ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Identificação e Quantificação via CG-EM e degradação por POA do Contaminante Emergente Naftaleno no Riacho Algodoais, Suape-PE

AUTORES: Souza, D. (UFPE) ; Silva, J.C. (UFPE) ; Benachour, M. (UFPE) ; Silva, V. (UFPE)

RESUMO: Uma classe de micropoluentes(µg.L-1 e pg.L-1)ambientais,são os Contaminantes Emergentes(CE),com efeitos nocivos a seres vivos.Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos,tipo de CE,são compostos orgânicos,carcinogênicos e/ou mutagênicos,sendo Naftaleno o mais simples,porém apresentando toxicidade aguda em ambientes marinhos.A ineficiência nos tratamentos de efluentes convencionais da indústria remete ao estudo de técnicas alternativas de degradação,como os Processos Oxidativos Avançados.Das amostras de água do Riacho Algodoais Suape-PE, foi verificada a presença de Naftaleno via cromatografia gasosa acoplada e espectrometria de massa e realizou-se tratamento foto-Fenton com luz artificial UV-A e UV-C, obtendo-se respectivamente 71,7% e 66,7% de degradação do naftaleno.

PALAVRAS CHAVES: Foto-Fenton; Recursos Hídricos; Naftaleno

INTRODUÇÃO: A contaminação crescente dos recursos hídricos é preocupante,onde o maior contribuinte são os efluentes industriais tratados inadequadamente(Sodré et al.,2010).Grandes poluidores,os Contaminantes Emergentes(CE),são micropoluentes a níveis de µg.L-1 e pg.L-1, nocivos para seres vivos mesmo em baixas concentrações.Feminilização de peixes machos,cânceres de pele e pulmão são alguns efeitos oriundos desses contaminantes(ASTDR,2009;BILA e DEZOTTI,2007; KLAMERTH et al.,2010).Os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos(HPA),classe do CE,são compostos orgânicos com dois ou mais anéis aromáticos conjugados,lipofílicos,apolares e ubíquos,considerados carcinogênico e/ou mutagênicos(RODIL,et al.,2007;WU et al.,2010; CRISTALE et al.,2008).O Naftaleno apesar do mais simples dentre os hidrocarbonetos,apresenta uma toxicidade aguda em ambientes marinhos devido a sua alta solubilidade(VEIGA,2003).A Cromatografia Gasosa acoplada a Espectroscopia de Massa (CG-EM),é uma técnica eficiente na detecção e quantificação desses compostos(GOMES et al., 2011; MARQUES et al.,2009).Visto a ineficiência dos tratamentos de efluentes convencionais na degradação dos CE,técnicas alternativas vêm sendo estudadas, como o Processo Oxidativo Avançado(POA),que consiste na geração de radicais hidroxilas livres que reagem com compostos orgânicos,formando CO2 e H2O, destacando-se o foto- Fenton graças a sua eficiência.Ele atua a partir da mistura de sais de Fe e H2O2 na presença de radiação UV/ visível, artificial ou natural(BORBA et al,2008;MOTA,et al,2008;TEIXEIRA e JARDIM,2004).O objetivo foi à identificação e quantificação via CG-EM do Naftaleno no Riacho Algodoais em Suape-PE e o estudo comparativo da degradação deste hidrocarboneto em reatores de bancada com radiação artificial UV-A e UV-C, por Foto-Fenton.

MATERIAL E MÉTODOS: Coleta:Foram realizadas duas coletas ao longo do Riacho em ponto previamente definidos,utilizando um GPS.Os pontos foram escolhidos de forma a atender a jusantes e montante das indústrias ali localizadas.As amostras foram acondicionadas em vidro âmbar e sob refrigeração adequada.O ponto escolhido para a amostra que iria sofrer degradação foi o que apresentava maior concentração de naftaleno. Extração e concentração das amostras:O método utilizado foi a Extração Líquido- Líquido(ELL),tendo como solvente o diclorometano p.a.(Merck),o qual foi adicionado à amostra em um funil de separação na proporção de volume de 5:1(amostra e solvente respectivamente),agitou-se vigorosamente por alguns minutos.O extrato obtido posteriormente a separação de fases,após repouso,foi filtrado com lã de vidro e sulfato de sódio anidro para a possível retenção de água,repetindo o procedimento por mais duas vezes.Utilizou-se o rota-evaporador a 40 ± 1°C para concentrar o extrato e depois aferiu o mesmo com um balão de 10 mL e diclorometano. Identificação e quantificação via CG-EM:Para identificação do naftaleno,preparou-se uma solução estoque de 200 mg.L-1 a partir de um padrão mix de HPA em Diclorometano/Benzeno da AccuStandard,para a construção da curva analítica com faixa de concentração entre 1 e 100 µg.L-1.As amostras foram injetadas nas condições cromatográficas pré-estabelecidas. Degradação do Naftaleno:Foi baseada em um planejamento fatorial 22,com ponto central em duplicata,onde reatores com radiação artificial UV-A e UV-C foram utilizados e 50 ml das amostras colocadas em béqueres de 100 mL.O Fe foi fixado em 5 mg.L-1,e as variáveis foram o H2O2 com 1,00 mL no nível máximo e 0,50mL no nível mínimo e o tempo,3 e 1 hora nos níveis máximos e mínimos respectivamente

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foi identificada a presença significativa do Naftaleno em todos os pontos estudados, apresentando concentrações a níveis de CE. A Figura 1 apresenta as concentrações desse composto, juntamente com um valor de referência apenas comparativa da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). Pavei (2007), alerta para o fato de que o Naftaleno é considerado como um dos compostos de maior toxicidade e mesmo não sendo carcinogênico ao homem, segundo Cordeiro (2003) apresenta alta toxicidade e efeitos adversos ao organismo. Estudo realizado no Rio Atibaia, por Silva (2004), detectou a presença desse contaminante em nível de µg. L-1. É contraditória a presença significativa do Naftaleno em regiões tropicais, devido a sua volatilidade e facilidade de degradação(Meire et al.2007). O ponto 2 apresentou maior concentração do hidrocarboneto nas duas coletas, levando-o a ser escolhido para tratamento. A Figura 2 apresenta os resultados das degradações nos reatores UV-A e UV-C.O experimento que obteve a melhor eficiência foi o reator com lâmpada UV-A, ensaio nº 4, sendo o mesmo realizado nas seguintes condições: adição de 1 mL de H2O2 e duração de 3 horas do experimento. A degradação no reator UV-A foi um pouco maior do que do UV-C, o que é corroborado com a literatura quando que a reação de foto-Fenton tem maior eficiência em comprimentos de ondas ideais, isto é, acima de 300 nm (MOTA et al., 2008). Outra vantagem é o preço da lâmpada UV-A, que corresponde a aproximadamente a metade do valor da UV-C. Os valores obtidos foram colocados no programa Statistica 8.0, porém o mesmo não apresentou efeitos significativos para ambos os reatores.

Concentrações do Naftaleno (µg. L-1)

Gráfico das concentrações do Naftaleno nas duas coletas

Degradação % do Naftaleno: UV-A e UV-C

% Degradação nos reatores com lâmpada UV-A e UV-C

CONCLUSÕES: O riacho em avaliação apresentou uma concentração máxima do Naftaleno de 2,62 µg. L-1, valor considerado CE, onde o mesmo apesar de não ser carcinogênico apresenta toxicidade e efeitos adversos ao organismo.A degradação do hidrocarboneto mostrou-se eficiente em ambos os reatores,porém no UV-A houve um maior percentual degradativo de 71,7% para o ensaio 4,nos níveis máximos do peróxido e tempo,1 ml e 3 horas respectivamente.É necessário um monitoramento contínuo do Riacho Algodoais,pois a presença expressiva desse hidrocarboneto em todas as coletas remete a uma contaminação constante do mesmo.

AGRADECIMENTOS: A CAPES, Projeto CNPq/INCTAA.

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