ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Adsorção de Azul de Metileno utilizando fibras de bagaço de cana de açúcar modificadas quimicamente.

AUTORES: da Silva, M. (UFU) ; da Silva, L. (UFU) ; Cunha, R. (UFU) ; Ruggiero, R. (UFU)

RESUMO: Neste trabalho, fibras de bagaço de cana de açúcar (FB) foram modificadas quimicamente por uma reação superficial de eterificação (FBC) e posterior complexação com o íon Fe3+, o material obtido (FBC-Fe), foi caracterizado por Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR). A FBC-Fe foi aplicada como agente adsorvente do corante Azul de Metileno. Utilizando como modelos a isoterma de Langmuir e a de Freundlich obteve-se um valor de adsorção máxima de 13,54 mg/g de Azul de metileno por grama de CMC-Fe. Estes resultados confirmam uma possível aplicação da FBE-Fe como agente adsorvente, sendo este um material de baixo custo e de fácil preparação.

PALAVRAS CHAVES: bagaço; corante; adsorção

INTRODUÇÃO: Efluentes das indústrias de papel, têxtil, plásticos, couro, alimentos e outras indústrias contêm corantes ou pigmentos usados para colorir o seu produto final. A presença destes poluentes na água impede a penetração da luz e reduz a fotossíntese. Além disso, alguns corantes são tóxicos, mutagênicos e carcinogênicos (CHEN et al., 2003). Os métodos mais comumente utilizados para a remoção de corantes são a coagulação e floculação (GONG et al., 2005), precipitação, oxidação química e biológica e adsorção em carvão ativado (VADIVELAN et al., 2005). Estas tecnologias são eficazes e econômicas somente para concentrações elevadas de corante. Assim, há um crescente interesse na utilização de materiais de baixo custo disponíveis para a adsorção de corantes. Na adsorção de azul de metileno (AM) têm sido estudados adsorventes como: casca de amendoim (GONG et al., 2005), casca de arroz , raízes de aguapé (LOW et al., 1995) etc. Neste trabalho foi estudado a capacidade adsortiva de fibras de bagaço de cana de açúcar, comumente descartada das indústrias sucro-alcooleiras. Após uma reação superficial de eterificação e posterior complexação com o íon Fe 3+, isotermas de adsorção foram construídas utilizando os modelos propostos por Langmuir e Freundlich para obter os parâmetros relacionados a adsorção de AM por fibras de bagaço de cana de açúcar modificadas quimicamente.

MATERIAL E MÉTODOS: As FB foram obtidas de uma indústria sucroalcooleira localizada no estado de Minas Gerais (Brasil). As FB foram extraídas em soxhlet com uma mistura de ciclohexano/etanol 50/50% por 48 horas e então posteriormente com água por 24 horas com o intuito de se eliminar impurezas e extrativos das FB. A eterificação superficial e a posterior reação com Fe3+ foi realizada segundo (CARVALHO et al., 2011). Os estudos de adsorção para a avaliação da FBC-Fe como adsorvente para a remoção do corante AM a partir de solução aquosa foi feito usando o método de batelada para o estudo em questão. Para este experimento, um valor fixo do adsorvente (20mg) foi colocado em frascos de 50 mL cilíndricos de poliestireno alta densidade (117 milímetros de altura e 30 mm de diâmetro)contendo25 mL da solução de corante (0,2-3,5mg.dm-3, pH=2,00) , o qual foram agitados durante 24 horas a 25°C. Em seguida com o objetivo de separar os adsorventes a partir das soluções aquosas, os frascos foram centrifugados a 4000 rpm durante 10 minutos utilizando uma centrífuga e alíquotas de 10mL do sobrenadante foram adequadamente diluídas com água. As concentrações finais do corante que permaneceram na solução foram determinados por espectrofotometria visível usando um espectrofotômetro UV-PC 2501 Shimadzu onde a absorbância do AM restante em solução foi medido a 668 nm. Uma curva de calibração foi construída (y= 0,0003 + 0,2817.x, R2 = 0,9984) utilizando-se AM padrão para sua quantificação após o processo de adsorção. As isotermas foram construídas segundo os modelos de Langmuir e Freundlich.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O FTIR dasFB, FBC, FBC-Fe e as isotermas de adsorção segundo o modelo de Langmuir e Freundlich, estão representados na figura 1 a seguir: A eterificação na superfície do bagaço levou a modificações de importantes bandas no espectro de FTIR ( figura 1(a)). Na região do estiramento da carbonila, as bandas acima de 1600 cm-1 desapareceram . Simultaneamente, as bandas em 1508 cm-1, 1375 cm-1 e 1255 cm-1 também desapareceram nas FB. Este comportamento pode ser atribuído ao processo de deslignificação que ocorre durante a eterificação das FB em um meio contendo base forte, conduzindo à eliminação dos fragmentos de lignina mais lábeis, além do que podem ser eliminados alguns fragmentos do complexo lignina-polissacarídeos na região de fibra em que reside a maior parte da hemicelulose.A imobilização dos íons ferro nas fibras é confirmada pelo deslocamento da banda em 1635 cm-1. Este deslocamento foi observado da FBC por volta de 1635 cm-1 para cerca de 1600 cm-1 para a FBC-Fe. Pode-se supor que a adsorção na superfície da FBC-Fe ocorre no íon carboxilato inserido através da reação de eterificação, o que aumenta a conjugação em ambos os sítios: a celulose e a lignina. As isotermas estão repesentadas na figura 1 pelas letras (b) e (c). Na tabela 1, observa-se um valor de Qmáx de 13,54 mg de AM adsorvido por grama de FBC-Fe utilizada, este valor se mostra relevante em aplicações deste material como adsorvente, em comparação com resultados obtidos por (Batzias et al., 2007) na qual o valor de Qmáx encontrado foi de 9,99 mg de AM adsorvido por grama de cloreto de sódio utilizado. O valor de n=1,15 calculado na equação de Freundlich demonstra a heterogeneidade da superfície do material adsorvente.

Figura1.

O FTIR dasFB, FBC, FBC-Fe(A) e as isotermas de adsorção de Langmuir e Freundlich(B) e (C).

Tabela 1.

Parâmetros para a adsorção de AM sobre a FBC-Fe utilizando os modelos de isoterma de Langmuir e Freundlich.

CONCLUSÕES: Tendo em vista o valor da monocamada Qmáx, tudo indica que a FBC após ser dopada com o íon ferro no seu estado de oxidação (III) possui características de um material com excelentes propriedades para captura de corantes como o AM, constituindo um material com perspectivas de ser usado como uma alternativa para a adsorção de AM em leitos de águas.

AGRADECIMENTOS: À FAPEMIG, à UFU e à CAPES.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: GONG R., LI M., YANG C., SUN Y., CHEN J.2005. Removal of cationic dyes from aqueous solution by adsorption on peanut hull, J. Hazard. Mater. B121 :247–250.
BATZIAS F.A., SIDIRAS D.K. 2007. Simulation of methylene blue adsorption by salts-treated beech sawdust in batch and fixed-bed systems. Journal of Hazardous Materials 149:8–17.
BARTON S.S. 1987.The adsorption of methylene blue by active carbon. Carbon. 25:343–350.
CARVALHO W.S., MARTINS D., GOMES F. R., LEITE I. R., DA SILVA L. G., RICHTER E., RUGGIERO R. 2011. Phosphate adsorption on chemically modified sugarcane bagasse fibres. Biomass and Bioenergy. 35(9): 3913-3919.
CHEN K.-C., WUA J.-Y., HUANG C.-C., LIANG Y.-M., HWANG S.-C.J. 2003. Decolorization of azo dye using PVA-immobilized microorganisms. J. Biotechnol. 101: 241–252.
LOW K.S., LEE C.K., TAN K.K. 1995. Biosorption of basic dyes bywater Hyacinth roots, Biores. Technol. 52: 79–83.
VADIVELAN V., KUMAR K.V. 2005. Equilibrium, kinetics, mechanism, and process design for the sorption of methylene blue onto rice husk. J. Colloid Interface Sci. 286 :90–100.