ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Fração volátil do óleo-resina de Copaifera langsdorffii bioativa sobre isolados bacterianos da placa dental de cães

AUTORES: Pieri, F.A. (ILMD-FIOCRUZ / UFAM / UFV) ; Silva, V.O. (UFV) ; Vargas, F.S. (UFAM) ; Veiga Junior, V.F. (UFAM) ; Moreira, M.A.S. (UFV)

RESUMO: O objetivo foi obter uma amostra apolar da fração volátil de um óleo de C. langsdorffii e avaliar sua bioatividade sobre bactérias da placa dental de cães. A fração foi obtida por cromatografia em coluna aberta com gradiente de hexano e acetato de etila. A bioatividade foi avaliada sobre oito Streptococcus sp. seis Enterococcus sp. e seis Staphylococcus sp. obtidos da placa dental de cães, por difusão em ágar. Os resultados apontaram inibição de 18/20 isolados pela fração obtida, sendo resistentes apenas um Enterococcus sp. e um Streptococcus sp. Conclui-se que a fração obtida apresenta bioatividade sobre bactérias da placa dental de cães e se apresenta como potencial fonte de compostos alternativos à clorexidina na terapia da doença periodontal.

PALAVRAS CHAVES: Compostos apolares; Antibacterianos; Odontologia veterinária

INTRODUÇÃO: Copaibeiras são árvores comuns à America Latina e Oeste da África, sendo encontradas no Brasil em várias regiões, como na Amazônia, região sudeste e centro oeste. No sudeste do Brasil destaca-se a Copaifera langsdorffii que se apresenta com ampla distribuição. Estas árvores produzem um exsudato, o óleo de copaíba, que tem sido utilizado pela medicina popular, por mais de 500 anos, para diversas finalidades terapêuticas (PIERI et al., 2009). O óleo é composto por duas frações, uma resinosa composta de diterpenos e outra volátil, apolar, composta em sua maioria por sesquiterpenos (VEIGA JUNIOR E PINTO, 2002). Entre as propriedades medicinais do óleo de copaíba mais estudadas destacam-se a anti-inflamatória, antimicrobiana, cicatrizante e antitumoral (LEANDRO et al., 2012). Um estudo apresentou a composição química de C. langsdorffii (GRAMOSA E SILVEIRA, 2005), relatando diversos sesquiterpenos com atividade conhecida sobre alguns micro-organismos. A doença periodontal, é a afecção que mais acomete os cães, chegando a 85% de prevalência em animais com mais de quatro anos (KYLLAR E WITTER, 2005). Seu agente etiológico é a placa bacteriana dental, e a reação do sistema imunológico a estes micro-organismos. Assim, pode-se afirmar que o combate às bactérias desta placa reverte-se em ação preventiva à formação da doença (PIERI at al., 2010). A clorexidina é a substância utilizada pela atualmente no combate a estes micro-organismos, entretanto pelos seus inúmeros efeitos colaterais, tem se buscado novas alternativas, com destaque aos princípios ativos de produtos naturais (PIERI et al., 2010). Neste ínterim, o presente trabalho objetivou obter uma amostra apolar de um óleo de C. langsdorffii e avaliar sua bioatividade sobre bactérias da placa dental de cães.

MATERIAL E MÉTODOS: A amostra foi obtida a partir da fração volátil do óleo-resina por meio de cromatografia em coluna utilizando gel de sílica (70-230 mesh) na proporção de 1:40, eluída com gradiente de solventes hexano e acetato de etila (250 mL). As análises de composição química da fração foram feitas por cromatografia em fase gasosa acoplada a detector de ionização de chama (CG-DIC) para análise quantitativa dos compostos e foi utilizada cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG-EM) para comparação dos dados obtidos com a literatura. A solução teste foi formulada com a fração obtida à concentração de 100µL/mL, solubilizada em água com tween 80 a 100mg/mL. Foi utilizada também uma solução controle negativo com água destilada estéril e tween 80 a 100mg/mL. As soluções foram testadas quanto ao seu potencial antimicrobiano contra 20 isolados da placa dental de cães, sendo oito diferentes Streptococcus sp., seis Staphylococcus sp. e seis Enterococcus sp.) Adaptando a técnica de difusão em ágar cilindro em placas (ESMERINO et al., 2004), Da cultura bacteriana ajustada à escala 0,5 de MacFarland, 100µL foram semeados com o auxílio de alça de Drigalski em placas de Petri de 9cm descartáveis previamente preparadas com uma camada inferior de 10mL de ágar bacteriológico, e outra superior com 20mL de ágar infusão cérebro e coração. Com o uso de ponteiras estéreis de 200µL, foram feitos dois orifícios esféricos no ágar BHI distribuídos equidistantes nas placas, onde foram adicionados 100µL da respectiva solução. As placas foram incubadas em estufa a 37°C por 24h. Foram considerados resultados positivos halos inibição de qualquer tamanho ao redor do orifício. Os testes foram feitos em triplicata com duas repetições em tempos distintos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os espectros da fração obtida apresentaram 62 picos, sendo identificados como compostos majoritários os sesquiterpenos β-bisaboleno, δ-amorpheno, e α- bergamoteno, e o hidrocarboneto diterpênico Kaur-16-eno, representando juntos 58,07% do total da amostra. Os sesquiterpenos β-bisaboleno e α-bergamoteno são apresentados como dois dos principais compostos deste grupo na composição dos óleo-resinas de copaíba, e o δ-amorpheno e o kaur-16-eno também têm sido apontados como componentes de óleos de copaíba de acordo com Leandro et al. (2012). A solução teste apresentou atividade antimicrobiana sobre 18/20 isolados testados, sendo resistentes apenas um de Enterococcus sp. e um de Streptococcus sp. Os halos de inibição variaram entre 10 e 15mm se apresentando como mais sensível um isolado de Streptococcus (Figura 1). O grupo dos Streptococcus no geral também se apresentou como o mais sensível, com moda de 12mm entre os isolados contra 10mm e 11mm dos isolados de Enterococcus e Staphylococcus respectivamente. O óleo de copaíba tem sido apresentado por diversos estudos como potencial inibidor da multiplicação bacteriana de componentes da placa dental de humanos e cães (PIERI et al., 2012; PIERI et al., 2010; SANTOS et al., 2008). Em estudo anterior, Pieri (2012) apresentou a atividade antimicrobiana de uma fração volátil do óleo de C. langsdorffii, sobre isolados bacterianos da placa dental de cães, incluindo os três gêneros utilizados no presente estudo. Este trabalho promoveu um re-fracionamento da parte volátil do óleo, obtendo uma mistura com quantidade menor de constituintes, e apresentando potenciais compostos inibitórios destas bactérias, por sua presença majoritária.

Halos de inibição

Média dos halos de inibição conferidos por fração sesquiterpânica de um óleo de C. langsdorffii sobre isolados bacterianos da placa dental de cães.

CONCLUSÕES: Os resultados obtidos no presente estudo sugerem a fração obtida e caracterizada como uma potencial fonte de compostos alternativos à clorexidina na terapia da doença periodontal, através da inibição da multiplicação das bactérias componentes da placa dental. Ainda conclui-se que os compostos α-bergamoteno, β-bisaboleno, δ- amorpheno e Kaur-16-eno se apresentam como fortes candidatos a serem estes compostos.

AGRADECIMENTOS: Os Autores agradecem à FAPEAM, FAPEMIG, CAPES e CNPq pelo suporte financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ESMERINO, L.A. PEREIRA, A.V. ADAMOWICS, T.; BORGES, D.M.; TALACIMON, E.A.; SCHELESKY, M.E. 2004. Método microbiológico para determinação da potência de antimicrobianos. Cienc Biol Saúde, 10:53-60.

GRAMOSA, N.V.; SILVEIRA, E.R. 2005. Volatile constituents of Copaifera langsdorffii from the Brazilian Northeast. J Essent Oil Res, 17:130-132.

KYLLAR, M.; WITTER, K. 2005. Prevalence of dental disorders in pet dogs. Vet Med, 50:496-505.

LEANDRO, L.M.; VARGAS, F.S.; BARBOSA, P.C.S.; NEVES, J.K.O.; SILVA, J.A.; VEIGA JUNIOR, V.F. 2012. Chemistry and biological activities of terpenoids from copaiba (Copaifera spp.) oleoresins. Molecules, 17:3866-3889.

PIERI, F.A.; MUSSI, M.C.M.; FIORINI, J.E.; MOREIRA, M.A.S.; SCHNEEDORF, J.M. 2012. Bacteriostatic effect of Copaiba oil (Copaifera oficinallis) against cariogenic bacteria Streptococcus mutans. Braz Dental J, 23:36-38.

PIERI, F.A. MUSSI, M.C.M.; FIORINI, J.E.; SCHNEEDORF, J.M. 2010. Clinical and microbiological effects of copaiba oil (Copaifera officinalis) on dental plaque forming bacteria in dogs. Arq Bras Med Vet Zootec, 62:578-585.

PIERI, F.A.; MUSSI, M.C.M.; MOREIRA, M.A.S. 2009. Óleo de copaiba (Copaifera sp.): histórico, extração, aplicações industriais e propriedades medicinais. Rev. Bras. Plantas Med., 11:465-472.

PIERI, F.A. 2012. Atividade antimicrobiana do óleo de copaíba (Copaifera langsdorffii) e seus constituintes, e avaliação do bioproduto obtido na inibição de bactérias da placa dental de cães. 91f. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG.

SANTOS, A.O.D.; UEDA-NAKAMURA, T.; DIAS FILHO, B.P.; VEIGA JUNIOR, V.F.; PINTO, A.C.; NAKAMURA,C.V. 2008. Antimicrobial activity of Brazilian copaiba oils obtained from different species of the Copaifera genus. Mem Inst Oswaldo Cruz, 103:277-281.

VEIGA JÚNIOR, V.F.; PINTO, A.C. 2002 O gênero Copaifera L. Quim Nova, 25:273-286.