ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Utilização de agrotóxicos na região de Itumbiara-GO: A perspectiva dos produtores rurais

AUTORES: Bernadeli, A.A. (IFG) ; Goulart, S.M. (IFG) ; Santos, J.P.V. (IFG) ; Castro, L.M. (IFG)

RESUMO: O monitoramento do uso de agrotóxicos é uma ferramenta de suma importância para o gerenciamento dos riscos ambientais e de saúde decorrentes da utilização desses produtos. O uso indiscriminado de agrotóxicos traz uma série de consequências negativas, tanto para o ambiente como para a saúde do trabalhador. O trabalho tem como objetivo principal levantar um diagnóstico do uso de agrotóxicos na região de Itumbiara-GO através de entrevistas semi-estruturadas com os produtores rurais da região. Foi possível constatar que o uso dos agrotóxicos tem se apresentado de maneira intensa e que práticas inadequadas indicam problemas potenciais à saúde da população e riscos ambientais.

PALAVRAS CHAVES: agrotóxicos; produtores rurais; diagnóstico de uso

INTRODUÇÃO: É comum a percepção equivocada dos riscos do uso de agrotóxicos pelos produtores (PERES et al., 2001). A tecnologia de aplicação é inadequada e há pouca adoção de práticas alternativas e conscientes na situação do uso de agrotóxicos na região. Os períodos de carência são desrespeitados e muitas vezes desconhecidos pelos produtores (ARMAS; MONTEIRO, 2005; ANVISA, 2011). Todos esses problemas motivam pesquisas, principalmente na área de diagnóstico com levantamento de dados, que permitam avaliar de forma adequada o real dimensionamento dos problemas que podem afetar a qualidade dos alimentos, a saúde dos produtores rurais e a qualidade do ambiente. O presente trabalho teve como objetivo principal diagnosticar o uso de agrotóxicos na região de Itumbiara-GO através de entrevistas aos produtores rurais. No Brasil, o controle da comercialização e uso de agrotóxicos é muito precário (ARMAS; MONTEIRO, 2005; PERES et al., 2001). Em razão dessas limitações é possível adquirir facilmente tanto pesticidas bastante tóxicos como também alguns de comercialização restrita. O acesso fácil a essas substâncias tem contribuído para o aumento dos casos de intoxicações agudas em humanos (FIOCRUZ, 2009). De acordo com a Organização das Nações Unidas, o número de pessoas, em 2025, dependentes de alimentos provenientes do meio rural no mundo será de 7,9 bilhões. Esta necessidade crescente faz com que o processo de produção agrícola seja, cada vez mais, submetido a fortes mudanças tecnológicas e organizacionais, visando à produtividade, por isso, no estágio atual da agricultura, não podemos dispensar o uso de agrotóxicos. No entanto, faz-se necessária a conscientização do uso racional dessas substâncias e uma maior divulgação de seus efeitos no organismo (SINDAG, 2010).

MATERIAL E MÉTODOS: O diagnóstico do uso de agrotóxicos em Itumbiara-GO foi realizado através de procedimento investigativo qualitativo, utilizando entrevistas semi-estruturadas junto a três produtores rurais da região. A entrevista semi-estruturada favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987). A entrevista apresentou focos relacionados à observação dos procedimentos agrícolas utilizados pelos produtores, em cultivos de cana-de-açúcar, milho e pastagens. As entrevistas englobaram questões específicas sobre os seguintes pontos: (a) histórico de utilização de agrotóxicos; (b) regime e práticas de uso; (c) fonte(s) de informação sobre esses produtos; (d) práticas de compra dos produtos; (e) relatos sobre eventos de intoxicação; (f) segurança e proteção no trabalho. As entrevistas foram realizadas nos meses de março e abril de 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados indicam que o uso de agrotóxicos em Itumbiara tem se apresentado de maneira muito intensa. Cada vez mais os agricultores vêm lançando mão desses produtos para o desenvolvimento de suas atividades rurais. Após a análise dos dados foi constatado que todos os agricultores entrevistados faziam uso de algum tipo de agrotóxico, o que pode gerar implicações negativas tanto para a saúde das pessoas envolvidas quanto para a relação sociedade/natureza. Outro fato importante a ressaltar são os relatos de casos de envenenamento que foram registrados pelo presente estudo. Trabalhadores apresentaram um ou mais sintomas de intoxicação, houve um relato de suicídio devido ao uso do agrotóxico FURADAN®. Estudo semelhante foi realizado por Albuquerque (2005) na região sul de Goiás, e de acordo com o estudo, 19% dos proprietários de terra já se intoxicaram com algum agrotóxico. No que tange aos problemas ambientais foram verificados fatores de grande importância: morte de animais e peixes, destinação incorreta das embalagens e desrespeito aos períodos de carência. Morte de gado, peixes e patos foram relatadas quando da aplicação aérea de agrotóxicos. Com relação ao destino das embalagens, alguns produtores disseram queimá-las ou armazená-las sem o menor cuidado na propriedade rural e não destiná-las ao posto de recebimento por dificuldades de transporte. Isso reflete uma realidade preocupante, frente à possibilidade de contaminações do solo, água e ar. Relatos positivos foram relacionados à utilização de equipamentos de proteção individual por parte de todos os produtores entrevistados. A leitura do rótulo e a utilização de receita agronômica também foram pontos positivos.

CONCLUSÕES: A análise da utilização de agrotóxicos indica problemas à saúde e riscos ambientais associados ao uso inadequado dessas substâncias. Espera-se que esses resultados possam gerar informações que contribuam para que medidas preventivas possam ser efetuadas, visando a implementação de práticas racionais, menos impactantes ao meio ambiente e à saúde das populações. Esse diagnóstico servirá de base para definição de estratégias de monitoramento de agrotóxicos na região, visando, em projetos futuros, educação ambiental, avaliação química dessas substâncias na água, no solo e em alimentos.

AGRADECIMENTOS: Ao Instituto Federal de Goiás e ao CNPQ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALBUQUERQUE, C. 2005. Educação Sanitária. Agrotóxicos, saúde humana e meio ambiente. 2° Ed. Editora Kelps.

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br> Acesso em 11.04.2012.

ARMAS, E. D.; MONTEIRO, R. T. R. 2005. Uso de agrotóxicos em cana-de-açúcar na bacia do rio corumbataí e o risco de poluição hídrica. Química Nova, 28: 975-982

FIOCRUZ. Fundação Oswaldo Cruz- SINITOX, Ministério da Saúde. Disponível em <http://www.fiocruz.br/sinitox/agrotóxicos> Acesso em 11.04.2012.

PERES, F.; ROZEMBERG, B.; ALVES, S. R.; MOREIRA, J. C.; SILVA J. J. O. 2001. Comunicação relacionada ao uso de agrotóxicos em região agrícola do Estado do Rio de Janeiro. Revista de Saúde Pública, 35: 564-70.

SINDAG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola) 2010. Brasil lidera uso mundial de agrotóxicos. Disponível em <http://www.sindag.com.br/noticia.php?News_ID=1755> Acesso em 11.04.2012.

TRIVIÑOS, A. N. S. 1987. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas.