ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: ANÁLISE DOS EXTRATOS HIDROALCOÓLICOS DE ESPÉCIES AMAZÔNICAS: MADEIRAS COM POTENCIAL PARA ARMAZENAMENTO DE BEBIDAS DESTILADAS

AUTORES: Castro, J.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; Nunes, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; Arantes, A.C.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS) ; Bianchi, M.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS)

RESUMO: O processo de armazenamento de bebidas destiladas em barris de madeira é uma prática que visa a melhoria das características sensoriais da bebida tais como cor, aroma e sabor. O objetivo deste trabalho foi identificar as principais substâncias provenientes da interação química entre a bebida e duas espécies de madeiras amazônicas (termotratadas ou não) para indicar o potencial dessas para o armazenamento de bebida destilada. A análise dos dados cromatográficos dos extratos pela PCA indicou que houve diferenças significativas entre os extratos das madeiras termotratadas e não termotratadas com relação à coloração, quantidade e número de compostos. O siringaldeído, encontrado nos extratos das duas madeiras, pode indicar a utilização dessas espécies para o armazenamento de bebidas destiladas.

PALAVRAS CHAVES: Espécies Amazônicas; Cachaça; Termotratamento

INTRODUÇÃO: O Brasil possui uma produção de aproximadamente 1,5 bilhões de litros por ano de bebida destilada de cana-de-açúcar, demonstrando a importância deste produto para a economia nacional (ALCARDE; SOUZA; BELLUCO, 2010). A cachaça pode ser comercializada após a destilação ou passar por um período de armazenamento em barris de madeira, antes de ser engarrafada para a comercialização.Atualmente a madeira mais utilizada para o envelhecimento de bebida destilada é o carvalho (Quercus sp.). Depois do carvalho, no Brasil, a cerejeira (Amburana cearensis) e o bálsamo (Myroxylon peruiferum) são as espécies mais utilizadas para o armazenamento de bebida destilada. O Brasil possui uma grande diversidade florestal, principalmente no Norte do País, na Amazônia. Essa região abriga aproximadamente 2,5 mil espécies de árvores, cujas madeiras se diferenciam quanto à sua estrutura anatômica e propriedades tecnológicas (PAULA; ALVES, 1997). Porém, mesmo com todo esse potencial, limita-se à utilização de pouco mais de duas espécies nativas e outras exóticas para o armazenamento de bebidas. A possibilidade de produção de barris para envelhecimento de bebidas, produzidos com madeiras da Amazônia, pode caracterizar um novo marco para a industrialização de certas espécies e uma nova fonte de matéria-prima para a confecção de barris, além da produção de bebidas diferenciadas. Com isso o objetivo geral deste trabalho foi identificar as principais substâncias provenientes da interação química entre a bebida (solução etanol/água) e a madeira de 2 espécies amazônicas(Jatobá e Cumarurana), para indicar o potencial dessas espécies para armazenamento de bebida destilada. Especificamente objetivou-se verificar o efeito do termotratamento da madeira e tempo de armazenamento da bebida.

MATERIAL E MÉTODOS: As espécies estudadas foram: cumarurana [Dipteryx polyphylla (Huber) Ducke]; e jatobá (Hymenaea courbaril L.). Foram confeccionados corpos de prova (CP) com dimensões nominais de 2 x 2 x 2 cm. Alguns CP foram submetidos ao termotratamento em estufa, com uma temperatura constante de 200°C, durante 120 minutos. Foram confeccionados, ainda, CP da madeira de carvalho (Quercus sp) para comparação. Foi preparada uma solução hidroalcoólica (SH) para simular a bebida destilada (cachaça), constituída de etanol absoluto e água deionizada, com 38% de etanol v/v e pH 5,3. Os CP termotratados (T) e não termotratados (NT) foram secos em estufa a 103°C ± 2°C por 24 h. Após esse período de secagem foram colocados em um recipiente de vidro juntamente com 100 mL de SH para que houvesse a interação líquido/madeira de cada espécie para obtenção do extrato. Os CP das madeiras amazônicas ficaram nos recipientes durante o período 1, 2, 3 e 6 (T1; T2; T3; e T6) meses de armazenamento. A madeira do carvalho T e NT foram avaliadas somente no período de 6 meses (CAR-T6-T e CAR-T6-NT). Os extratos foram avaliados em um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massas (GC-MS, Shimadzu, QP2010) em fase com uma coluna capilar Rtx-5MS. Os dados cromatográficos obtidos dos extratos foram analisados pela Análise dos Componentes Principais (PCA). Uma matriz m × n (em que m é o número de amostras e n é o número de variáveis) foi utilizada na PCA. Para cada espécie amazônica a matriz foi construída utilizando as amostras (T1-NT; T1-T; T2-NT; T2-T; T3-NT; T3-T; T6-Te T6-NT) comparadas ao carvalho (CAR-T6-NT e CAR-T6-T) totalizando 10 amostras por matriz, com as porcentagens das áreas (variáveis) de cada pico cromatográfico dos principais compostos identificados no GC/MS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A PCA dos dados obtidos para a cumarurana (Figura 1) descreveu 80,12% da variância total dos dados (PC1 56,97% + PC2 23,15%). Houve distinção em 4 grupos, onde os extratos obtidos da cumarurana NT apresentaram compostos com baixos valores de % de área ou não detectados. O T1-T, T2-T e T3-T e CAR-T6-NT foram semelhantes, onde T1-T foi influenciado pela % de área do pico para a vanilina e T3-T e CAR-T6-NT pelo % de área do furfural. O CAR-T6-T se diferenciou dos demais tratamentos, principalmente por se destacar com os valores de % de área encontrados para ácido siríngico e vanílico. O T6-T se destacou por apresentar quantidade de vanilina superior aos demais. Os vetores do siringaldeído e ácido síringico metil ester ficaram entre o T6-T e CAR-T6-T, demonstrando que ambos tratamentos apresentaram valores de % de área semelhantes para esses compostos. Na análise dos dados obtidos para o jatobá (Figura 2) duas componentes principais descreveram 71,85% da variância total dos dados selecionados (PC1 45,21% + PC2 26,64%). O T3-T diferenciou-se devido ao alto valor de % de área do composto vanilina, o CAR-T6-NT teve sua diferenciação relacionada ao alto valor de % de área do furfural. O T1-T está no centro do gráfico o que indica valores intermediários de % de área de determinados compostos. O T2-T e T6-T apresentaram similaridades, onde os vetores com maiores pesos para essa semelhanças foram referentes à % de área da vanilina, ácido vanílico e vanílico metil ester. O CAR-T6-T teve como principais características para sua diferenciação altos valores de % de área do ácido siríngico, siringaldeído e furfural. O vetor do ácido siríngico metil ester ficou entre o T2-T e CAR-T6-T, o que indica que esse composto apresentou valores de % de área semelhantes para esses tratamentos.

Figura 1

Análise de Componentes Principais para a espécie Cumarurana

Figura 2

Análise de Componentes Principais para a espécie Jatobá

CONCLUSÕES: Na maioria dos casos, quanto maior o tempo de armazenamento dos corpos de prova na solução hidroalcoólica, maior a quantidade de cada composto na solução e maior o número de compostos encontrados. Os extratos obtidos das madeiras termotratadas apresentaram maior quantidade e numero de compostos em relação as não termotratadas. Os compostos identificados nas madeiras amazônicas, principalmente o siringaldeído, podem indicar a utilização dessas espécies para o armazenamento de bebidas destiladas quando comparadas ao carvalho. Destacando-se as madeiras do jatobá com termotratamento.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem à FAPEAM pela bolsa de estudo, à FAPEMIG, à Empresa Precious Woods Amazon e ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALCARDE, A. R.; SOUZA, P. A.; BELLUCO, A. E. S. Aspectos da composição química e aceitação sensorial da aguardente de cana-de-açúcar envelhecida em tonéis de diferentes madeiras. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 30, p. 226-232, maio 2010.
PAULA, J. E.; ALVES, J. L. H. Madeiras nativas: anatomia, dendrologia, dendrometria, produção e uso. Brasília: Fundação Mokiti Okada, 1997. 544 p.