ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Análise de metais traços em sedimentos do Rio Guandu, Rio de Janeiro, Brasil

AUTORES: Juwer, L. (IFRJ) ; Chagas, G. (IFRJ) ; Pinto, B. (IFRJ) ; Hernandes, I. (IFRJ) ; Lourenço, P. (IFRJ)

RESUMO: O Rio Guandu no Rio de Janeiro tem sofrido diversas alterações em suas características, proveniente da expansão econômica na Zona Industrial de Santa Cruz. O objetivo do trabalho é avaliar a qualidade do corpo hídrico e de seus sedimentos, em relação à contaminação de metais traços no Canal de São Francisco. Realizou-se a metodologia proposta por POZEBON (2005) para determinação de metais traço por EAA-Chama. Os metais Zn, Pb e Cr estão enriquecidos com fonte de origem antrópica, possivelmente devido ao fato do local possuir indústrias no ramo petroquímico e siderúrgico.

PALAVRAS CHAVES: Sedimentos; Bacia do Rio Guandu; Metais traços

INTRODUÇÃO: Alunos do curso técnico de Meio Ambiente, tem desenvolvido projetos de pesquisa, na disciplina de Química Analítica Ambiental, cujo objetivo é capacitar os alunos nas aplicações e desenvolvimento de metodologias de análise de amostras ambientais, empregando artigos científicos como recurso didático. Torna-se pertinente a divulgação de tal iniciativa, apontando a eficácia desta estratégia de ensino. O rápido desenvolvimento industrial tem como uma das consequências o aumento crescente da emissão de poluentes atmosféricos. O acréscimo das concentrações atmosféricas de metais traço, a sua deposição no solo, nos vegetais e nos materiais é responsável por danos na saúde, redução da produção agrícola, danos nas florestas, degradação de construções e obras de arte e de uma forma geral origina desequilíbrios nos ecossistemas. O aporte de metais traços em corpos aquáticos pode ocorrer naturalmente por meio de processos geoquímicos e intemperismo do material de origem ou como resultado de atividades antrópicas. Dentre as fontes diretamente relacionadas a essas atividades pode-se citar, entre outras, o descarte de efluentes industriais e domésticos e a carga difusa urbana e agrícola (HORTELLANI, et al, 2008). O teor de metais advindos de atividade antrópica no sedimento foi avaliado a partir do cálculo do fator de enriquecimento (FE), obtido da razão entre a concentração do elemento no sedimento e a concentração do seu nível de base natural. Essa metodologia permite verificar o enriquecimento do elemento no sedimento, gerado antropicamente (WEDEPOHL, 1995). A Baía de Sepetiba, bem próxima ao Distrito Industrial de Santa Cruz (DISC), que recebeu nos anos de 2005 e 2006 mega projetos industriais, constitui uma dessas zonas onde os níveis de poluição são bem elevados.

MATERIAL E MÉTODOS: A amostragem de sedimento foi realizada no Canal de São Francisco, localizado no bairro de Santa Cruz-RJ, no dia 18 de abril de 2012, entre 13 e 14 horas e a aproximadamente dois metros da margem. A temperatura ambiente era de 26O C em ambos os pontos de amostragem 1 e 2 (P1 e P2), conforme Figura 1. Figura 1 – Local de amostragem, Canal de São Francisco (DISC). O material usado para a coleta foi previamente descontaminado com HNO3 10% v v- 1. As amostras foram coletadas, utilizando-se tubos de PVC graduados para as análises de metais. As amostras foram levadas à estufa para secagem a 140ºC durante 48 horas. Após a secagem, as amostras foram maceradas e pesadas, precedendo à passagem pelas peneiras granulométricas (agitador eletromagnético para peneiras Bertel®). A abertura da amostra foi realizada com água régia 3:1 (HNO3 e HCl) sob aquecimento a 150oC por 24 horas (POZEBON et al., 2004). A solução resultante foi filtrada utilizando papéis de filtro quantitativos, para remover qualquer sólido que possa interferir na análise e armazenado em tubos falcon de 50 mL. A análise utilizou a técnica de espectrometria de absorção atômica com chama (EAA- Chama) para determinação da concentração dos metais traço ferro, cromo, cobre, cálcio, magnésio, chumbo, cádmio e zinco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Tabela 1 são apresentadas as concentrações dos metais analisados nas amostras de sedimento. Tabela 1 - Concentrações de metais obtidas. (em anexo) Concentrações de metais traço (mg Kg-1)* Metal Traço P1 P2 Ferro 5785,58 5718,42 Chumbo 34,5 86,08 Cromo 49,75 49,75 Magnésio 337,64 366,37 Zinco < LD 297,25 Cálcio < LD 214,42 Cobre < LD < LD Cádmio < LD < LD A partir das concentrações obtidas, calculou-se o FE, usando o Mg como metal de referência. Em relação ao P1, foi obtido FE > 10 para os metais Cr e Pb, indicando que estes estão enriquecidos de fonte de origem antrópica. No P2, os metais encontrados acima deste valor foram: Zn e Pb. Os metais analisados podem ser atribuídos a diversas fontes, tais como as emissões de escapamento dos caminhões, evaporativas de diesel e óleos lubrificantes, desgaste dos pneus e ressuspensão de poeira de rua (LOYOLA et al., 2009, 2012) . Além desses fatores, na região de coleta há uma intensa atividade industrial, podendo haver uma contribuição nas concentrações dos metais traço apresentadas (QUITERIO et al., 2004; LOYOLA et al., 2006; HORTELLANI, et al, 2008). De acordo com os critérios adotados pelo National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, 1991), onde no P1 o Pb encontra-se em uma concentração onde os efeitos adversos ocorrem raramente. Já para o P2, pode-se notar frequentemente a ocorrência de efeitos contrários nas espécies a partir da concentração de Zn. Níveis de toxicidade também podem ser observados em espécies sensíveis com a concentração atual de Pb. Tendo em vista as características do Distrito Industrial de Santa Cruz e os resultados de concentração obtidos para os metais traço, pode-se dizer que as concentrações estão condizentes com o esperado, visto que a região de estudo caracteriz

Tabela 1

Tabela com os respectivos resultados das análises do estudo

CONCLUSÕES: Este trabalho mostra que os sedimentos do Canal de São Francisco alcançaram níveis de concentração para alguns metais que podem afetar o equilíbrio do ecossistema, segundo os critérios internacionais de classificação de sedimentos adotados pela NOAA. O FE calculado apresentou teores elevados de Cr, Pb e Zn nos sedimentos, indicando que estes metais estão enriquecidos de fonte de origem antrópica. Os resultados analíticos apresentados, somados aos estudos já existentes, podem contribuir para alertar sobre o uso consciente do canal de São Francisco.

AGRADECIMENTOS: Aos senhores Edilon e Denilson, moradores próximo ao Canal de São Francisco, pelo auxílio na coleta. Ao IFRJ pela infra-estrutura e auxílio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA(2005). Standard methods for the examination of water and wastewater. American Public Health Association, American Water Works Association, Water Environmental Federation, 20th ED. Washington.

HORTELLANI M. A.; SARKINS, J. E. S; ABESSA, D. M. S.; SOUSA, E. C. P. M.; Avaliação da contaminação por elementos metálicos dos sedimentos do Estuário Santos - São Vicente. Quim. Nova 2008, 31, 10-19, 2008

LOYOLA, J. ; ALMEIDA, P.B.; QUITERIO, S. L.; SOUSA, C.R.; ARBILLA, G.; ESCALEIRA, V.; CARVALHO, M.I.; SILVA, A.S.A.G. Concentration and Emission Sources of Airborne Metals in Particulate Matter in the Industrial District of Médio Paraíba, State of Rio de Janeiro, Brazil. Archives of Environmental Contamination and Toxicology , 51, 485-493, 2006.

LOYOLA, J. S.; ARBILLA, G.; QUITERIO, S.L.; ESCALEIRA, V.; BELLIDO, A. V. Concentration of airbone trace metals in a bus station with a high heavy-duty diesel fraction. Journal of the Brazilian Chemical Society, 20, 1343-1350, 2009.

LOYOLA, J. S.; ARBILLA, G. ; QUITERIO, S. L. ; ESCALEIRA, V. ; MINHO, A. S.; MINHO, A. S. Trace metals in the urban aerosols of Rio de Janeiro City. Journal of the Brazilian Chemical Society, 1-11, 2012.

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POZEBON, D., LINAM E.C.,MAIA, S.M.,FACHEL, J.M.G. Heavy metals contribuition of non-aqueous fluids used in offshore oil drilling . Fuel 84:53-61, 2005.


QUITERIO, S. L.; SOUSA, C. R.; ARBILLA, G.; ESCALEIRA, V.; QUITERIO, S. L. Metals in airborne particulate matter in the industrial district of Santa Cruz, Rio de Janeiro, in an annual period. Atmospheric Environment, 38, 321-331, 2004.


WEDEPOHL K .H. The composition of the continental crust. Geochim Cosmoch Acta 59, 1217-1232, 1995