ÁREA: Ambiental

TÍTULO: REFORMULAÇÃO DA PRÁTICA DE EQUILÍBRIO IÔNICO: UMA FORMA DE MINIMIZAR CUSTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS.

AUTORES: Cavalcanti, K.M.P.H. (IFRJ CAMPUS RIO DE JANEIRO) ; Nunes, N.S.S. (IFRJ CAMPUS RIO DE JANEIRO) ; Peres, L.S. (IFRJ CAMPUS RIO DE JANEIRO)

RESUMO: Esse trabalho é produto de um projeto que pretende reavaliar todos os procedimentos experimentais das disciplinas de físico-química do IFRJ campus Rio de Janeiro e despertar nos estudantes a relevância da preocupação com os impactos ambientais gerados pelas aulas práticas. Como primeira parte desse projeto, selecionamos o experimento de Equilíbrio Iônico para reformulá-lo com o objetivo de diminuir a utilização de reagentes para reduzir custos e, consequentemente e prioritariamente, reduzir a geração de resíduos provenientes de tal prática. Esses objetivos foram alcançados e conseguimos minimizar o impacto ambiental produzido pelo procedimento. A revisão completa desta prática experimental nos permitiu desenvolver e consolidar uma metodologia de trabalho para dar continuidade ao projeto.

PALAVRAS CHAVES: impacto ambiental; reformulação de práticas.; geração de resíduos

INTRODUÇÃO: A experimentação no ensino de Química tem sido defendida por diversos autores, pois constitui um recurso pedagógico importante que pode auxiliar na construção de conceitos (FERREIRA et al., 2010). Essa pode ser uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e o estímulo de questionamentos de investigação (GUIMARÃES, 2009). Porém, as atividades experimentais realizadas em laboratórios de ensino, especialmente em uma escola técnica de química, geram certas quantidades de resíduos que poderiam ser minimizados se seus respectivos procedimentos fossem reavaliados e reformulados. No atual cenário, no qual vários segmentos da sociedade vêm cada vez mais se preocupando com a questão ambiental, as instituições de ensino não podem mais sustentar uma medida de simplesmente ignorar sua posição como geradora de resíduos (JARDIM, 1997). A Educação Ambiental resgata a participação dos cidadãos na solução dos problemas ambientais, já que o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais. Aproveitar situações de impactos ambientais visando o processo de ensino-aprendizagem dinâmico, interdisciplinar e contextualizado pode ser um modo de o professor despertar nos alunos a consciência da importância da química e levá-los a construir conceitos significativos relacionados à Educação Ambiental. (VAITSMAN e VAITSMAN, 2006). Assim, os principais objetivos deste projeto foram o de promover uma revisão da prática de Equilíbrio Iônico, com alunos do Curso Superior de Processos Químicos, investigando possibilidades de sua reformulação para reduzir as quantidades de reagentes químicos utilizados e assim gerar menos resíduos, minimizando seu impacto ambiental e promovendo Educação Ambiental.

MATERIAL E MÉTODOS: O projeto iniciou com uma pesquisa bibliográfica de cada reagente químico utilizado no roteiro da prática de Equilíbrio Iônico aplicada na disciplina de físico-química 1 no IFRJ campus Rio de Janeiro no sentido de investigar suas toxicidades e custos para a instituição. Tal prática foi exaustivamente analisada, em laboratório e em discussões com o grupo, com o intuito de identificar em quais situações haveria a possibilidade de reduzir o montante de água e reagentes empregados, assim como avaliar a real necessidade de se utilizar água deionizada nessa prática. O grupo se preocupou em não promover alterações didáticas da prática porque esse não era o objetivo do projeto. Após a identificação desses pontos de modificação no roteiro original, o mesmo foi alterado e assim procedemos com os cálculos de volume e massa a serem economizados com o novo procedimento. As vidrarias, empregadas no procedimento original, necessitaram ser readequadas às novas dimensões do procedimento reformulado. Desse modo, reavaliamos cada pipeta, becher, balão volumétrico, proveta, tubo de ensaio e demais vidrarias usadas no laboratório de modo a acomodarem menores volumes e massas de reagentes. Em um determinado momento do projeto, foi discutido e pesquisado pelo grupo, a possibilidade de alguns reagentes mais tóxicos serem substituídos por outros de menor toxicidade, ou até mesmo, de serem excluídos da prática. Os novos roteiros foram levados para a análise de professores das disciplinas das mais diversas áreas para uma discussão mais ampla do método desenvolvido pelo grupo e dos resultados obtidos. A revisão completa desta prática nos permitiu desenvolver e consolidar uma metodologia de trabalho para dar continuidade ao projeto, com outros procedimentos experimentais, em nossa instituição.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A prática analisada era dividida em quatro etapas nas quais se empregavam diversos sais para o preparo de soluções aquosas e verificação dos seus respectivos pH. Com a análise dessas etapas, observamos que em algumas delas havia excesso de preparo de soluções, desta maneira, optamos pela exclusão e redução do número de soluções preparadas. Como um dos objetivos do presente trabalho era reduzir o impacto ambiental causado pelos reagentes empregados e resíduos gerados, utilizamos como critério de exclusão a toxicidade aquática (efeito deletério a organismos aquáticos) e a biodegradabilidade dos mesmos. Assim, dentre os dez reagentes utilizados na etapa 1 do procedimento, optamos por excluir quatro deles. Nas etapas 2 e 3, utilizavam-se pequenas quantidades de reagentes químicos e de água destilada e, apesar de alguns deles apresentarem certos graus de toxidez, não efetuamos nenhuma alteração. A quarta etapa da prática foi excluída por já ser um procedimento realizado na disciplina de química geral. No intuito de minimizar o uso de reagentes na etapa 1, modificou- se o volume das soluções preparadas para 20 mL ao invés de 50 mL obtendo-se uma economia de 43 g de reagente. Com a exclusão da etapa 4, foram economizados, aproximadamente, 50 g de FeCl3 assim como, 50 g de CuSO4, 50 g de NaHCO3 e 50 g de NaCO3. Portanto, a reelaboração do procedimento levou a uma considerável redução de 243 g de reagentes químicos e 5,1 L de água em apenas um semestre em um campus da instituição. Podemos considerar relevantes os resultados obtidos se pensarmos que esta prática é apenas uma das dez aplicadas em físico-química, uma disciplina de todos os cursos do campus Rio de Janeiro do IFRJ e de outros cursos de outros quatro campi.

CONCLUSÕES: Após verificarmos que, a reelaboração da prática de Equilíbrio Iônico só traz benefícios ao meio ambiente devido à minimização do impacto ambiental e redução dos gastos com reagentes, somente poderíamos chegar à conclusão que esse projeto foi um grande êxito. Pretendemos dar continuidade ao projeto estendendo-o às demais práticas de físico-química e às demais disciplinas experimentais. A reflexão mais importante proporcionada por esse trabalho foi a de que antes de pensar em programas de gerenciamento de resíduos, precisamos nos atentar para possibilidades de reduzir a geração dos mesmos.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos a todos que nos auxiliaram com suas sugestões e ao IFRJ campus Rio de Janeiro pela oportunidade de realizarmos nosso projeto de pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: FERREIRA, L. H.; HARTWIG, D. R. e OLIVEIRA, R. C. Ensino Experimental de Química: Uma Abordagem Investigativa Contextualizada. Química Nova na Escola, v. 32, n. 2, maio, p. 101-106, 2010.
GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa. Química Nova na Escola, v. 32, n. 3, ago, p. 198-202, 2009.
JARDIM, W. F. Gerenciamento de Resíduos Químicos em Laboratórios de Ensino de Pesquisa. Química Nova, v. 21, n. 5, p. 671-673, 1998.
VAITSMAN, E. P. e VAITSMAN, D. S. Química e meio ambiente: ensino contextualizado. Rio de Janeiro: Interciência, 2006.