
qual deve reprimir seu comportamento de exploração e ficar na área escura (protegida)
ou superar o medo do ambiente iluminado para explorá-lo, atividade esta demonstrativa
de redução da ansiedade.
Deste modo, o OECs nas três doses dos tratamentos permaneceu inalterado o tempo de
permanência dos animais no braço aberto comparados ao grupo controle (Figura 1). Por
sua vez, no número de entradas nos braços abertos observou-se um aumento
significativo, sugerindo um possível efeito ansiolítico do OECs quando comparados ao
grupo DZP (Figura 2).






CONCLUSÕES: Em suma, podemos concluir que o principal constituinte do óleo essencial de C. sinensis
é o citronelol e geranial, bem como não foi verificado sinais clínicos de toxicidade,
sugerindo que o uso do óleo essencial pode ser feito com segurança. Nossos resultados
com a espécie C. sinensis indicam que o tratamento com a menor dose do óleo essencial
produz um maior número de entradas e um maior tempo de permanência nos braços abertos
do TLCE. Deste modo, podemos concluir que a atividade farmacológica observada neste
trabalho com o OECs sugeri um possível efeito sobre os transtornos de ansiedade.

AGRADECIMENTOS: Universidade Federal do Piauí - UFPI;



Laboratório de Produtos Naturais e Neuroquímica Experimental - LAPNNEX;





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CACERES, A., GIRON, L.M., ALVARADO, S.R., TORRES, M.F. Screening of antimicrobial activity of plants popularly used in Guatemala for the treatment of dermatomucosal disiases. J Ethnopharmacol v. 20, p. 223-237, 1987.

CARVALHO-FREITAS, M.I.R., COSTA, M. Anxiolytic and sedative effects of extracts and essential oil from Citrus aurantium L. Biol Pharm Bull v. 25, p. 1629-1633, 2002.

DUPONT, R. L.; RICE, D. P.; MILLER, L. S. Economic costs of anxiety disorders.
Anxiety, v.2, p.167-172, 1996.

FOSTER, H.B., NIKLAS, S., LUTZ, S. Antispasmodic effects of some medicinal plants. Planta Med v. 40, p. 309-319, 1980.

GARGANO, A. C., Estudo da atividade ansiolítica e sedativa do óleo essencial das cascas de
frutos de espécies do gênero Citrus /. Botucatu, 2007.

LISTER, R.G. Ethologically-based animal models of anxiety disorders. Pharmacol. Ther., v. 46, p. 321-340, 1990.

LISTER, R.G. The use of a plus-maze to measure anxiety in the mouse. Psycopharmacology v. 29, p. 180-185, 1987.

LORENZI, H.; MATOS, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 544p, 2002.

ZANGROSSI JR., H.; GRAEFF, F.G. Modelos animais. In: GRAEFF, F.G.; HETEM, L.A.B. Transtornos de ansiedade. São Paulo: Atheneu, 2004. p.55-73.