ÁREA: Ambiental

TÍTULO: AVALIAÇÃO DE MERCÚRIO TOTAL EM AMOSTRAS DE PEIXES, EM ÁREA COM ATIVIDADE GARIMPEIRA E OUTRA SEM ATIVIDADE DE REGISTRO DE GARIMPOS, AMAZÔNIA – BRASIL

AUTORES: Sanches, S.C.C. (UFPA) ; Faial, K.R.F. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) ; Faial, K.C.F. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) ; Jesus, I.M. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) ; Santos, E.C.O. (INSTITUTO EVANDRO CHAGAS) ; Costa, N.L.S. (UFPA) ; Costa, A.C.G. (UFPA) ; Bandeira, E.S. (UFPA)

RESUMO: O mercúrio é liberado ou reemitido para atmosfera através de um grande número de fontes naturais e antrópicas, podendo ser encontrado em pequenas concentrações em todos os meios geológicos devido sua volatilidade. Este estudo objetivou determinar a concentração de mercúrio total (HgT) no tecido muscular de pescado proveniente da comunidade de Barreiras (área antrópica) e do município de Juruti (área não antrópica), avaliar o risco de exposição mercurial através da ingestão do pescado consumido na comunidade de Barreiras e em Juruti, a partir da comparação com o índice preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e correlacionar os teores de mercúrio total nas localidades de estudo. Foram coletadas amostras de diferentes espécimes de pescado ao longo do rio Tapajós e Amazonas.

PALAVRAS CHAVES: Mercúrio; Pescado; Amazônia

INTRODUÇÃO: A atividade garimpeira representa uma das principais fontes de emissões antropogênicas de mercúrio (Hg) na região Amazônica, uma vez que a queima da amálgama (Au-Hg) libera mercúrio metálico (Hg0) para o ar atmosférico, contaminando solo e ecossistemas aquáticos na forma de mercúrio inorgânico. Considerado uma das formas mercuriais mais tóxicas, o metilmercúrio (CH3Hg), originado do processo de metilação do mercúrio inorgânico, age principalmente no sistema nervoso central (SNC), ocasionando diversos malefícios ao organismo humano (SOUZA, BARBOSA, 2000; CARDOSO et al. 2007; GIOVANELLA et al. 2011; KEHRIG et al. 2011). As comunidades ribeirinhas localizadas próximas das áreas impactadas e que dependem do pescado como principal fonte protéica são as mais afetadas pela contaminação mercurial, já que a partir da sua entrada na cadeia alimentar o metal inicia um processo de biomagnificação. Sendo assim, o longo período de exploração aurífera proporcionou conseqüências maléficas tanto ao meio ambiente quanto a população amazônida, até os dias atuais, principalmente, devido a sua característica de bioacumular-se à medida que ultrapassa os níveis tróficos (SANTOS et al. 2000; SANTOS et al. 2003; SÁ et al. 2006; MIRANDA et al. 2007; GURJÃO et al. 2010; JESUS, MARINHA, MOREIRA, 2010; KEHRIG et al. 2011) Neste trabalho, objetiva-se avaliar e comparar o valor de mercúrio total em áreas impactadas e aquelas que não sofreram ação garimpeira, representadas pela Comunidade de Barreiras e Município de Juruti, respectivamente, Estado do Pará, verificando as características do mercúrio e do pescado que provavelmente são responsáveis pelo aumento da concentração mercurial em áreas controle.

MATERIAL E MÉTODOS: A comunidade de Barreiras, está localizada às margens do rio Tapajós, pertencente ao município de Itaituba, sudoeste do Estado do Pará. O município de Juruti pertence à mesorregião do Baixo Amazonas e a microrregião de Óbidos. Juruti fica na região do Baixo Amazonas, no oeste do Pará, sendo habitada por cerca de 35 mil habitantes e localizado a 900 km de Belém.(IBGE, 2010). Foram coletadas amostras de diferentes espécimes de pescado ao longo do rio Tapajós e Amazonas. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, cuidadosamente identificados para evitar contaminação, congeladas e transportadas em recipientes térmicos com gelo reciclável até o laboratório para os procedimentos analíticos. Após, as amostras foram pesadas, digeridas em meio ácido e a determinação do Hg, foi através da técnica de Espectrometria de Absorção Atômica por Vapor Frio (CVAAS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As concentrações de mercúrio total no tecido muscular das espécies carnívoras apresentaram média de 0,66ug/g, acima do que é preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 0,5ug/g, com variação de 0,30 e 0,98ug/g. Enquanto que as espécies não-carnívoras apresentam valores abaixo dos índices estabelecidos pela legislação (OMS) com média de 0,09 ug/g, variando entre 0,02 e 0,44 ug/g. Neste estudo, as espécies de peixes, classificadas genericamente como não carnívoros, apresentaram diferenças significativas nos teores de HgT no tecido muscular, sendo inferiores quando comparados com as espécies de peixes carnívoros, provavelmente devido a fatores ambientais e principalmente, às características das espécies, tais como: idade, tamanho, hábito alimentar, composição e capacidade de migração.Realizando análise de componentes principais foi verificado que as componentes PC1 e PC2 representam 70,7% de variância total dos dados e fornecem discriminatória das amostras. Através do gráfico de scores (figura 1) se observa a formação de dois agrupamentos, sendo um grupo de peixes carnívoros e outro grupo peixes não-carnívoros. Essa observação é concordante, porque peixes carnívoros tendem a ter maior teor de Hg pelo processo de biomagnificação, já que a região possui forte impacto causado pela ação garimpeira e conseqüentemente a um despejo desordenado de Hg no rio. As tendências observadas das PCAs foram confirmadas através do gráfico dos loading obtido pela análise de componentes principais (PCA) (figura 2).As amostras provenientes de peixes carnívoros formaram um agrupamento devido ao alto grau de similaridade de 88% e os peixes não carnívoros apresentaram uma similaridade de 93%, distinguidos pela absorção de Hg.

Análise de Componente Principal (PCA) das amostras de Pescado

Análise de Componente Principal (PCA) das amostras de Pescado.

Gráfico dos Loading das Análise do Componente Principal (PCA) das amos

Gráfico dos Loading das Análise do Componente Principal (PCA) das amostras de Pescado

CONCLUSÕES: Os dados referentes a este trabalho demonstram valores elevados de mercúrio total em peixes carnívoros na comunidade de Barreiras (0,66g/g) e no município de Juruti (0,73g/g), estando acima do permitido pela legislação vigente, e teores mercuriais pequenos em peixes não-carnívoros, sendo 0,09g/g a média encontrada em Barreiras e 0,07g/g no pescado de Juruti.Contudo, apesar do pescado amazônida apresentar teores significativos de mercúrio total, não foram registrados sinais ou sintomas de distúrbio neurológicos relacionados ao metal pesado e sua forma orgânica (metilmercúrio).

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro e aos colaboradores do Instituto Evandro Chagas (IEC/SVS/MS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AKAGI, H. Studies on mercury pollution in the Amazon, Brazil. Global Environmental Research. v. 2, n. 2, p. 193-202, 1998.
FAIAL, K. R. F. et al. Níveis de mercúrio em peixes do rio trombetas no baixo amazonas: uma área sem influência da garimpagem. Caderno Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.13, n.1, p. 237-248, 2005.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Censos e Estimativas. Brasília: IBGE, 2005.

JESUS, L. F; MARINHA, M. S; MOREIRA, F. R. Amálgama dentário: fonte de contaminação por mercúrio para a Odontologia e para o meio ambiente. Caderno de Saúde Coletiva. v. 18, n. 4, p. 15-509, 2010.
LACERDA, L. D . Contaminação por mercúrio no Brasil: Fontes industriais vs Garimpo de Ouro. Química Nova. v. 20, n. 2, p. 196-199, 1996.