ÁREA: Ambiental

TÍTULO: POLIQUETAS, BIOINDICADOR DE METAIS TRAÇO? UMA ANÁLISE PRELIMINAR

AUTORES: Miranda, J.T. (IFRJ- MARACANÃ) ; Paixão, M.T. (IFRJ-MARACANÃ) ; Castro, A.C. (IFRJ- MARACANÃ) ; Corrêa, G.C. (IFRJ- MARACANÃ) ; Gomes, D.L. (IFRJ- MARACANÃ) ; Vieira, F.A. (IFRJ- MARACANÃ) ; Quiterio, S.L. (IFRJ- MARACANÃ)

RESUMO: O presente artigo apresenta os resultados preliminares do estudo realizado com os Poliquetas da família Spionidae, onde se pretende verificar o seu uso como bioindicador de metais traço. Foi aperfeiçoada a metodologia de extração ácida seguindo o método de Rebelo (2001) para ostras. Os metais foram quantificados por EAA-Chama. Com os procedimentos adotados, foi possível concluir preliminarmente que a família Spionidae pode ser utilizada como bioindicadora do metal Zn.

PALAVRAS CHAVES: Poliquetas; Metais traço; Bioindicador

INTRODUÇÃO: Neste trabalho apresenta-se o resultado obtido por alunos do curso técnico de Meio Ambiente, na disciplina de Química Analítica Ambiental, cujo objetivo é capacitar os alunos nas aplicações e desenvolvimento de metodologias de análise de amostras ambientais, a partir do desenvolvimento de projetos de pesquisa, empregando artigos científicos como recurso didático. Assim, julga-se pertinente a divulgação de tal iniciativa, apontando a eficácia desta estratégia de ensino, pautada na utilização de artigos científicos. Poliquetas são animais exclusivamente marinhos e a grande maioria das espécies vive associada ao sedimento (bentônica). São espécies frequentemente usados como indicadores de condições ambientais. (DEAN, 2008) Neste estudo, a família de poliquetas utilizada é a Spionidae (AMARAL, 2006). Não foram encontrados relatos na literatura sobre estudos de uso dos poliquetas como bioindicadores, tampouco da metodologia de extração de metais nesta matriz. A relevância deste estudo se deve ao importante papel destes vermes na cadeia alimentar marinha, principalmente em áreas próximas de estuários, pois se alimentam de sedimentos sendo consumidores primários. Muito dos peixes, crustáceos e outros animais que se alimentam deles estão listados em Amaral e Migotto (1980). O principal objetivo do presente estudo consiste em desenvolver metodologia para determinação de metais traço (Cd, Pb, Cr e Zn) em poliquetas. Os respectivos limites máximos de tolerância destes metais, determinados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), através da Portaria No685/1998, e do Decreto No 55871/1965 e pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), através da Resolução Nº 357/2005, serão utilizados como parâmetros de avaliação do uso de poliquetas como bioindicadores.

MATERIAL E MÉTODOS: As amostras de poliquetas e de água foram coletadas em 2 dias diferentes, na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro (Figura 1). Coletou-se 2L de água da praia em um frasco de plástico, onde se adicionou HNO3 até pH<2. Foram medidos in loco parâmetros como: temperatura, oxigênio dissolvido (OD), pH e turbidez. Os poliquetas foram coletados utilizando-se um Core Sampler a uma profundidade de aproximadamente 30cm, a partir da areia da praia, que foi posteriormente peneirada. Após a coleta, baseado na metodologia descrita por Rebelo (2001) para ostras, os organismos foram lavados com água destilada, secos em papel de filtro e armazenados, junto ao papel de filtro, em sacos herméticos a -20°C por 24h. Os poliquetas foram levados a estufa por 48h a 48°C e posteriormente calcinados em mufla por 48h a 480°C e sua massa foi pesada. Após calcinação, foi realizada a extração ácida (HNO3:HCl). O excesso de ácido foi evaporado em chapa de aquecimento. As amostras foram ressuspensas em HCl 0,1mol L-1. A água e o extrato obtido, após serem filtrados, foram analisados por EAA- Chama (espectrofotometria de absorção atômica de chama). Ressalta-se que para análise de metais na água utilizou-se a técnica de adição padrão, a fim de eliminar a interferência de matriz. Figura 1. Local de estudo: Praia do Flamengo, Baía de Guanabara, RJ.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dentre os parâmetros avaliados na água salina , pode-se destacar o OD (8,64mg L-1) e turbidez (11,2 NTU). A análise de OD informa que este corpo hídrico, para a faixa de 25ºC, como medido, está com oxigenação dentro dos padrões, o que é essencial para inúmeras reações químicas na água e para o metabolismo dos organismos aquáticos .Já a turbidez que, de acordo com a Resolução CONAMA para águas salinas,deveria ser virtualmente ausente, está em um nível bastante elevado, muito provavelmente devido à poluição local por óleos e graxas. Na Tabela 1 são apresentados os resultados preliminares das concentrações de metais traço nas duas diferentes matrizes avaliadas. Pelos resultados preliminares apresentados (Tabela 1), a água da Praia do Flamengo se mostrou contaminada por Zn e os poliquetas da família Spionidae se mostraram bioindicadores para este metal, já que também o continham em quantidade significativa. Como foram feitas apenas duas amostragens, prentende-se confimar a espécie como bioindicadora deste e de outros metais realizando-se estudos adicionais. Também foram apresentados dados de concentrações máximas destes metais em peixes, a fim de se fazer uma pequena comparação, que consomem os poliquetas, conforme a cadeia alimentar e possivelmente estão contaminados pelo mesmo metal encontrado nos poliquetas. Recomenda-se que estes também sejam analisados para comprovar a teoria e observar o quanto esse metal se bioacumula em cada espécie de peixe. Atualmente, indicadores biológicos são considerados os que melhor traduzem a situação de um corpo d’água (BASTOS; NAPOLEÃO, 2010), comprovando a necessidade de pesquisa de novos bioindicadores, para avaliação da qualidade ambiental.

Tabela 1.

Concentrações dos metais analisados em água salina e nos poliquetas, e limites determinados pela legislação para água salina e peixes.

Figura 1

Local de estudo: Praia do Flamengo, Baía de Guanabara, RJ.

CONCLUSÕES: A partir da análise da água, percebeu-se que há contaminação por Zn, provavelmente causada pelo montante de embarcações que transitam no local. A partir do resultado positivo tanto na água como para os Poliquetas pode-se dizer que provavelmente a família Spionidae é bioindicadora para o metal zinco (Zn). Para confirmar a contaminação por este e outros metais, é necessária a realização de mais estudos. Ressalta-se que este é um estudo preliminar e que se dará continuidade a este projeto.

AGRADECIMENTOS: Ao IFRJ pela infra-estrutura e auxílio financeiro, à Profa. Nina Pelliccione e à parceria com o CEFET/Maracanã, Prof. Marcelo B. Rocha e seus alunos.

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AMARAL, A. C. Z. e MIGOTTO, A. E. Importância dos Anelídeos Poliquetas na Alimentação da Macrofauna Demersal e Epibentônica da Região de Ubatuba. São Paulo: Bolm Inst. Oceanogr. 29, 31-35, 1980.

BASTOS, J. e NAPOLEÃO, P. O Estado do ambiente: indicadores ambientais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Stamppa Ltda, 2010.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução Nº 357. mar 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: maio 2012.

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