ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Bagaço de caju como precursor na síntese de carbono ativado para purificação de efluentes industriais

AUTORES: de Carvalho Costa, A.E. (IFRN) ; dos Santos Melquiades, F. (IFRN) ; Vieira de Freitas, G.V. (IFRN) ; Lopes da Silva, M. (IFRN) ; Santos Santiago, M. (UFC) ; Pereira Bezerra, D. (IFRN)

RESUMO: A casca da castanha de caju (CCC) é um resíduo da atividade agroindustrial do nordeste do Brasil, sendo um problema ambiental na região. Seu despejo em aterros sanitários ou incineração (como fonte combustível) não é o recomendável pelo alto volume de produção. Dessa forma, este projeto visa à síntese de carbono ativado a partir deste resíduo como forma de agregar valor. Para tanto será realizado ativação química com ácido e carbonização do material carbônico e sua posterior caracterização. Análises de adsorção de solução de corantes e metais pesados foram realizadas como forma de indicação das capacidades de adsorção do carbono ativado. Os adsorventes apontaram uma melhor aplicação no tratamento de recursos hídricos contaminados com corantes orgânicos.

PALAVRAS CHAVES: adsorção; carbono ativado; caju

INTRODUÇÃO: O caju é um pseudofruto nativo do Brasil com produção nacional de mais de 3 milhões de toneladas anuais (FAO, 2006). Deste fruto resultam diversos produtos, destacando o suco industrial e castanha de caju. Suas produções geram uma grande quantidade de resíduo e tem gerado problemas em sua destinação. Os principais destinos deste resíduo agroindustrial são o aterro sanitário ou a incineração (como fonte combustível). Esta destinação resulta em um desperdício de material que pode ser utilizado como matéria-prima para outros processos, por exemplo a produção de carbono ativado. A utilização deste resíduo como fonte de matéria-prima para produção de carbono ativado resultará em material de alto valor agregado com propriedades adequadas para sua utilização na separação/purificação de efluentes industriais contaminados com compostos orgânicos. Este adsorvente, carbono ativado, possui importância particular devido às suas estruturas químicas, características físico-químicas, estabilidade química, alta reatividade e seletividade. O estudo tem como objetivo estudar a obtenção de carbono ativado tendo como matéria-prima os rejeitos da agroindústria do caju, com aplicação industrial/ambiental. A utilização destas fontes naturais e de rejeitos da indústria regional é extremamente interessante para a produção destes adsorventes, visto a abundância de diferentes materiais como bagaço de caju na região nordeste, especialmente no alto oeste potiguar do estado do Rio Grande do Norte.

MATERIAL E MÉTODOS: Na síntese de carvões ativados seguira a metodologia sugerida na literatura (Rios et al., 2009), o precursor (bagaço do caju) é inicialmente triturada e peneirada. Os processos de ativação/modificação química são realizados utilizando ácido fosfórico como agente ativante (concentração 10% v/v). A relação utilizada nesse estudo será de 1:2 (Molina-Sabio et al., 2003). Durante este processo, o material é carbonizado em um forno, sob uma taxa de aquecimento de 1 oC/min a uma temperatura de 450 oC durante 2 horas. Passado este período, o material foi lavado com água destilada até se obter um pH próximo de 6. Esta lavagem garante a remoção quase total de ácido fosfórico, já que o mesmo é solúvel em água. O material é então retornado ao forno para a última fase, em que será secado a 100 oC sob uma velocidade de aquecimento de 1 oC/min durante 2 horas. A caracterização foi realizada com o intuito de selecionar os materiais indicados para determinada aplicação. As propriedades de porosidade e acidez superficial foram obtidos por análises do índice de azul de metileno (similar ao índice de iodo) e pH em potencial de carga zero. Foram construídas curvas de calibração utilizando espectrofotômetro (para corantes) e condutivímetro (para metais) a partir de soluções padronizadas. Foram realizados ensaios de adsorção em sistema de batelada utilizando soluções com diferentes concentrações de corantes e metais. Foram imersos 0,5g de carbono ativado em 50 ml de solução 1 g/l. Foram analisados os corantes: azul de metileno e azul de bromotimol e as soluções dos metais chumbo e cádmio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As análises de caracterização da superfície do carbono ativado sintético resultaram em uma acidez superficial de pH (potencial de carga zero) com valor entre 2,0 e 3,0. A superfície bastante ácida é reflexo do processo de ativação química utilizado na síntese (ácido fosfórico). Mesmo com a lavagem excessiva do material adsorvente, sua superfície continuou com bastantes grupamentos ácidos. Os ensaios de adsorção em corantes e metais para o carbono ativado sintético estão apresentados na tabela 1. Dos ensaios realizados foram observados valores de capacidade de adsorção para o azul de metileno (massa molar de 319,85 u), azul de bromotimol (massa molar de 624,35 u), cloreto de chumbo II (massa molar de 278,1 u) e cloreto de cadmio II (massa molar de 112,4 u). Os resultados evidenciaram uma afinidade do carbono ativado pelos corantes orgânicos e uma menor interação entre os grupos de cátions metálicos (chumbo e cádmio). Contudo o corante azul de metileno apresentou uma afinidade maior com o adsorvente, isso se deve ao tamanho desta molécula que é compatível com o diâmetro do poro do carbono ativado. Entretanto, o azul de bromotimol, por seu uma molécula muito maior em peso e tamanho, não apresentou bons resultados de adsorção.

Tabela 1

Resultado dos testes de adsorção em corantes e metais.

CONCLUSÕES: O estudo realizou a síntese de carbono ativado a partir do bagaço do caju e apresentou uma maior interação adsortiva por corantes orgânicos em detrimento aos cátions metálicos estudados. Também foi observada uma afinidade do carbono ativado pelo corante azul de metileno provavelmente devido seu tamanho molecular, ideal para adsorção em materiais mesoporosos.

AGRADECIMENTOS: Os autores deste estudo agradecem ao CNPq e ao IFRN pelas bolsas de iniciação científica concedida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Rios, R.B., Silva, F.W.M., Torres, A.E.B., Azevedo, D.C.S., Cavalcante, C.L. Asorption of methane in activated carbons obtained from coconut shells using H3PO4 chemical activation. Adsorption, 15, 271-277, 2009.
Rouquerol, F., Rouquerol, J., Sing, K. Adsorption by Powders & Porous Solids. San Diego: Academic Press, 1999.
Ruthven, D.M. Principles of Adsortion and Adsortion Properties. New York: John Wiley & Sons, 1984.