ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Quantificação de fenóis e taninos totais das cascas de Myracrodruon urundeuva (aroeira do sertão), coletas no município de Bom Jesus-PI

AUTORES: Scopel, K. (UFPI-CPCE) ; Trindade, E.F. (UFPI-CPCE) ; Lins-neto, E.M.F. (UFPI-CPCE) ; Osajima, J.A. (UFPI-CPCE) ; Monteiro, J.M. (UFPI-CPCE) ; Souza, J.S.N. (UFPI-CPCE)

RESUMO: As cascas de 4 indivíduos de Myracrodruon urundeuva (aroeira do sertão) foram coletadas no município de Bom Jesus-PI, para quantificação de fenóis e taninos totais. Seus extratos metanólicos foram utilizados para análise, em triplicata, na UFPI/CPCE. A quantificação de fenóis totais foi pelo método Folin-Ciocalteu e os taninos totais pelo método da precipitação da caseína, tendo ácido tânico como padrão. Os valores de fenóis e taninos totais das amostras foram semelhantes, variando, respectivamente, entre 44,13-44,64 e 38,28-39,33 mg. Os rendimentos de fenóis totais foram entre 8,66-8,86% e de taninos totais entre 7,78-7,87%. Os dados sugerem que praticamente todos os fenóis presentes nas cascas da espécie M. urundeuva são taninos, podendo ser uma promissora fonte deste grupo.

PALAVRAS CHAVES: Myracrodruon urundeuva; fenóis; taninos

INTRODUÇÃO: A fitoterapia, o uso de plantas com fins terapêuticos, é uma tradição milenar identificada em várias civilizações desde os primórdios da humanidade (HOSTETTMANN; HAMBURGER, 1991). Como no passado, as plantas representam um recurso terapêutico nas comunidades mais excluídas e sua utilização muitas vezes é resultada de conhecimentos empíricos. Esta característica das plantas tem chamado à atenção da comunidade científica no sentido de comprovar a eficácia e promover o uso seguro desses recursos naturais (VAN STADEN et al., 2004). As plantas superiores continuam sendo fontes de drogas clinicamente úteis na medicina popular ocidental, sendo que várias prescrições médicas, nos países industrializados, contêm substâncias derivadas de plantas superiores (BRAQUET; HOSFORD, 1991). Pesquisas mostram que plantas com indicação terapêutica apresentam grande importância no Nordeste do país (ALMEIDA et al., 2002). O reino vegetal apresenta diversos grupos químicos que em função de sua estrutura, qualidade energética e complexas combinações possibilitam diversas aplicações. Dentre esses grupos, destacam-se: alcalóides, fenóis, flavonóides, óleos essenciais, taninos e terpenos (VASCONCELOS; LIBERATO; MORAIS, 2004). Os taninos possuem a característica de formar complexos com proteínas, insolúveis em água, que devido a essa propriedade apresentam atividades biológicas como a adstringência, a ação cicatrizante e anti-inflamatória (ALBUQUERQUE et al., 2005). Os compostos fenólicos são importantes estruturas que estão associadas à atividade antioxidante (MORAIS; BRAZ-FILHO, 2007). Neste trabalho, foram quantificados os fenóis e taninos totais presentes nas cascas da espécie Myracrodruon urundeuva (aroeira do sertão), coletadas no município de Bom Jesus, região sul do Estado do Piauí.

MATERIAL E MÉTODOS: A espécie arbórea selecionada foi a Myracrodruon urundeuva (aroeira do sertão). A coleta dos 4 indivíduos foi realizada no município de Bom Jesus-PI. As exsicatas foram enviadas para identificação ao Herbário Graziela Barroso. As amostras foram secas a temperatura de 50ºC, durante três dias e trituradas no Laboratório de Química Orgânica (UFPI/CPCE) para análise do teor de fenóis e taninos totais. A preparação dos extratos metanólicos, em triplicatas, foi realizada a partir de 500 mg do material e 25 mL de solvente (80%), sob aquecimento, até início da ebulição e filtração do material. A quantificação de fenóis totais foi realizada pelo método Folin-Ciocalteu e taninos totais pelo método da precipitação da caseína, usando o ácido tânico como padrão (SCHOFIELD; PELL; MBUGUA, 2001). O método Folin-Ciocalteu consiste na adição de 0,3 mL do extrato, 5 mL do reagente Folin-Ciocalteu (10%-v/v), 10 mL de carbonato de sódio (0,75%-m/v), completando volume (100 mL) com água destilada. O teor de taninos totais a partir da adição de 1g de caseína, em 6 mL de extrato e 12 mL de água destilada. A mistura resultante foi agitada por 2 horas a temperatura ambiente (25ºC) e filtrada em papel de filtro (9 cm Whatman). Adicionou-se à solução água destilada até volume de 25 mL. 4 mL de Alíquotas da solução foram testadas para fenóis residuais usando o método de Folin-Ciocalteu. A leitura da absorbância foi realizada em espectrofotômeto, em comprimento de onda 760 nm. A curva de calibração foi desenvolvida com solução de ácido tânico padrão nas concentrações: 0,1; 0,5; 1,0; 2,5 e 3,8μg.mL-1. O teor de taninos corresponde a diferenças da absorbância das amostras precipitadas com caseína e aquelas obtidas pela análise de fenóis totais (ALBUQUERQUE et al., 2005; MONTEIRO et al., 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Diferenças na produção de taninos entre indivíduos da mesma espécie e entre espécies distintas foram testadas pelo X(quadrado), utilizando o programa BIOESTAT 5.0. (AYRES et al., 2000). Para determinação dos teores de fenóis totais e taninos totais nos extratos, utilizou-se a equação da curva de calibração: y = 0,0393x + 0,0036, obtida a partir das diferentes concentrações de ácido tânico padrão, em que y é a absorbância e x é a concentração da amostra μg.mL-1. O valor do coeficiente de correlação quadrada de 0,9798 está nos limites de correção aceitáveis. A curva de calibração obtida está representada na Figura 1. Os dados da Tabela 1 evidenciam que os valores obtidos para os diferentes parâmetros, entre os 4 (quatro) indivíduos da espécie em estudo, estão bastante similares. Os valores da quantificação de fenóis totais (% equivalente ao ácido tânico) variam entre 44,13 a 44,64 mg, com desvios padrões bastante baixos variando entre 0,29 a 0,59. Segundo Monteiro e colaboradores (2005), os valores de fenóis totais presentes nas cascas da espécie em questão são de 46,44 mg (desvio padrão de 7,05). Os rendimentos percentuais, em relação ao material seco, estão compreendidos entre 8,66-8,86%. Esses dados descritos na Tabela 1 demonstram que os resultados estão em conformidade com a literatura. Em relação à quantificação dos taninos totais, os valores variam entre 38,28 a 39,33 mg, com desvios padrões variando entre 0,51 a 0,80, dentro dos limites aceitáveis. Esses dados estão de acordo com a literatura (MONTEIRO et al., 2005), que relata a presença de taninos, nas cascas dessa espécie, no valor de 40,93 mg (desvio padrão de 5,37). Enquanto, que os rendimentos percentuais estão na faixa de 7,78-7,87%.

Figura 1-Curva de calibração

concentração de ácido tânico em mg.mL-1 pela absorbância

Tabela 1-Quantifição de fenóis e taninos totais em M. urundeuva



CONCLUSÕES: O presente trabalho evidencia que os valores de fenóis totais (mg), nas cascas da espécie Myracrodruon urundeuva, estão compreendido entre 44,13 e 44,64 mg (8,66-8,86%); enquanto que a quantidade de taninos totais está na faixa de 38,87 a 39,87 mg (7,78-7,87%.). Esses dados sugerem que os fenóis, presentes nas cascas da espécie em estudo, praticamente são constituídos de taninos, com teores bastante próximos. Essa espécie, portanto, pode ser considerada uma promissora fonte de compostos do grupo dos taninos.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALBUQUERQUE, U. P.; MONTEIRO, J. M.; ARAÚJO, E. L.; AMORIM, E. L. C. Taninos: uma abordagem da química à ecologia. Química Nova, v. 28, p. 892-896, 2005.
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