ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Virola surinamensis COMO ESPÉCIE PRODUTORA DE SUBSTÂNCIAS BIOLOGICAMENTE ATIVAS: BIOENSAIOS DE ATIVIDADE ANTIMICROBIANA

AUTORES: Silva, L.O. (UFPA) ; Paes, S.S. (UFPA) ; Junior, M.L.L. (UFPA) ; Araújo, R.N.M. (UFPA) ; Santos, L.S. (UFPA) ; Correa, M.E.S. (UFPA) ; Dolabela, M.F. (UFPA) ; Guilhon, G.M.S.P. (UFPA)

RESUMO: O estudo teve como objetivo isolar e identificar substâncias das folhas da espécie Virola surinamensis e avaliar a atividade antimicrobiana de extratos e frações da planta. Foram obtidos os extratos hexânico, acetato de etila e metanólico. O fracionamento do extrato acetato de etila levou ao isolamento e identificação dos esteroides sitosterol (S1), estigmasterol (S2) e da neolignana 8.O.4´ suranamensina (S3). Os extratos brutos, juntamente com as frações FA1, FA2, FA3 e FA4 obtidas do extrato acetato de etila foram avaliados frente a bactérias Gram negativas Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa, Gram+ Staphylococcus aureus e ao fungo Candida albicans. As amostras não inibiram o crescimento microbiano apenas FA3 inibiu o crescimento de Staphylococcus aureus.

PALAVRAS CHAVES: virola surinamensis; antimicrobiano; surinamensina

INTRODUÇÃO: O uso de rapés por índios da Amazônia, a partir de Myristicaceae, como fonte de narcóticos poderosamente alucinogênicos, despertou o interesse químico e farmacológico na década de 1950 pelas espécies dessa família.(SCHULTES; HOLMSTEDT, 1971). Dentre as mais conhecidas espécies de Virola está a V. surinamensis (Rol.) Warb. (Myristicaceae), e conhecida popularmente como ucuuba, ucuuba-branca, ucuúba-cheirosa, ucuúba-da-várzea, ucuúba-verdadeira, virola, entre outros. Virola surinamensis (Rol.) Warb. é utilizada contra reumatismo e artrite (HOEHNE,1939). Na medicina popular também é utilizada como cicatrizante e no tratamento de cólicas e dispepsias (SCHULTES e HOLMSTED, 1971). A resina obtida das cascas é utilizada para o tratamento de erisipelas e inflamação (SCHULTES e HOLMSTED, 1971; BERGER, 1992). A atividade antifúngica de diversas espécies de plantas do gênero Virola, incluindo V. surinamensis, foi atribuída à presença de lignóides na composição de diferentes partes da planta (RODRIGUEZ et al., 1996; PAGNOCCA et al., 1996; LEMUS & CASTRO, 1989). Neolignanas sintéticas do tipo 8.O.4´ também apresentaram atividades antifúngicas (ZACCHINO et al., 1997). Entre os importantes grupos de metabolismo secundário vegetal, está os lignóides, que possuem essenciais funções tanto para as plantas que as produzem, quanto para o homem que extrai ou sintetiza. Sendo que para as plantas e evidenciado que os lignóides apresentam um papel em adaptação ecológica, pois lignanas são acumulados em madeira em resposta a ferimentos mecânicos, ou ocasionados por fungos ou bactérias. (CHEN, 1976). Desta forma, a presente pesquisa teve como objetivo isolar e identificar substâncias das folhas de Virola surinamensis, bem como avaliar a atividade antimicrobiana dos extratos e frações.

MATERIAL E MÉTODOS: O material botânico (folhas de Virola surinamensis) foi submetido a extração à temperatura ambiente por percolação sequencial com hexano (8L), acetato de etila (6L) e metanol (5L) durante sete dias para cada solvente. As soluções obtidas foram concentradas a vácuo, originando assim os extratos brutos Hexânico (HEX) Acetato de Etila (AcOEt) e Metánolico (MeOH). O extrato AcOEt foi fracionado em coluna filtrante utilizando como eluentes misturas de hexano, acetato de etila e metanol em gradientes de polaridades crescentes, onde foram coletadas 26 frações. Após reunião foi obtida a fração 1 (FA1, 37 mg). A fração 2 (Hex/AcOEt 11%) apresentou formação de cristais, sendo isoladas e identificadas as substâncias estigmasterol (S1) e sitosterol (S2). Da fração 4 (HEX/AcOEt 20%) após refracionamento foi isolada a neolignana do tipo 8.O.4` surinamensina (S3). Uma parte do extrato AcOEt foi solubilizado com solução MeOH:H2O (7:3) e submetido à partição liquido-liquido com AcOEt. Após concentração a partição AcOEt foi fracionada e as frações reunidas conforme o perfil cromatográfico obtendo-se 30 subfrações. As subfrações 15-18 foram reunidas em FA2 (531 mg). A subfração 09 (HEX/AcOEt 15%) foi codificada como FA3 (15 mg) e a subfração 07 (HEX/AcOEt 10%) codificada como FA4. Visando avaliar o potencial antifúngico e antibacteriano, por meio do teste de difusão em agar, os extratos hexânico, acetato de etila e metanólico, assim como as frações FA1, FA2, FA3 e FA4 foram testadas em bactérias Gram negativas (Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa), Gram + (Staphylococcus aureus) e fungo (Candida albicans).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os dados de RMN de 1H e 13C das substâncias estigmasterol (S1) e sitosterol (S2) foram comparados com dados da literatura e estão de acordo com os dados dessas substâncias (AHMED; AHMAD; MALIK, 1994). O espectro de RMN 1H e 13C de S3 em comparação com os dados da literatura (BARATA; BAKER; GOTTLIEB; RUVEDA, 1978) estão de acordo com a da neolignana 8.O.4´ surinamensina. O extratos hexânico, acetato de etila e metanólico obtidos das folhas de V. surinamensis não foram ativos para Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Candida albicans. As frações FA1, FA2 e FA4 obtidas da fração acetato de etila não inibiram o crescimento de Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e Candida albicans. Entretanto, a fração FA3 foi moderadamente ativa frente à Staphylococcus aureus, porém não inibiu o crescimento de Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Candida. albicans. Como a fração FA3 apresentou um potencial antimicrobiano moderado para S.aureus, e visando compreender melhor este potencial foi realizado o ensaio da microdiluição, sendo utilizadas concentrações de 1000, 500, 250, 125, 62,5 e 31,25 µg/mL. Após aplicação em placa do ensaio de microdiluição e adição do MTT (tiazoli lazul de tetrazólio), observou-se que em todas as concentrações não houve inibição do crescimento bacteriano, sendo a concentração inibitória mínima superior a 1000 µg/mL. Baseado nos critérios adotados em trabalhos da literatura (HOLETZ, et al. 2002) pode-se sugerir que essa fração é inativa frente ao S. aureus.

CONCLUSÕES: Neste trabalho foram isoladas e identificadas três substâncias o estigmasterol, o sitosterol e a neolignana surinamensina. Baseado nos resultados dos ensaios biológicos dos extratos e frações obtidos das folhas de V. surinamensis pode-se sugerir que os extratos MeOH, HEX e do AcOEt bem como as frações FA1, FA2 e FA4 oriundas do AcOEt, não possuem potencial antimicrobiano. Somente a fração FA3 inibiu o crescimento de Staphylococcus aureus no teste de difusão em Agar, porém não apresentou atividade bacteriostática.

AGRADECIMENTOS: Universidade Federal do Pará Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AHMED, W.; AHMAD, Z.; MALIK, A. Phytochemistry 1994.V. 37, 1517.
BARATA, L.E. S.; BAKER, P; GOTTLIEB, O. R; RUVEDA, E. A. Phytochemistry 1978,V. 17, 783.
BERGER, M.E., 1992. Plantas Medicinais da Amazônia, 2nd edition. CNPq, Brasil, p. 207.
CHEN, C.L.; CHANG, H. M.; COWLING E. B.; Hsu, C. Y. H.; GATES, R.P.; Phytochemistry 56, 116, 1, 1976.
HOEHNE, E.C. Plantas e substâncias vegetais tóxicas e medicinais. Coletânea de aulas. São Paulo: Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, 1939.355p.
HOLETZ, FB; PESSINI, GL; SANCHES, NR; CORTEZ, DA; NAKAMURA, CV 2002. screening of some plants used in the Brazilian folk medicine for the treayment of infectious diseases. Mem I Oswaldo Cruz 97: 1027-1031.
LEMUS, S.M., CASTRO, C.O. Spectroscopy, v.7, n.5-6, p.353-8, 1989.
PAGNOCCA, F.C. et al. J. Chem. Ecol., v.22, n.7, p.1325-30, 1996
RODRIGUEZ, G. et al. Anais da XIV Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil 127, 1996.
SCHULTES, R. E.; HOLMSTED, B. Comments on poisonous plants from tropical new world.8. Miscellaneous plants of South-America. Lloydia, v.34, n.1, p.61-90, 1971.

ZACCHINO, S. et al. In vitro evaluation of antifungal properties of 8.0.4’- neolignans. J. Nat. Prod., v. 60, n. 7, p. 659-662,1997.