ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: COMPOSTOS FENÓLICOS E POTENCIAL ANTIOXIDANTE DE DIFERENTES EXTRATOS DE FARINHA DE CASCAS DE JABUTICABA

AUTORES: Alves, A.P.C. (UFLA) ; Corrêa, A.D. (UFLA) ; Marques, T.R. (UFLA) ; Ramos, V.O. (UFLA) ; Simão, A.A. (UFLA) ; Lage, F.F. (UFLA)

RESUMO: A jabuticaba é um fruto nativo do Brasil. A casca de jabuticaba representa até 43% do fruto, sendo rica em fibras e minerais, além do alto teor de compostos fenólicos, que são substâncias antioxidantes. No presente trabalho objetivou-se quantificar os compostos fenólicos e o potencial antioxidante de diferentes extratos das farinhas de cascas de jabuticaba. Realizou-se o doseamento de compostos fenólicos usando-se ácido tânico como padrão e a atividade antioxidante foi determinada pelos métodos ABTS e ß-caroteno/ácido linoleico. A partir dos ensaios observou-se que a atividade antioxidante foi maior quanto maior o teor de compostos fenólicos. Este resultado demonstra que para a farinha de casca de jabuticaba a atividade antioxidante está relacionada à concentração de compostos fenólicos.

PALAVRAS CHAVES: casca de jabuticaba; compostos fenólicos; atividade antioxidante

INTRODUÇÃO: O consumo de vegetais tem sido associado a uma dieta saudável. Além do seu potencial nutritivo, estes alimentos contêm diferentes metabólitos, muitos desempenham funções biológicas, com destaque para aqueles com ação antioxidante. Os compostos fenólicos são formados no metabolismo secundário dos vegetais e possuem funções de defesa contra o ataque de pragas. Nos animais tem-se observado que são capazes de reagir com radicais livres, formando radicais estáveis. Esse poder de neutralização de radicais dos compostos fenólicos é devido à sua estrutura química for¬mada por pelo menos um anel aromático com grupamentos hidroxilas (GIADA; MANCINI-FILHO, 2006). Estudos atribuem à presença de compostos fenólicos o aumento do gasto energético, a oxidação de gordura, diminuição de doenças cardiovasculares e redução de aparecimento de câncer (TREVISANATO et al., 2000). Devido à diversificada composição dos extratos vegetais é provável que a ação antioxidante destes seja resultante da ação sinérgica de várias substâncias, pertencentes a diferentes grupos químicos (ARBOS, 2004). O interesse em encontrar antioxidantes naturais para o emprego em produtos alimentícios ou para uso farmacêutico tem aumentado consideravelmente, com o intuito de substituir antioxidantes sintéticos, os quais têm sido restringidos devido ao seu potencial de toxicidade (DEGÁSPARI e WASZCZYNSKYJ, 2004). A jabuticaba é um fruto nativo do Brasil, encontrado em extensa faixa territorial do país. Em sua casca (43% do fruto) são encontrados teores elevados de fibras e minerais, além do alto teor de compostos fenólicos (LIMA et al., 2008). Portanto, o objetivo neste trabalho foi quantificar os compostos fenólicos e o determinar o potencial antioxidante dos diferentes extratos de farinha de cascas de jabuticaba.

MATERIAL E MÉTODOS: Os frutos da jabuticaba, Plinia jaboticaba (Vell.) Berg, da variedade Sabará, foram coletados maduros, lavados em água corrente, pesados, sanitizados, espremidos e as cascas secas em estufa com circulação de ar à temperatura de 45oC. Após secagem foram moídas, e a farinha acondicionada em frasco hermeticamente fechado e protegido da luz à temperatura ambiente até às análises, realizadas em três repetições. Compostos fenólicos totais A extração dos compostos fenólicos da farinha foi realizada com metanol 50% e dosado pelo método de Folin Dennis, utilizando-se ácido tânico como padrão com leituras a 760nm (AOAC, 2005). Antocianinas A extração e quantificação das antocianinas foi feita utilizando-se metodologia desenvolvida por Lees e Francis (1972) com adaptações de Lima et al. (2011). Leituras feitas a 535 nm. Taninos condensados A extração dos taninos foi realizada segundo Agostine-Costa et al. (2003) e a quantificação conforme Broadhurst e Jones, usando como padrão a catequina com leituras a 500 nm (1978). Avaliação da atividade antioxidante Método ABTS A atividade antioxidante (AA) foi determinada através de metodologia proposta por Re et al. (1999), com adaptações feitas por Rufino et al. (2007) nos extratos obtidos de compostos fenólicos, antocianinas e taninos condensados. Foi feita uma curva analítica com trolox, além de teste para comparação com BHT, rutina e quercetina. Método ß-caroteno/ácido linoleico A metodologia utilizada para a AA do ß-caroteno/ácido linoleico foi a desenvolvida por Marco (1968), modificada por Rufino et al. (2007) e realizada nos extratos obtidos de compostos fenólicos, antocianinas e taninos condensados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Tabela 1 são apresentados os teores médios dos compostos fenólicos, antocianinas e taninos condensados da farinha de cascas de jabuticaba. Mediu-se ainda os compostos fenólicos totais pelo método de Folin Dennis nos extratos de antocianinas e taninos e encontrou-se respectivamente, 7,53 ± 0,05 g 100 g-1 MS e 4,47 ± 0,05 g 100 g-1 MS. Como estes teores são superiores aos de antocianinas e taninos, constatou-se que esses outros fenólicos provavelmente influenciam a AA. Alves (2011) também estudando as farinhas de cascas de jabuticaba secas a 45°C encontrou teor de compostos fenólicos de 8,05 g 100 g-1 MS e de antocianinas de 6,46 mg g-1 MS que são teores próximos deste trabalho. Não foi encontrado na literatura teores para taninos condensados. Na Tabela 2 são apresentados para os dois métodos a medida da AA, o extrato de compostos fenólicos se destacou com a maior AA e com a maior % de inibição do sistema ß-caroteno/ácido linoleico. Observou-se ainda que o extrato antôcianico mesmo extraindo maiores teores de fenólicos tem AA semelhante ao de taninos que extraiu aproximadamente 40% menos de fenólicos. Isso provavelmente se deve ao tipo de fenólicos em cada extrato. O extrato de compostos fenólicos apresentou para o método ABTS 44% da AA do padrão BHT, 53% da rutina e apenas 10% da quercetina. Para o método ß-caroteno/ácido linoléico, todos os extratos apresentaram inibição maior que a da rutina e proteção maior que 80% quando comparados ao BHT e a quercetina. Foi observado que a AA ou a porcentagem de inibição decresce com o decréscimo do teor de compostos fenólicos. Para o método ABTS foi encontrada uma correlação positiva com valor de 0,77 , já para o método ß-caroteno/ácido linoleico a correlação % de inibição versus teor de compostos fenólicos foi de 0,97.

Tabela 1

Teores de polifenois (g 100g-1), antocianinas (g 100g-1)e taninos (g 100g-1)em matéria seca, das cascas de jabuticabas

Tabela 2

Atividade antioxidante das cascas de jabuticaba pelos métodos ABTS e ß-caroteno/ácido linoleico e de três padrões

CONCLUSÕES: Conclui-se que para farinha de cascas de jabuticaba, a atividade antioxidante está relacionada à concentração de compostos fenólicos, ou seja, os compostos fenólicos são responsáveis pelo menos por parte da atividade antioxidante do extrato. Assim, a ação contra radicais livres destes extratos deve ser melhor analisadas, principalmente a do extrato de compostos fenólicos, que apresentou a maior atividade antioxidante dentre os extratos analisados.

AGRADECIMENTOS: À FAPEMIG, CNPq, CAPES e a UFLA.

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