ÁREA: Materiais

TÍTULO: Programa Computacional como Ferramenta para Análise Química do Gesso

AUTORES: Vasconcelos, R.S. (UNICAP) ; Henauth, R.C.S. (UNICAP) ; Santos, V.A. (UNICAP)

RESUMO: Foi desenvolvido um programa em linguagem Matlab para substituir a realização de exaustivo número de análises químicas de um gesso obtido por desidratação térmica do minério gipsita. A composição percentual de um gesso contendo apenas semi-hidrato de sulfato de cálcio (gesso) é de 6,21 % de água combinada, 38,62 % de óxido de cálcio e 55,17 % de anidrido sulfúrico. Contudo, deve-se levar em conta a ocorrência de teores de certas impurezas existentes nos minérios de gipsita, tais como o MgCO3 e CaCO3. O programa desenvolvido correlaciona os teores de impurezas e de CaSO4, permitindo o cálculo dos teores simultâneos de di-hidrato, semi-hidrato e anidrita, fornecendo dados necessários ao cálculo do teor de aditivos e anidrita II.

PALAVRAS CHAVES: Gesso; Análise Química; Matlab

INTRODUÇÃO: Teoricamente, se as condições de temperatura para a obtenção do gesso (CaSO4 ⋅ 0,5H2O) por desidratação térmica do minério de gipsita fossem homogêneas, em todo o meio reacional, toda a gipsita passaria a semi-hidrato. Na prática entretanto, essas condições são heterogêneas, podendo ocorrer pontos dentro do reator com temperaturas acima ou abaixo daquela desejada (PERES; BENACHOUR; SANTOS, 2008; BALTAR; BASTOS; BORGES, 2004). Quando em algum ponto do reator a temperatura não atinge o valor adequado, na massa do produto final fica retida uma certa quantidade de di-hidrato. Por outro lado, se houver pontos com temperaturas superiores, parte do material é transformado em anidrita. Nas massas finais dos gessos produzidos por desidratação térmica da gipsita, justifica-se, então, a existência de misturas compostas apenas de anidrita e semi-hidrato ou, di-hidrato e semi-hidrato ou, simplesmente semi-hidrato. Os métodos de análises de gesso apresentados na literatura para determinação dos teores de semi-hidrato, anidrita e di-hidrato em gessos, podem ser de natureza física ou química (CASPAR, 1996; NINAN, 1989; WENDLANDT, 1986). Os primeiros constam basicamente em submeter as amostras desse material a ambientes úmidos, nos quais as amostras dificilmente adquirem os graus de hidratação desejados. As pequenas variações de composição do minério de gipsita permitem que se possa fazer previsões com cerca de 1,5 %, sobre os teores de componentes em um minério de gipsita, em regiões pertencentes a uma mesma mina (SANTOS, 1996). Dessa forma o presente trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de um programa computacional para reduzir as dificuldades de se analisar grandes números de amostras de gesso, com base na composição média da gipsita em uma lavra.

MATERIAL E MÉTODOS: Preliminarmente, três princípios básicos devem ser observados para auxiliar na interpretação dos resultados fornecidos pela análise de um gesso: i) Os carbonatos de cálcio e magnésio não se decompõem durante a desidratação térmica para obtenção do semi-hidrato, pois a temperatura alcançada para esta reação não é suficiente para as decomposições desses carbonatos; ii) Todo MgO é proveniente do MgCO3 e; iii) Todo CO2 origina-se das decomposições do CaCO3 e do MgCO3. Para se chegar às expressões de cálculo a serem utilizadas no programa computacional proposto neste trabalho, as seguintes considerações foram necessárias: - O MgCO3 dissocia-se segundo a estequiometria: MgCO3(s) → CO2(g) + MgO(s) - O CO2 origina-se da decomposição do CaCO3 a partir de reação: CaCO3(s) → CO2(g) + CaO(s) - Para se chegar às expressões de cálculo dos teores percentuais de anidrita, semi-hidrato e di-hidrato, faz-se necessário o cálculo do CaO disponível para formação do CaSO4, ou seja, da quantidade de CaO que excede àquela que compõe o CaCO3, combinando-se com o SO3; - O CaO disponível para formação do CaSO4 pode estar ainda em excesso com relação ao SO3, e se não houver CaO disponível nem SO3 em excesso, isso significa que estão totalmente combinados entre si; - O SO3 combina-se mol a mol com o CaO disponível e para que não existam CaO ou SO3 em excesso, a relação entre os percentuais desses dois componentes deve ser igual a 0,7; - A correlação entre o SO3 e o CaO disponível, qualquer dos dois em excesso, deve então ser analisada para valores maiores ou menores que 0,7 e; - Para finalizar, cada possibilidade para valores previstos pelas duas últimas suposições, devem ser analisados os caso de existência de semi-hidrato apenas, semi-hidrato e di-hidrato e semi-hidrato e anidrita.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os dados de entrada para testes do programa computacional foram obtidos a partir de uma análise química de uma amostra de gipsita e são apresentados na tabela da Figura 1. O minério utilizado apresentou pureza da ordem de 95 %. O gráfico da Figura 2 apresenta valores para teores de semi-hidrato e di-hidrato para diferentes níveis de água de hidratação no gesso, obtido com auxílio de uma balança térmica que usa a técnica de infravermelho, produzida pela GEHAKA, modelo IV 2000. O programa forneceu dados sobre os percentuais de anidrita, semi-hidrato e di- hidrato com a variação da água de hidratação no gesso produzido. Esses valores de água variaram de 10 % a 3 %, uma vez que o valor máximo encontrado na gipsita era de 19,1 %, conforme tabela da Figura 1. A medida em que a água de hidratação vai sendo reduzida, em torno de 10 % o teor de di-hidrato é de 27,04 % e o de anidrita encontra-se ainda nulo. Ao atingir cerca de 6 % o valor de anidrita já será de 1,46 %, enquanto o teor de di-hidrato reduz-se a zero. portanto, o teor de semi-hidrato passa por um valor máximo entre 6 % e 7 % para a água de hidratação no gesso. Juntamente com esses dados o programa pode ainda fornecer valores de excesso de CaO ou SO3, o que pode caracterizar o tipo de gesso formado quanto à interação com o tipo de tinta utilizada na pintura sobre esse gesso.

Dados da análise química da gipsita utilizada na produção de gesso

Dados para a entrada do programa computacional

Teores de anidrita di-hidrato e semi-hidrato no gesso analisado

Resultados da simulação

CONCLUSÕES: O método de análise desenvolvido tem como base as estimativas dos teores percentuais de semi-hidrato, di-hidrato, anidrita e excesso de anidrido sulfúrico e óxido de cálcio. Apresenta-se como uma opção vantajosa, porque foi elaborado para a realização de análises com grandes quantidades de amostras e considerável redução no exaustivo número das mesmas, requeridas pelos métodos convencionais. O método proposto substitui as longas e dispendiosas análises de laboratório necessitadas normalmente para todas as amostras.

AGRADECIMENTOS: Os autores são gratos a Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP pela oportunidade de participação no 52º Congresso Brasileiro de Química.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BALTAR, C. A. M; BASTOS, F. F.; BORGES, L. E. P. Variedades Mineralógicas e Processos Utilizados na Produção dos Diferentes Tipos de Gesso. In.: Encontro nacional de tratamento de minérios e metalurgia extrativa. Anais: Florianópolis, 2004. p.329.

CASPAR, J.; DANY, C.; AMATHIEU, L.; REINAUT, P.; FANTOZZI, G. Influence of the Microstructure of set Plaster on its Mechanical Properties. Versailles: Euro gypsum – XXI Congress, 1996.

NINAN, K. N., Kinetics of solid state-thermal decomposition reactions, Journal of Thermal Analysis, 35, 1267-1278, 1989.

PERES, L; BENACHOUR, M.; SANTOS, V. A. O GESSO: Produção e Utilização na Construção Civil. Recife: SEBRAE, 2008.

SANTOS, V. A., Análise cinética da reação de desidratação térmica da gipsita na obtenção do gesso beta. Tese de Doutorado. Departamento de Engenharia de Sistemas Químicos e Informática. Universidade Estadual de Campinas. Campinas: 1996. 170 p.

WENDLANDT, W. W., Thermal Methods of Analysis, 3rd ed., N. York: J. Wiley, 1986.