ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: ANÁLISE QUÍMICA E AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE DO EXTRATO DAS RAÍZES DE Solanum paniculatum L.

AUTORES: Tenório, J.A.B. (UFRPE) ; Monte, D.S. (UFRPE) ; Silva, T.G. (UFPE) ; Militão, G.C.G. (UFPE) ; Silva, T.M.S. (UFRPE) ; Ramos, C.S. (UFRPE)

RESUMO: O câncer é uma doença do material genético das nossas células. Dados epidemiológicos tem demonstrado sua elevada incidência, surgindo a necessidade da descoberta de novos medicamentos para seu tratamento. Muitas drogas utilizadas na quimioterapia foram isoladas de espécies vegetais, desta maneira as plantas são uma fonte potencial para novos fármacos antitumorais. As raízes da Solanum paniculatum (Solanaceae), conhecida popularmente como “jurubeba”, foram escolhidas como objeto do nosso estudo. Foi determinado o perfil do extrato por infravermelho. O ácido clorogênico foi identificado por HPLC/DAD. O bioensaio de Artemia salina apresentou uma CL50 = 352,9 µg/mL. Além de apresentar CI50 = 92 ± 0,6 µg/mL e 57 ± 2,4 µg/mL, para as linhagens HL-60 e HT-29, respectivamente.

PALAVRAS CHAVES: Solanum paniculatum; citotoxicidade; ác. clorogênico

INTRODUÇÃO: O câncer é uma doença do material genético (genoma) de nossas células e decorre de um acúmulo progressivo de mutações. Estas alterações no código genético fazem com que células que possuíam um ciclo celular bem definido cresçam de forma desordenada. Estima-se que em 2020 o número de casos novos de câncer anual seja da ordem de 15 milhões. No Brasil, no ano de 2012, esperam-se 14.180 casos novos de câncer do cólon e reto em homens e 15.960 em mulheres, 4.570 casos de leucemia em homens e 3.940 em mulheres (INCA, 2012). Surge neste contexto a necessidade da descoberta de novos agentes para o tratamento do câncer, os produtos naturais possuem posição de destaque nessas pesquisas, visto que, diversos medicamentos encontrados no mercado para o tratamento das neoplasias são de origem vegetal. Dentre eles, encontram-se, os alcaloides da vinca, vincristina e vimblastina, o plactaxel da casca de Taxus brevifolia, a camptotecina da Camptotheca acuminata (CRAGG, 2005). Nesta perspectiva, escolhemos as raízes da Solanum paniculatum L., pertencente a família Solanaceae, conhecida popularmente como “jurubeba”, “jurubeba-roxa”, “jurubeba- verdadeira” como objeto do nosso estudo, visando um novo agente antitumoral, frente ao bioensaio com Artemia salina Leach que tem demonstrado correlação com a citotoxicidade em algumas linhagens celulares humanas (MACLAUGHLIN, 1991), como também nas linhagens tumorais HT-29 (carcinoma de cólon - humano) e HL-60 (leucemia promielocítica).

MATERIAL E MÉTODOS: As raízes de S. paniculatum foram coletadas na mata de Dois Irmãos - Recife/PE, trituradas em moinho de facas, seguido de tamisação (tamis malha 10), 46 g do pó obtido, foi extraído em Soxhlet com 200 mL de diclorometano, seguido de extração em etanol, que após secagem em evaporador rotativo, forneceu 4,35 g de extrato (EEtOH). 30 mg do EEtOH foi solubilizado em água (pH 2, 0,5 mL) e MeOH (0,5 mL) e passado em cartucho de SPE (C18). A fração obtida (13 mg) foi solubilizada em MeOH (2 mL) e analisada por HPLC-DAD (C-18). A análise do EEtOH por Infra Vermelho por Transformada de Fourier (FTIR) foi obtida no equipamento Varian modelo 640-IR. A CL50 do EEtOH frente as linhagens HL-60 e HT-29 foram determinadas pelo método do MTT, onde as células foram adicionadas em placas de 96 cavidades na concentração de 1 x 105 células/mL. O EEtOH foi solubilizado em DMSO, seguido de diluições sucessivas, de 50 µg/mL até 0,3 µg/mL, e adicionados no meio DMEN, seguido de incubação por 72 horas em estufa a 5% de CO2 e 37°C. Em seguida, foram adicionados 25 mL da solução de MTT, sendo incubadas por 3h, com posterior leitura em espectrofotômetro a 595nm (MOSMAN, 1983). Para o bioensaio com Artemia salina foram colocados 5 mL de diferentes concentrações do EEtOH em tubos de ensaio, e 10 náuplios de Artemia salina L. foram adicionados. O conjunto foi incubado sob luz artificial por 24 horas e após este período foi realizada a contagem do número de larvas vivas e mortas (MEYER et al., 1982). As análises estatísticas foram realizadas utilizando o Software Graphpad prism 5.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O perfil do EEtOH por FTIR, assim como a análise por HPLC-DAD (290 nm) pode ser observada na figura 1. O pico 1 foi identificado como o ácido clorogênico. A determinação da toxicidade frente ao microcrustáceo Artemia salina Leach encontrou uma CL50 = 352.9 µg/mL com um intervalo de confiança entre 343,8 - 357,1 µg/mL. Os resultados referentes às análises citotóxicas do EEtOH encontram-se na tabela 1. Os resultados obtidos demonstram que o EEtOH possui atividade citotóxica, inibindo a proliferação de cerca de 92% do crescimento celular das células HL-60, referente a leucemia promielocítica, e 57% das células HT-29, referentes ao carcinoma de cólon. Esta atividade pode estar relacionada a presença do ác. Clorogênico, visto que em estudos relatados na literatura demonstram que o ác. Clorogênico exerce ações antioxidantes, citotóxicas, antitumorais, antibacterianas, antifúngicas e antiinflamatórias (GARAMBONE, 2007). A ação citotóxica do ác. Clorogênico, está relacionada com a capacidade de regular a alteração fenotípica de células tumorais, apresentando ação antagônica a substâncias que induzem a mitose celular, sugerindo uma possível propriedade anti-cancerígena, podendo assim ser considerada uma substância funcional (BELKAID, 2006). Na avaliação da toxicidade de produtos naturais pelo bioensaio de A. salina, valores da CL50 menores que 1000 µg/mL representam produtos bioativos (MEYER, 1982). A CL50 = 352,9 µg/mL apresentada pelo extrato corroborou com sua atividade citotóxica.

Figura 1

Perfil do EEtOH por FTIR (acima) e cromatograma após extração em SPE (abaixo).

Tabela 1

Determinação da CI50 das raízes de S. paniculatum em diferentes linhagens celulares.

CONCLUSÕES: O presente trabalho demonstrou que o extrato etanólico das raízes de Solanum paniculatum, apresenta bioatividade ao ensaio de Atemia salina Leach, atividade citotóxica frente a linhagens de células tumorais HL-60 e HT-29. Foi reportado o perfil do EEtOH por FTIR, e HPLC/DAD, sendo o ácido clorogênico identificado, dados estes que servem de parâmetros para seu controle de qualidade.

AGRADECIMENTOS: CAPES, CENAPESQ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BELKAID, A. et al. 2006. The chemopreventive properties of chlorogenic acid reveal a potencial new role for the microssomial glucose-6-phosphatase translocase in brain tumor progression. Cancer Cell Int., 6(1):7-18.

CRAGG, G. M.; NEWMAN, D. J. 2005. Plants as source of anticancer agents. J. Ethnopharmacol., 100:72-79.

GAROMBONE, E; ROSA, G. 2007. Possíveis benefícios do ácido clorogênico a saúde. Alim. Nutr. 18:229-235. INCA, 2012. http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/ acessado em 7/7/2012.

MACLAUGHLIN, J.L. 1991. Methods in plant biochemistry. Vol.6, Ed. Hostettmann K., Academic press, London.

MEYER, B.N.; FERRIGNI, N.R.; PUTNAM, J.E.; et al.1982. Brine shrimp: a convenient general bioassay for active plant constituents. PLANTA MED., 45:31-4.

MOSSMAN, T. 1983. Rapid colorimetric assay for cellular growth and survival:application to proliferation and cytotoxicity assays. J. Immunol. Methods, 65: 55-63.