ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: ESTUDO ECOTOXICOLÓGICO DO HIDROLATO DE Aniba canelilla (H.B.K) Mez EM Colossoma macropomum (CUVIER, 1818)

AUTORES: Reis, D.C. (UEA) ; Silva, G.F. (UEA/UFAM) ; Barata, L.E.S. (UNICAMP/UFOPA) ; Albuquerque, P.M. (UEA)

RESUMO: Toxicologia é o estudo da interação de xenobióticos em um organismo, que pode ser analisado pelas alterações das variáveis sanguíneas em peixes como forma de bioindicadores de estresses que geralmente são acompanhadas por alterações de hiperglicemia, hematócrito e concentração da hemoglobina. O experimento foi realizado com tambaquis juvenis, em três grupos distintos, sendo um grupo exposto ao resíduo líquido da hidrodestilação de Aniba canelilla. As características físico-químicas foram avaliadas diariamente e ao final de exposição foram obtidas as amostras sanguíneas para as análises hematológicas. Verificou-se que não houve sensibilidade e estresse dos bioindicadores em exposição a 1,0% de hidrolato.

PALAVRAS CHAVES: Aniba canelilla; hidrolato; bioindicadores

INTRODUÇÃO: A planta Aniba canelilla (preciosa) é utilizada na indústria para a extração de seu óleo essencial, além de ser empregada na medicina popular. O componente majoritário do óleo essencial é o 1-nitro-2-feniletano, uma molécula rara em produtos naturais. A obtenção de óleos essenciais da preciosa, sendo nativa da região Amazônica, é provida pelo método da hidrodestilação, do qual se obtém o óleo essencial como produto e o hidrolato como resíduo líquido (LUPE, 2007). Este subproduto vem sendo liberado diretamente nos rios sem qualquer tratamento. Com tal contaminação, ensaios ecotoxicológicos se fazem necessários, mesmo que tal substância seja oriunda de produtos naturais. Ensaios utilizando bioindicadores são considerados excelentes ferramentas no monitoramento ambiental aquático (BRANDÃO et al., 2009). Atualmente, um bioindicador bastante utilizado como forma de mensuração das respostas biológicas por pesquisadores é o tambaqui (Colossoma macropomum), por ser considerado de fácil adaptação e aceitação de alimento artificial (MENDONÇA, 2009). Neste presente trabalho utilizou-se o hidrolato diluído em dimetilsulfóxido (DMSO) devido ao seu excelente poder de diluição. Este solvente é frequentemente utilizado como substância auxiliar em testes de toxicidade em organismos aquáticos (MACHOVA et al., 2009). O principal objetivo das pesquisas ecotoxicológicas é verificar a contaminação dos ecossistemas pela influência antropogênica, entre outras, por substâncias químicas, realizando a ligação entre a toxicologia humana (MAFFAZZIOLI et al, 2011). O objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto ambiental aquático por lançamento de resíduo da hidrodestilação diretamente nos rios.

MATERIAL E MÉTODOS: Os peixes foram aclimatados em tanques de 1000 L com aeração costante e sistema de filtração mecânica, sendo renovada a água em 10% diariamente. Os tambaquis foram alimentados duas as vezes ao dia até o sanciamento dos mesmos com ração comercial extrusada, sendo suspensa por 48 h antes e durante o experimento. Após a aclimatação, três grupos de 6 peixes cada foram separados e numerados em câmaras individuais com capacidade de 4 L. Foi realizada a avaliação de toxidade aguda durante 96 h com aeração constante e sem renovação das concentrações. As características fisico-químicas foram medidas diariamente (pH, temperatura e oxigênio dissolvido). Após o período de 96 h os animais foram anestesiados com mentol e coletou-se o sangue, tranferindo-o para tubos enppendorf contendo EDTA. O sangue coletado foi utilizado em diferentes métodos de análise hematológica. A concentração de hemoglobina (Hb) foi verificada pelo método cianomethohemoglobina (ROWAN, 1996), e consistiu em diluir 10 µL de sangue em 2 mL da solução Drabkin. Após agitação em vortex e um tempo de 20 min. de hemólise, determinou-se a absorbância em 540 nm. A concentração de Hb foi determinada pela fórmula: Hb (g/dL) = ABS (540nm) x 0,146 x diluição da amostra. A concentração de glicose sanguínea foi quantificada pelo método eletroquímico, ultilizando um medidor eletrônico, introduzindo apenas uma gota em tiras-teste obtendo-se o resultado em mg/dL. A porcentagem de hematócrito foi avaliada pela técnica do microhematócrito (PEON et al., 2008), onde as amostras foram colocadas em tubos capilares, fechados com massa e centrifugados a 12.000 rpm, durante 10 min. A leitura de sedimentação (%) foi feita em um cartão padronizado. Os dados obtidos foram avaliados e submetidos ao teste da ANOVA seguida de teste de Tukey.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A qualidade da água apresentou as seguintes características: O dissolvido = 6,77 ± 0,34 mg/L, temperatura de 26,51 ± 0,14°C e pH de 7,11 ± 0,21, não mostrando diferença entre os grupos. Os resultados da biometria estão na Tabela 1. Na Tabela 2 são apresentados os dados hematológicos, onde observa-se que houve um aumento significativo do parâmetro hematócrito entre o grupo controle e os grupos controle-DMSO e tratamento. Entretanto, não houve diferença entre os dois, demonstrando que o grande causador no aumento de número de hematócrito foi a solução de DMSO, mesmo sendo este solvente menos tóxico do que outros membros desta classe (MACHOVA et al., 2009). O mesmo observou-se para a análise de hemoglobina, mostrando diferença significativa entres os grupos controle e tratamento, e sem diferença significativa entre os grupos controle-DMSO e tratamento. Para o nível de glicose não constatou-se diferença significativa, mesmo notando-se um aumento relativo na sua concentração. Com estes resultados pode-se afirmar apenas o efeito deletério do DMSO a 0,025% (v/v) e não a toxidade do hidrolato de A. canelilla a 1,0%. O aumento na concentração de hemoglobina e de hematócrito durante a resposta ao estímulo estressante deve-se ao aumento do consumo de oxigênio. Durante o estresse, o aumento da hemoglobina sugere maior capacidade de transportar oxigênio pelo sangue, na tentativa de suprir o aumento da demanda energética ocasionada pela hipoxia (NIKINMAA et al., 1983; GONÇALVEZ et al., 2009; MARTINEZ et al., 2004). Concentração e tempo de exposição estão diretamente relacionados, pois para qualquer produto o contato com o sistema biológico pode não produzir um efeito adverso se a concentração do produto ou o tempo de contato for insuficiente (FONSECA, 1991).









CONCLUSÕES: De acordo com os resutados, verificou-se um aumento significativo para as variáveis sanguíneas para o grupo tratamento (hidrolato+DMSO). Entretanto, as causas das reações metabólicas foram atribuídas à solução de DMSO. Mesmo que os primeiros sinais bioquímicos de intoxicação precedem o sinal de estresse para o parâmetro glicose, os tambaquis não se mostraram sensíveis na avaliação da toxidade por este parâmetro. Mesmo com uma concentração considerada alta, é necessário que se realize estudos com quantidades acima do utilizado no trabalho para melhor dedução da avaliação toxica do hidrolato.

AGRADECIMENTOS: Pibic/CNPQ/Fapeam/UEA, pela bolsa, financiamento e espaço concedido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRANDÃO, V. M.; OLIVEIRA, C. P. F.; SILVA, M. N. P.; FIGUEIREDO, R. O.; DOMINGOS, F. X. V.; VAL, V. M. F. A., 2009. Atividade de enzima glutationa s-transferase como Biomarcador exposição ao petróleo em peixes Amazônicos. 61ª Reunião Anual da SBPC Amazônia: Ciência e Cultura, UFAM, Manaus, AM.

FONSECA, A. L., 1991. A Biologia da Espécie Daphnia laevis, Ceriodaphnia dubia silvestre (Cladocera, Crustacea) e Poecilia reticulata (Pisces, Poecilidae) e o Comportamento destes em Testes de Toxicidade Aquática com Efluentes Industriais. USP, 210p. São Carlos.

GONÇALVEZ, A.; PAIVA, M. J. T. R.; VAL, A. L., 2009. Hematologia e macrófagos policariontes em Colossoma macropomum, mantidos em duas densidades de estocagem, alimentados com dieta contendo probiótico e espirulina. 65f. Tese (doutorado) – Centro de Aquacultura, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP.

LUPE, F. A. C. 2007 Estudo da composição química de óleos essenciais de plantas aromáticas da Amazônia. 120 f. Tese de em Mestrado – Instituto de química, Universidade Estadual de Campinas, SP.

MACHOVA, J.; PROKES, M.; KROUPOVÁ, H.; SVOBODOVÁ, Z.; MÁCOVÁ, S; DOLEZELOVÁ P.; VELÍSSEK, J., 2009. Early Ontogeny, Growth and Mortality of Common Carp (Cyprinus carpio) at Low Concentrations of Dimethyl Sulfoxide, Actavet. Brno.

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NIKINMAA, M.; SOVIO. A.; NAKARI. T. e LINDGREN. S. 1983. Handling stress in brown trout (Salmo truta): physiological responses to transport in fresh water. And recovery in natural brackish water. Aquaculture. 34: 93-99.

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