ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Extrato etanólico de flores de Combretum lanceolatum Pohl. apresenta potencial antioxidante em fígado de ratos diabéticos.

AUTORES: Dechandt, C.R.P. (UFMT) ; Souza, D.L.P. (UFMT) ; Siqueira, J.T. (UFMT) ; Andrade, C.M.B. (UFMT) ; Kawashita, N.H. (UFMT) ; Baviera, A.M. (UFMT)

RESUMO: Diabetes mellitus é uma doença que apresenta elevada incidência e prevalência na população mundial. Estudos experimentais e clínicos sugerem que o estresse oxidativo esteja envolvido na etiologia das diversas complicações crônicas do diabetes mellitus. Este estudo tem como objetivo avaliar os efeitos do extrato etanólico das flores de Combretum lanceolatum sobre as enzimas pertencentes aos sistemas antioxidantes endógenos e sobre os marcadores de estresse oxidativo em fígado de ratos em modelo experimental de diabetes induzido por estreptozotocina. Para tal investigação, foram utilizados métodos colorimétricos para quantificação da atividade de enzimas envolvidas nos sistemas antioxidantes endógenos, níveis de glutationa reduzida e determinação dos níveis do marcador de estresse oxidativo.

PALAVRAS CHAVES: Combretum lanceolatum Poh; Diabetes melitus; Estresse oxidativo

INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus é considerado um problema mundial de saúde pública; estima- se que cerca de 285 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de diabetes e acredita-se que esse número possa atingir a casa dos 440 milhões até 2030 (SHAW et al., 2010); vale a pena destacar que o Brasil pode ocupar neste mesmo ano a sexta posição mundial na prevalência de casos de diabetes, com 11,3 milhões de casos (WILD et al., 2004). O diabetes está associado a complicações que comprometem a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos. Além disso, esta patologia acarreta elevados custos para o paciente na tentativa de se alcançar um adequado controle metabólico bem como para o tratamento de suas complicações (ROCHA et al., 2006). Assim, cresce a cada dia a procura de compostos naturais para auxiliar no controle das conseqüências causadas pelo diabetes, muitas destas causadas pelo aumento na geração das espécies reativas do oxigênio (EROs). Antioxidantes são compostos que atuam inibindo e/ou diminuindo os efeitos desencadeados pelas EROs em certas patologias, como o diabetes mellitus. O objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antioxidante in vivo do extrato etanólico das flores de Combretum lanceolatum em fígados de ratos diabéticos através da investigação das alterações nas defesas antioxidantes endógenas, tais como níveis de glutationa reduzida (GSH), atividade das enzimas catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase (GPx); também foram investigados os danos causados pelas EROs sobre os lipídeos, através da determinação dos níveis de malondialdeído (MDA).

MATERIAL E MÉTODOS: Ratos Wistar machos (180-200g) foram divididos (6 animais por grupo) em animais normais (N) e diabéticos (D, indução por estreptozotocina 40mg/kg i.v.), tratados (T) com extrato etanólico de flores de Combretum lanceolatum (ClEtOH, doses de 250 e 500 mg/kg) durante 21 dias. Animais do grupo controle (DC) receberam veículo (água). Após o tratamento os animais foram eutanasiados e o fígado coletado para as análises. O conteúdo de MDA hepático foi determinado através da dosagem das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (KHON & LIVERSEDGE, 1944, modificado por PERCARIO et al., 1994); o conteúdo de GSH foi determinado através de método colorimétrico descrito por Sedlack et al. (1968); a atividade da CAT foi determinada de acordo com método descrito por Beutler et al. (1982); a atividade da SOD foi determinada através de método colorimétrico descrito por Woolliams et al. (1986) utilizando kit da marca Randox®; a atividade da GPx foi mensurada através de método UV baseado em Paglia e Valentine (1967) utilizando kit da marca Randox®.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O diabetes é um modelo adequado para o estudo das alterações relacionadas ao estresse oxidativo. Alterações relacionadas ao estresse oxidativo no diabetes (ROBERTSON et al., 2006; NEWSHOLME et al., 2007) foram observadas no presente modelo experimental, uma vez que animais do grupo DC apresentaram aumento nos níveis de MDA e diminuição na atividade da CAT em relação aos animais do grupo N. O tratamento com ClEtOH promoveu, aumento na atividade da GPx de 14% e 43% nas doses de 250 e 500 mg/kg, respectivamente, em relação ao grupo DC (N=0,284±0,010; DC=0,341±0,009; DT250=0,390±0,013; DT500=0,490±0,029 U/mg de proteína). Apesar de não terem sido observadas diferenças nos valores de GSH entre os grupos DC e N, o tratamento com ClEtOH, nas duas doses utilizadas, foi capaz de promover um aumento nas defesas antioxidantes endógenas, uma vez que os níveis de GSH em fígado de animais diabéticos tratados foram maiores em comparação aos grupos DC e N (N= 2,244±0,102; DC=2,369±0,201; DT250=3,078±0,236; DT500=3,149±0,173; mili mol de GSH/g de tecido). A atividade da CAT foi 23% e 44% maior em fígado de animais tratados com ClEtOH nas doses de 250 e 500 mg/kg, respectivamente, em relação ao grupo DC (N=14,50±3,2; DC=5,25±0,19; DT250=6,46±0,25; DT500=7,57±0,72; 10000 U/mg de proteína); já a atividade da SOD foi 5% e 31% menor em animais dos grupos DT250 e DT500; respectivamente, em relação ao grupo DC (N= 0,107±0,013; DC=1,194±0,607; DT250=1,148±0,239; DT500=0,816±0,187; U/mg de proteína). A melhoria na atividade antioxidante promovida pelo extrato levou a uma diminuição de 31% e 44% no conteúdo hepático de MDA nas doses de 250 e 500 mg/kg, respectivamente, em relação ao grupo DC (N=0,0377±0,001; DC=0,0683±0,005; DT250=0,0471±0,003; DT500=0,0380±0,002; mili mol de MDA/g de tecido).

CONCLUSÕES: A redução nos níveis hepáticos de MDA, biomarcador da peroxidação lipídica, em fígado de ratos diabéticos tratados com extrato de flores de Combretum lanceolatum pode ser uma consequência no aumento observado da atividade das enzimas antioxidantes CAT e GPx e nos níveis de GSH, que estão envolvidos no combate dos efeitos das EROs. Desta forma, podemos concluir que o extrato apresentou ação antioxidante in vivo, em modelo de estresse oxidativo promovido pelo diabetes.

AGRADECIMENTOS: Apoio financeiro: UFMT, INCT em Áreas Úmidas (INAU) Apoio técnico: Air Francisco Costa

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