ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Análise Fitoquímica Qualitativa dos Extratos de Campomonesia sp. e Isolamento do Ácido Betulínico.

AUTORES: Malcher, G.T. (UFRN) ; Santos, S.P.D. (UFRN) ; Lima Filho, E.O. (UFRN) ; Araujo, R.M. (UFRN) ; Souto, C.R.O. (UFRN)

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo a identificação das classes de metabolitos especiais presentes nos extratos de Campomonesia sp. por meio de testes fitoquímicos qualitativos, bem como a confirmação da presença de esteroides, através do isolamento do β-sitsterol, e, identificação da presença de triterpenos, através do isolamento do ácido betulínico. Os testes químicos qualitativos indicaram somente a presença de taninos, flavonoides, saponinas e esteroides, sendo negativo para triterpenos. As substâncias isoladas foram identificadas através de análises de RMN 1H e comparação com dados da literatura.

PALAVRAS CHAVES: Campomonesia sp.; Fitoquímica; Ácido Betulínico

INTRODUÇÃO: O espécime Campomonesia pertence à família Myrtaceae, a qual abrange um número de gêneros estimado em 100 (BARROSO et al, 2001), e um número de espécies em torno de 3.500. Tradicionalmente a família é dividida em duas subfamílias as Leptospermoideae e as Myrtoideae, que foram estabelecidas com base na estrutura e consistência dos frutos. (GEMTCHÚJNICOV, 1976) Algumas espécies do gênero Campomonesia encontradas na literatura apresentaram atividade biológica e toxidade diversificada, como atividade antioxidante in vitro encontrada em Campomonesia lineatifolia Ruiz e Pav. (MADOLOSO, 2011); Atividade antiulcerogênica e toxicidade aguda com ratos em Campomonesia xanthocarpa (MARKMAN et al, 2004 apud MADOLOSO, 2011); Atividdae anti-Mycobacterium tuberculosis (PAVAN et al, 2009 apud MADOLOSO, 2011) e antioxidante e antimicrobiana contra Staphylococcus aureus, Peseudomanos aeuginosa e Candida abicons encontrados em Campomonesia adamantium (COUTINHO et al, 2009 apud MADOLOSO, 2011); tendo assim uma vasta contribuição para industria farmacêutica. As espécies do gênero também tem uma grande importância econômica diversificada. Seus frutos são comestíveis por varias espécies de pássaros e mamíferos, sendo também usados na produção de doces caseiros, sorvetes, licores e refrescos (VALLILO et al, 2005). O estudo da abordagem fitoquímica facilita a escolha do material a ser estudado, possibilitando a adaptação das técnicas de fracionamento e isolamento dos extratos e caracterização de substâncias puras, de acordo com a natureza dos constituintes mais interessantes. A técnica de prospecção tem como objetivo de detectar possíveis classes de constituintes químicos de extratos de plantas (MATOS, 2009).

MATERIAL E MÉTODOS: O espécime de Campomonesia sp. foi coletado em janeiro de 2010 na localidade de Goianinha-RN pelo professor Edilberto Rocha Silveira da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os galhos (juntamente com os talos) e as folhas, secos e maoídos, foram submetidos à extração exaustiva com etanol em temperatura ambiente e concentrados em rotaevaporador, obtendo-se os extratos EEGTC (40,71 g), para os galhos e talos e EEFC (151,83g) para as folhas. Os extratos obtidos foram submetidos á testes químicos qualitativos para detectar as classes de metabólitos especiais presentes (Tabela 1), de acordo com o roteiro de análise fitoquímica de extratos vegetais (MATOS, 2009; BARBOSA et al, 2004). Foram realizados testes para taninos, flavonoides, saponinas, esteroides e triterpenos. Após os testes, o EEGTC foi submetido à cromatografia filtrante utilizando como eluentes o hexano, clorofórmio, acetato de etila e metanol em ordem crescente de polaridade (Fluxograma 1). O fracionamento cromatográfico da fração clorofórmica (EEGC-C), resultou na obtenção de 159 frações, as quais foram reunidas conforme sua semelhança após análise cromatográfica. A fração 74-103 mostrou-se promissora na análise cromatográfica em placa e foi submetida à cromatografia flash, utilizando H/C/A (8,5:1:0,5), em um sistema isocrático de eluição, permitindo o isolamento de um sólido branco amorfo (63,8 mg), o qual foi denominado de EEGTC-1. A fração 129-159, foi submetida a sucessivas cromatografias em coluna, utilizando sílica flash, possibilitando a obtenção de um sólido amarelado, o qual foi submetido a lavagem com hexano e clorofórmio (H/C 7:3), possibilitando o isolamento de um sólido branco que foi denominado de EEGTC-2. As substâncias isoladas foram analisadas por RMN 1H e comparadas com os dados da literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os testes químicos qualitativos realizados identificaram a presença de taninos, flavonoides, saponinas e esteroides, sendo negativo para triterpenoides, para ambos os extratos. As evidências experimentais observadas para cada teste encontram-se na Tabela 1. A confirmação da presença de esteroides foi possível através do isolamento do esteroide comumente encontrado em plantas, o β-sitosterol, anteriormente denominado de EEGTC-1. A fração EEGTC-2 foi identificada como o triterpeno ácido betulínico, o que se mostrou contrário ao resultado do teste qualitativo para essa classe. Porém, parece evidente que a presença de esteroides não anula a presença de triterpenos, como sugere os resultados dos testes qualitativos da literatura. A elucidação estrutural das substâncias isoladas foi feita através da análise dos seus espectros de RMN 1H, valores de ponto de fusão e comparação com os dados da literatura. Por se tratarem de substâncias muito comuns e já bastante relatadas na literatura, não será descrita a determinação estrutural para o β-sitosterol, somente alguns sinais apresentados no espectro de RMN 1H para o ácido betulínico, os quais são bastante característicos. Dentre eles, os sinais em δH 4,96 e 4,78 (d), correspondentes aos hidrogênios vinílicos (H-29) da ligação dupla terminal e um sinal em δH 3,45 (H-3, dd), característico da presença de um hidrogênio carbinólico evidenciando a configuração β para o grupo hidroxila.

Tabela 01

Dados de procedimentos experimentais, evidências e resultados observados para testes químicos qualitativos de EEGTC e EEFC.

Fluxograma 01

Procedimento Experimental do Fracionamento Cromatográfico de Campomonesia sp.

CONCLUSÕES: O estudo químico qualitativo de Campomonesia sp. revelou o indicativo da presença de taninos, flavonoides, saponinas e esteroides, sendo negativo para triterpenos, para o extrato etanólico dos galhos e talos e extrato etanólico das folhas. O isolamento de β-sitoterol confirmou a presença de esteroides, e, o isolamento do ácido betulínico indicou a presença de triterpenos no extrato etanolico dos galhos e talos de Campomonesia sp.. Esses resultados mostraram que o estudo fitoquímico da espécie em questão é promissor por revelar a presença de classes importantes na Química de Produtos Naturais.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARROSO, G. M.; PEIXOTO, A. L.; ICHASO, C. L. F.; COSTA, C. G.; GUIMARÃES, E. F.; LIMA, H.C. Myrtaceae. In: Sistemática de Angiospermas do Brasil. 2001. 2:114-126.
GEMTCHÚJNICOV, I. D. Manual de Taxonomia Vegetal: Plantas de Interesse Econômico - Agrícolas, ornamentais e medicinais. 1976.
MADOLOSO, R.C. Avaliação da toxicidade aguda e da atividade gastroprotetora de extratos de Campomonesia lineatifolia Ruiz & Pav. em roedores. 2011. Dissertação (mestrado em ciências farmacêuticas). Universidade Federal de Minas Gerais.
MATOS, F. J. A. 2009. Introdução à Fitoquímica Experimental.
VALLILO, M. I.; GARBELOTTE, M. L.; OLIVEIRA, E.; LAMARDO, L.C.A. 2005. Características físicas e químicas dos frutos do cambucizeiro (Campomanesia phaea). Revista Brasileira de Fruticultura, 27: 241-244.