ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Investigações por Espectrofotometria em Preparações de Folhas de Alpinia zerumbet Quanto à Presença de Lectina

AUTORES: Simões, S.S. (UFPE) ; Nascimento, K.T.O. (UFPE) ; Silva, D.G.R. (UFPE) ; Freitas, M.R.V. (UFPE) ; Sá, R.A. (UFPE)

RESUMO: Alpinia zerumbet é uma planta medicinal usada como calmante e para hipertensão. O termo lectina refere-se à habilidade dessas proteínas ligarem-se seletivamente e reversivelmente a carboidratos. Em vegetais as lectinas são freqüentemente isoladas de sementes, folhas e entrecascas. De acordo com esta especificidade, as lectinas apresentam várias propriedades biológicas: inseticidas, antimicrobianas e antitumorais. O objetivo deste trabalho foi detectar atividade lectínica em extratos aquosos de folhas de Alpinia zerumbet. A extração foi realizada utilizando-se NaCl 0,15M; Fosfato de sódio pH 7,5; Citrato-fosfato pH 5,5 e Tris-HCl pH 9,02. O extrato em NaCl 0,15 M foi o que apresentou uma melhor atividade hemaglutinante específica de 351,7 UH/mg.

PALAVRAS CHAVES: Lectina; Alpinia zerumbet; Atividade Hemaglutinante

INTRODUÇÃO: Alpinia zerumbet (colônia, jardineira ou alpínia) é uma espécie herbácea, de origem asiática, introduzida no Brasil no século XIX e encontra-se dispersa nas regiões tropicais (VISGUEIRA, 2004). O chá preparado com as folhas, flores ou raízes tem sido usado no tratamento caseiro da hipertensão (LORENZI & MATOS, 2002). Os produtos naturais, por apresentarem poucos efeitos colaterais e baixo custo, têm sido extensivamente utilizados para o tratamento de inúmeras doenças, formando a base de uma indústria comercial bastante lucrativa. O uso indiscriminado de drogas comerciais comumente utilizados no tratamento de doenças que atingem o ser humano e as plantas vem promovendo o surgimento de novos patógenos com múltipla resistência. A triagem de extratos de plantas para evidenciar a presença de novos compostos com atividade antimicrobiana, antifúngicas e inseticidas é uma fonte potencial de medicamentos mais efetivos (DI STASI et al., 2002). Lectinas são proteínas que apresentam específica e reversível ligação a carboidratos de superfícies celulares. Podem ser monovalentes, um sítio ligante glicídico por monômero, ou polivalente, mais de um sítio ligante glicídico por monômero. Devido as suas propriedades ligantes, as lectinas possuem inúmeras propriedades biológicas importantes, entre elas a capacidade de aglutinar eritrócitos, fungos e bactérias (PEUMANS & VAN DAMME, 1995). As lectinas podem ser aplicadas nos diversos campos de interesse clínico e biotecnológico, tais como: tipagem de eritrócitos, inibição de células tumorais, ação contra microorganismos e insetos, como as larvas do mosquito vetor da dengue, Aedes Aegypti. (SÁ et al., 2008a; SÁ et al., 2008b; SÁ et al., 2009).

MATERIAL E MÉTODOS: Para a preparação dos extratos, a farinha da planta Alpinia zerumbet foi colocada em contato com diferentes soluções-tampão (NaCl 0,15M; Fosfato de sódio pH= 7,5; Citrato-fosfato pH= 5,5 e Tris-HCl pH= 9,02). Após 4 horas de agitação, os extratos obtidos foram centrifugado a 4000 rpm por 15 minutos, a temperatura ambiente. Esses extratos foram utilizados para determinação da atividade hemaglutinante (AH) e concentração protéica. A atividade lectínica dos extratos foi realizada em placas de microtitulação. Foram colocados 50µL de NaCl 0,15M em cada poço; em seguida, foram adicionados ao segundo poço 50 µL da amostra a ser avaliada. Após uma diluição serial, 50µL de eritrócitos do tipo O+ foram adicionados em todos os poços e as placas foram incubadas por 45 min. A AH correspondeu ao inverso da maior diluição (título -1) na qual ainda se observou a aglutinação total dos eritrócitos. Esta atividade está relacionada à especificidade e afinidades dos sítios de ligação das lectinas a carboidratos presentes nas paredes dos eritrócitos, de acordo com PAIVA e COELHO (1992). Os extratos também foram avaliados quanto à presença de proteínas por espectrofotometria. O método utilizado foi o de LOWRY et al (1951). O princípio do método baseia-se numa mistura contendo molibdato, tungstato e ácido fosfórico, (reagente Folin-Ciocalteau), que sofre uma redução quando reage com proteínas, na presença do catalisador cobre (II), e produz um composto com absorção máxima em 750 nm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os extratos foram realizados nas diferentes soluções de extração protéica e aglutinaram eritrócitos glutarizados de coelhos e de humano do tipo O+ (Tabela1). A AH está relacionada à especificidade e afinidades dos sítios de ligação das lectinas a carboidratos presentes nas paredes dos eritrócitos determinadas, principalmente, por pontes de hidrogênio, com a ajuda de forças de van der Walls e interações hidrofóbicas com os resíduos de aminoácidos aromáticos. Os extratos de A. zerumbet apresentaram elevadas concentrações protéicas em praticamente todos os tampões (Tabela 1). A AH específica (AHE) é definida pela razão AH/concentração de proteínas (mg/mL). Dentre as soluções de extração de proteínas, observou-se que o extrato em NaCl 0,15M apresentou maior AHE (351,7 UH/mg) em eritrócitos humanos (Tabela1). As lectinas de Splenostyles stenocarpa (MACHUKA et al., 1999) também apresentaram preferência para tipo O. Eritrócitos de coelho foram selecionados para os ensaios de AH da lectina devido à facilidade de obtenção e menor risco em sua manipulação. Os eritrócitos de coelho são rotineiramente utilizados para determinação de AH de lectinas. A diferença de AH entre diferentes tipos de células é devido a diferenças na cadeia de glicoproteínas da superfície dos eritrócitos, que podem não ser reconhecidas pela lectina ou ser fracamente ou, ainda, fortemente reconhecidas. Eritrócitos de coelho geralmente são os escolhidos devido à facilidade de obtenção e menor risco em sua manipulação.

Tabela 1. Valores da dosagem protéica, AH e AHE

Valores da dosagem de proteínas, AH em eritrócitos humanos e de coelhos e AHE dos extratos de Alpinia zerumbet

CONCLUSÕES: Alpinia zerumbet possui em suas folhas atividade lectínica, detectada em todos os extratos e sensível ao tempo de extração. O extrato realizado em NaCl 0,15M apresentou uma melhor atividade hemaglutinante específica em eritrócitos humanos glutarizados e será utilizado no processo de purificação da lectina.

AGRADECIMENTOS: Ao Laboratório de Química da UFPE - Campus Agreste

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: DI STASI, L. C.; OLIVEIRA, G. P.; CARVALHAES, M. A.; QUEIROZ, M.; TIEN, O. S.; KAKINAMI, S. H.; REIS, M. S. Medicinal plants popularly used in the Brazilian Tropical Atlantic Forest. Fitoterapia 73: 69-91, 2002.

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LOWRY, O. H., ROSEMBROUGH, N. J., FARRR, A. L.; RANDALL, R. J. Protein measurement with the folin phenol reagent. Journal of Biological Chemiistry 193: 265-275, 1951.

MACHUKA, J. S.; OKEOLA, O.G.; ELS, J. M. V. D.; CHRISPEELS, M. J.; LEUVEN, F. V.; PEUMANS, W. J. Isolation and partial characterization of galactose-specific lectins from African yam beans, Sphenostyles stenocarpa Harms. Phytochemistry 51: 721 -728, 1999.

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VISGUEIRA, M. F.; PEREIRA, D. R; SILVA, O.D.V.; SOARES, E.B; BEZERRA, A.M.E.; Propagação Vegetativa de Colônia Através de Rizomas. UFPI-CCA/Depto. de Fitotecnia, UFPI-CCA, Núcleo de Plantas Aromáticas e Medicinais, 2004