ÁREA: Materiais

TÍTULO: Caracterização de biofilmes a base de goma do cajueiro e gelatina

AUTORES: Erliny Maria da Silva Melo, I. (UFPI) ; Maria da Silva Leite, C. (UFPI)

RESUMO: Nos últimos anos biomateriais tem sido desenvolvidos para uso em áreas como a médica e farmacêutica. Neste contexto buscou-se produzir biofilmes com propriedades mecânicas adequadas, boa flexibilidade e aderência, para uso em curativos que auxiliem no tratamento de lesões cutâneas. Para este fim foram produzidos filmes constituídos de goma de caju (Gcaju) e gelatina (Gel) nas proporções, 100/0, 80/20, 60/40, 40/60, 20/80, 0/100, que foram caracterizados por calorimetria exploratória diferencial (DSC) e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR). A curva DSC da Gcaju mostrou um processo de fusão, seguido de cristalização e fusão. Os espectros de FTIR revelaram que as bandas de grupos funcionais comuns à Gcaju e a Gel apresentam nas blendas um aumento de intensidade.

PALAVRAS CHAVES: goma do cajueiro; gelatina; blendas

INTRODUÇÃO: A busca por materiais que propiciem à aceleração nos processos de cicatrização e regeneração cutânea utilizando polímeros naturais requer o estudo de propriedades físico-químicas, mecânicas, que se melhor adéqua a este propósito,principalmente no que se refere ao potencial de aderência, e parâmetros como biocompatibilidade e biodegradabilidade, uma vez que serão aplicados em organismos vivos. A goma do cajueiro (Anacardium occidentale L.) é um exsudato natural que apresenta atividade antimicrobiana, característica essencial para evitar infecções durante o tratamento de feridas (TORQUATO, et. al. 2004). A gelatina é uma matéria-prima abundante, de custo relativamente baixo e de excelentes propriedades filmogênicas e funcionais (MORAES, et. al. 2008). A produção de blendas aplicadas à engenharia tecidual realça o interesse de se substituir os métodos clássicos de tratamento de lesões cirúrgicas que comprometem o pós-operatório, uma vez que os pontos cirúrgicos utilizados para ligar a pele seccionada eliminam parte do tecido, dificultando a capacidade de regeneração, implicando em uma limitação funcional de órgãos. O objetivo deste trabalho foi preparar filmes de GCaju/Gel em diferentes proporções e caracterizá-los por DSC e FTIR.

MATERIAL E MÉTODOS: A coleta da Gcaju foi realizada na cidade de Teresina (PI) sendo que para o isolamento e a purificação seguiu-se o processo publicado por RODRIGUES, et. al. 1993. O procedimento envolve etapas como a separação da goma bruta de impurezas, cascas de árvore e de neutralização de compostos ácidos. Para a primeira etapa, cerca de 20g de goma foram dissolvidas em água destilada, numa razão de 4%, efetuando-se uma filtração, seguida da adição de etanol com o objetivo de provocar a precipitação da goma. Descartou-se o filtrado e lavou-se o precipitado com acetona deixando secar em placa Petri. Para a segunda etapa de purificação usou-se uma solução aquosa de NaCl a 5% para dissolver a goma. Novas etapas de filtração e lavagem com acetona foram realizadas, procedendo-se a secagem. A solução da goma foi submetida a processo de troca iônica para a substituição dos íons K+, Ca2+, Mg2+, Fe3+ pelos íons sódio. A resina de troca iônica utilizada foi a Amberlite IR-120H+. A solução da Gcaju na forma de sal foi liofilizada, obtendo-se um substrato seco. Para a preparação dos biofilmes dissolveu-se a Gcaju e a Gel, isoladamente, em água e então as soluções foram misturadas e deixadas na T = 50 °C para evaporação do solvente. Os filmes das blendas Gcaju/Gel foram produzidos nas proporções, 100/0, 80/20, 60/40, 40/60, 20/80, 0/100 e caracterizados usando a calorimetria exploratória diferencial (DSC) e a espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os filmes produzidos ficaram visualmente homogêneos e transparentes. No FTIR das blendas, observam-se as bandas características de grupos funcionais presentes nos polissacarídeos constituintes da goma de caju e da gelatina, a alteração na proporção promoveu apenas diferenças de intensidade, pois o número de grupos funcionais aumentou igualmente nos filmes o que sugere a boa miscibilidade dos polímeros. O espectro da Gcaju mostra as absorções em 772 cm-1, 2938 cm-1, 3447 cm-1 e 3758 cm-1 características da deformação axial assimétrica do anel na ligação COC da fração glucosídica da goma, de ligação C-H, dos grupos hidroxila devido as pontes de hidrogênio intermoleculares de álcool e de grupos hidroxila livres, respectivamente. Para a Gel observa-se um estiramento –OH em 3400 cm-1, estiramento assimétrico de grupos carboxilatos (COOH) em 1650 cm-1 e estiramento simétrico de grupos carboxilatos (COOH) em 1400 cm-1. A curva DSC para a Gcaju mostra um pico endotérmico largo com mínimo em 100 °C e que deve estar associado à evaporação de moléculas de água. Os picos associados de baixa intensidade que aparecem entre 220 e 250 °C mostram a ocorrência de um processo de fusão, seguido de cristalização e posterior fusão. Este comportamento sugere que durante o aquecimento pode ocorrer uma conversão de uma fase cristalina para outra fase e que funde em temperatura um pouco maioro. A partir de 250 °C ocorre um aumento do fluxo de calor devido a ocorrência de vários processos de decomposição. A gelatina apresenta na curva DSC um pico de evaporação de água, seguido de vários picos exotérmicos de baixa intensidade de diferentes processos de decomposição. Em torno de 372 °C ocorre um pico endotérmicendotérmico largo associado a um pico estreito e fino, que sugere um processo de fusão.

Figura 1

Espectro de infravermelho da goma de cajueiro, gelatina e blendas Gcaju/Gel.

Figura 2

Curvas de DSC para goma de cajueiro, gelatina e blendas Gcaju/Gel.

CONCLUSÕES: Os espectros na região do infravermelho das blendas mostraram as bandas características dos grupos funcionais presentes nos polissacarídeos constituintes da goma de caju e da gelatina, nas bandas comuns aos dois constituintes, observou-se nos filmes Gcaju/Gel um aumento de intensidade, devido ao aumento no número de grupos funcionais. A curva DSC da goma mostra a existência de compostos onde há conversão de uma fase cristalina para outra, e que funde em temperatura um pouco mais elevada.

AGRADECIMENTOS: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), UFPI

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MORAES, I. C.; SILVA, G. G. D.; CARVALHO, R. A.; HABITANTE, A. M. Q. B.; BERGO, P. V. A.; SOBRAL, P. J. A. Influência do grau de hidrólise do poli(vinil álcool) nas propriedades físicas de filmes à base de blendas de gelatina e poli(vinil álcool) plastificados com glicerol. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 28, n. 3, p. 738-745, 2008.
RODRIGUES, l.F.; PAULA, R.C.M.; COSTA, S.M.O. Polímeros: Ciência e Tecnologia, n. 1,31-36, 1993.
TORQUATO, D. S.; FERREIRA M. L.; SÁ, G. C.; BRITO, E. S.; PINTO, G. A. S; AZEVEDO, E. H. F. Evaluation of antimicrobial activity of cashew tree gum. World J. Microb. & Biotec. v. 20, p. 505–507, 2004.