ÁREA: Ambiental

TÍTULO: ESTUDO DE MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DE FÓSFORO INORGÂNICO EM SOLOS TERRA PRETA DE ÍNDIO DO BAIXO E MÉDIO AMAZONAS (AM)

AUTORES: Pessoa Júnior, E.S.F. (UFAM) ; Souza, W.B. (UFAM) ; Santana, G.P. (UFAM)

RESUMO: No presente trabalho foi avaliado o fósforo ligado ao cálcio, alumínio e ferro e a fração fracamente ligada, a fim de compreender quais formas de fósforo influenciam no processo de extração dos extratores Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1 e Olsen. Amostras de oito Terras Preta de Índio, localizadas no baixo e médio Amazonas (AM), foram coletadas na profundidade de 0-20 cm e submetidas à extração, sendo o teor de fósforo determinado pelo método do molibdato de amônio. A extração de fósforo com os diferentes extratores teve a seguinte ordem: Mehlich-1 >> Mehlich-3 > Bray-1 > Olsen. O Mehlich-1 foi o único extrator influenciado pelas formas de fósforo e os métodos Bray-1 e Olsen apresentam menor variação na quantidade de fósforo extraída.

PALAVRAS CHAVES: Extratores de fósforo; Fracionamento de fosforo ; Método do Molibdato

INTRODUÇÃO: A Terra Preta de Índio (TPI), sítios arqueológicos da região Amazônica, é um solo rico em nutrientes, principalmente fósforo. Como a TPI são produtos da atividade antrópica das antigas civilizações indígenas do Amazonas os seus atributos físicos e químicos são variados o que dificulta a escolha de métodos de extração de fósforo adequados. Dentre as variáveis que complicam a escolha está o cálcio, principalmente para o método de extração de fósforo mais utilizado na literatura, o extrator Mehlich-1. Elevadas quantidades de cálcio no solo é o maior problema desse método de extração, por causa disso, resultados de análises de fósforo obtidos pelo Mehlich-1 é sempre muito questionado na literatura (NOVAIS e SMYTH, 1999). Alternativamente, a literatura recomenda o uso de outros métodos, como Mehlich-3, Bray-1, e Olsen (BARBOSA FILHO et al., 1987). Na busca de um extrator ideal para a extração de fósforo em TPI neste trabalho foram usadas amostras de diferentes locais a fim de avaliar a extração de fósforo pelos extratores Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1 e Olsen. Para validar as extrações as formas de ligadas de fósforo também foram determinadas.

MATERIAL E MÉTODOS: A amostragem das TPI foi realizada no baixo e médio Amazonas (AM), nos municípios de Barreirinha (Terra Preta do Limão - Tpl), Itacoatiara (São José do Amatarí – Tpa, e São Pedro de Iracema Tpi), Manaus (Nova Cidade - Tpnc) e Parintins (Hospital Jofre Cohem - Tph, Parananema -Tpp, Gregoste –Tpg, e Marajó - Tpm). As amostras (15 no total) foram coletadas segundo procedimento recomendado pela Embrapa (1999); ou seja, tradagem na profundidade de 0–20 cm em ziguezague de área de um hectare em cada sítio de TPI. As amostras foram secas ao ar, desagregadas manualmente com auxílio de um rolo de madeira e peneirada em malha 2,0 mm. As formas de fósforo facilmente ligadas (PFL), fósforo ligado a alumínio (PAl), fósforo ligado a ferro (PFe) e o fósforo ligado a cálcio (PCa) foram obtidas pelo procedimento proposto por Chang e Jackson (1957). O fósforo disponível foi obtido pelos extratores Mehlich-1 e Mehlich-3 segundo a Embrapa (2009), enquanto que a extração de fósforo para o Bray-1 e Olsen segundo Murphy & Riley (1962). Todas as determinações de fósforo foram feitas pelo método do molibdato de amônia em espectrômetro da Shimadzu (MODELO-UV-1650PC) feixe duplo no comprimento de onda de 885 nm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A distribuição das frações PCa, PAl, PFe, e PFL variou de acordo com sítio de TPI (Figura 1). O percentual relativo médio dessas formas de fósforo, de modo geral, obedeceu à seguinte ordem: PCa (19,6%) > PAl (17,2%) > PFe (16,3%) > PFL (4,3%). As concentrações do fósforo extraído segundo os métodos Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1 e Olsen, obedeceram a seguinte sequência de extração: Mehlich-1 >> Mehlich-3 > Bray-1 > Olsen. Os teores de fósforo em TPI obtidos pelo Mehlich-1 foram elevados e muito variados em relação aos outros métodos de extração. Esse comportamento pode ser explicado pelos valores de concentração de fosforo ligado a cálcio. Os valores elevados de PCa obtidos nos sítios de Tpa, Tpl, Tpi e Tph superestimaram o fósforo disponível pelo Mehlich-1. Por apresentar quantidades baixas de PCa, apenas nos sítios Tpg (9,0%) e Tpnc (5,0%), o Mehlich-1 extraiu quantidades similares aos outros extratores. Esses resultados confirmam o comportamento obtido por Lima (2002), e Moreira (2009) na extração de fósforo com Mehlich-1, que atribuíram à maior quantidade extraída a relação preferencial pelo PCa. De fato a Figura 2 mostra que os valores obtidos com Mehlich-1 possui uma boa correlação com as quantidade de PCa, PFL e PFe. Os outros três métodos, Mehlich-3, Bray-1 e Olsen, praticamente, não apresentaram variação nas quantidades significativas de fósforo extraída, com exceção do sítio Tpg para o Mehlich-3. Este comportamento pode está relacionado às características químicas do Mehlich-3, em extrair preferencialmente PAl e PFe; uma vez que o sítio de Tpg apresentou 26,0 e 29,0 % dessas frações respectivamente. Portanto, entre os métodos avaliados neste trabalho percebe-se claramente que o Bray-1 e Olsen extrai a mesma quantidade independe da forma de fósforo.

Figura 1

Distribuição de fósforo ligado ao cálcio (PCa), alumínio (PAl), ferro (PFe), e fracamente ligado (PFL)

Figura 2

Relação do fósforo extraído pelos extratores Mehlich-1, Mehlich-3, Bray-1 e Olsen e as formas ligadas PCa, PAl, PFe, e PFL.

CONCLUSÕES: A distribuição de fósforo nas quatro frações obedeceu à seguinte ordem percentual relativa: POu > PCa > PAl > PFe > PFL. A quantidade de fósforo extraída pelos métodos utilizados foi maior no Mehlich-1, principalmente naqueles sítios de TPI que possuem alta quantidade de PCa, PFe, e PFL. Para a realização de comparações entre a quantidade de fósforo nos sítios de TPI foi possível observar neste trabalho que os extratores Bray-1 e Olsen apresentaram menor oscilação independentemente da forma de fósforo existente.

AGRADECIMENTOS: A CNPq, FINEP, FAPEAM e Capes pelo financiamento de bolsa de estudo e suporte no laboratório de Química Ambiental e ao professor Dr. Genilson Pereira Santana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARBOSA FILHO, M.P.; KINJO, T.; MURAOKA, T. Relações entre fósforo “extraível”, frações inorgânicas de fósforo e crescimento do arroz em função de fontes de fósforo, calagem e tempo de incubação. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.11, p. 147-155, 1987.
CHANG, S. C.; JACKSON, M. L. Fractionation of soil phosphorus. Soil Science, v. 84, p. 133-144, 1957.
EMPRESA BRASILEIRA DE AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Manual de análise do solo. Centro Nacional de Pesquisa do Solo. 2ª ed. Ver. Atual. Rio de Janeiro. 212 p., 1999.
LIMA, H.N.; SCHAEFER, C.E.R.; MELLO, J.W.V.; GILKS, R.J.; KER, J.C. Pedogenesis and pre-Colombian land use of “Terra Preta Anthrosols” (“Indian Black Earth”) of Western Amazonia. Geoderma, v. 110, p. 1-17, 2002.
MOREIRA, A. et al. Métodos de Caracterização Química de Amostras de Horizontes Antrópicos das Terras Pretas de Índio. In: As Terras Pretas de Índio da Amazônia: Sua caracterização e uso desde conhecimento na criação de novas áreas. Manaus: Embrapa Ocidental, 2009. 420p. CD-RON.
MURPHY, J.; RILEY, J. P. A modified single solution method for the determination of phosphate in natural waters. Analytica Chimica Acta, v. 27, p 31-36, 1962.
NOVAIS, R.F.; SMYTH, T.J. Fósforo em Solo e Planta em Condições Tropicais. Viçosa, MG, Universidade Federal de Viçosa. 399p. 1999.