ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA CITOTOXICIDADE DO β-CAROTENO ASSOCIADO À FUMAÇA DA Cannabis sativa EM DUAS LINHAGENS DE CÉLULAS TUMORAIS: HL-60 E TH-29

AUTORES: Monte, D.S. (UFRPE) ; Tenório, J.A.B. (UFRPE) ; Ramos, C.S. (UFRPE) ; Silva, T.G. (UFPE) ; Militão, G.C.G. (UFPE)

RESUMO: A Cannabis sativa, conhecida popularmente como “maconha”, é considerada uma droga ilegal no Brasil devido aos seus efeitos psicoativos. Esta espécie vegetal tem demonstrado benefícios terapêuticos para alívio de náuseas e vômitos associada com o cancro, AIDS. Deviso o aumento do seu consumo com o passar do tempo, este trabalho analisou a possível interação entre a fumaça da C. sativa com o β-caroteno (BC) através de testes citotoxicos em linhagens de células tumorais, pois os fumantes ingerem alimentos ricos em BC. Estes testes apresentaram para a amostra de BC + C. sativa um CI50 = 94,7 ± 1,7 e 58,2 ± 8,0, para as linhagens HL-60 e HT-29, respectivamente. Comparando-se estes resultados com os controles (BC e C. Sativa), sugere-se que o BC diminuiu os efeitos deletérios desta fumaça.

PALAVRAS CHAVES: Cannabis sativa; β-caroteno; citotoxicidade

INTRODUÇÃO: Cannabis sativa é uma planta herbácea, conhecida no Brasil pelo nome de “maconha”, sendo constituída de aproximadamente 400 substâncias químicas, dessas mais de 60 são canabinoides (BRITO et al., 2009). Esta planta apresenta grande potencial terapêutico, apesar das suas propriedades psicotrópicas, sendo utilizada com fins de alimentação, rituais religiosos e práticas medicinais (HONÓRIO et al., 2006). O uso medicinal da C. sativa hoje é permitido em alguns estados americanos e em países como Holanda e Bélgica, para aliviar sintomas (como náuseas e vômitos) relacionados ao tratamento de câncer, AIDS e esclerose múltipla. O fumo crônico da maconha provoca alterações das células respiratórias e aumenta a incidência de câncer de pulmão entre os usuários (HONÓRIO et al., 2006). O β-caroteno (BC) é um carotenóide abundante na natureza e vários estudos in vitro indicaram que ele pode inibir o crescimento de células humanas alteradas e, consequentemente, seria classificado como um possível anticarcinogênico (LOWE, 2009). Entretanto, a realização dos testes clínicos “α-tocopherol, β-carotene Cancer Prevention Study” (ATBC) e “Beta-carotene and Retinol Eficacy Trial” (CARET), que suplementavam indivíduos com altas dosagens de BC, demonstrou que fumantes crônicos tiveram aumento do risco de câncer de pulmão (PALOZZA et al., 2006; LOWE et al., 2009). Devido ao uso cada vez maior da maconha para fins medicinais, como também para seu uso recreativo, o presente trabalho teve como objetivo analisar a possível interação entre a fumaça da C. sativa e do BC através de testes de citotoxicidade nas linhagens de células tumorais HT-29 (carcinoma de cólon - humano) e HL-60 (leucemia promielocítica). Salientando que não há relatos na literatura de estudos da associação desses dois compostos.

MATERIAL E MÉTODOS: O β-caroteno foi adquirido da Sigma-Aldrich e a Cannabis sativa foi doada pelo Instituto de Criminalística de Pernambuco. Foram preparados cigarros de maconha e a fumaça foi gerada com o auxílio de uma seringa de 50 mL, 02 tubos de silicones medindo 10 cm cada e uma pipeta de Pasteur. A cada 20 minutos foram borbulhadas 50 mL da fumaça dentro de um balão volumétrico de 200 mL contendo 40 mL de hexano, durante o período de 10 horas. Para obtenção da amostra de β-caroteno associado à fumaça de maconha, a mesma metodologia foi aplicada, utilizando-se no balão volumétrico uma solução composta de 10 mg de β-caroteno e 40 mL de hexano. Todas as amostras foram secas em rota-evaporador. As amostras (β-caroteno, fumaça de maconha e β-caroteno + fumaça de maconha foram diluídas em DMSO puro estéril e testadas na concentração de 0,3 até 25 µg/mL. A doxorrubicina foi usada como controle positivo. A Análise da citotoxicidade foi feita pelo método do MTT, que é uma análise colorimétrica baseada na conversão do sal 3-(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2-H-brometo de tetrazolium (MTT) em azul de formazan, a partir de enzimas mitocondriais presentes somente nas células metabolicamente ativas e tem a capacidade de analisar a viabilidade e o estado metabólico da célula (BERRIDGE et al., 1996). As células foram plaqueadas na concentração de 1 x 105 células/mL. As amostras foram diluídas em série no meio DMEN para obtenção das concentrações finais (50 μg/mL) e adicionadas em placa de 96 poços (100μL/poço). As placas foram incubadas por 72 horas em estufa a 5% de CO2 a 37C. Em seguida, foram adicionados 25 L da solução de MTT, e as placas foram incubadas por 3h. A absorbância foi lida após dissolução do precipitado com DMSO puro em espectrofotômetro de placa a 595nm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados das análises encontram-se expressos na tabela 1. Observa-se que o β-caroteno (BC) teve uma alta mortalidade das células tumorais, sendo as células HL-60 mais sensíveis à ação deste carotenóide. Estudos mais aprofundados sobre a atuação BC em células tem sugerido que o BC induz a apoptose de células alteradas e/ou defeituosas, o que possibilita o desenvolvimento de novas estratégias no tratamento do câncer (BRIVIBA et al., 2001; YANHONG et al., 2007). Quando se analisa e compara os demais resultados da tabela 1, observamos que a associação do BC com a fumaça de C. sativa teve um CI50 menor do que a fumaça de C. sativa pura, ou seja, houve uma diminuição do efeito deletério causado pela fumaça nas células tumorais. Esta redução sugere que o BC esta atuando como antioxidante e mostrando-se mais eficiente nas células tumorais HT-29. Os testes realizados neste trabalho ainda são preliminares para se chegar a uma conclusão devido a ausência de pesquisas que avaliem o efeito do consumo da C. sativa associado ao BC. Para melhor se entender o possível sinergismo da fumaça da C. sativa com o BC, mais testes citotóxicos, análises químicas e de mecanismos de ação são necessários.

Figura 01

Determinação do CI50 do β-caroteno, da fumaça de C. sativa e do β-caroteno associado à fumaça de C. sativa em linhagens celulares HL-60 e HT-29.

CONCLUSÕES: Os testes de citotoxicidade mostraram que o β-caroteno diminuiu os efeitos deletérios da fumaça da maconha nas duas linhagens de células tumorais HL-60 e HT-29, com maior efeito na linhagem de carcinoma de cólon. Sugerindo que o β-caroteno esta agindo como antioxidante sobre os compostos da fase gasosa da Cannabis sativa, entretanto estudos complementares devem ser realizados.

AGRADECIMENTOS: CENAPESQ, PGQ/UFRPE, DA/UFPE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BERRIDGE, M. V., TAN, A. S., McCOY, K. D., WANG, R. 1996. The Biochemical and Cellular Basis of Cell Proliferation Assays that Use Tetrazolium Salts. Biochemica, 4: 14-19.
BRITO, A. T., ROSA, B. T., NOGUEIRA-FILHO, G.R., TODESCAN, S. M. C. 2009. Avaliação histométrica em ratos do efeito da fumaça da Cannabis sativa (maconha) no reparo ósseo ao redor de implantes de titânio. R. Periodontia, 19(2):100-108.

BRIVIBA, K., SCHNÄBELE, K., SCHWERTLE, E., BLOCKHAUS, M., RECHKEMMER, G. 2001. β-Carotene Inhibits Growth of Human Colon Carcinoma Cells in Vitro by Induction of Apoptosis. Biol. Chem., Germany, 382:1663 – 1668.

HONORIO, K. M., ARROIO, A., SILVA, A. B. F. 2006. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Química Nova, 29(2):318-325.

PALOZZA, P., SERINI, S., TROMBINO, S., LAURIOLA, L., RANELLETTI, F.O., CALVIELLO, G. 2006. Dual role of β-carotene in combination with cigarette smoke aqueous extract on the formation of mutagenic lipid peroxidation products in lung membranes: dependence on pO2. Carcinogenesis, 27(12):2383–2391.

YANHONG, C., ZHONGBING LU, BAI, L., SHI, Z., ZHAO, W., ZHAO, B. 2001. β-Carotene induces apoptosis and up-regulates peroxisome proliferator-activated receptor γ expression and reactive oxygen species production in MCF-7 cancer cells. Europen Jornal of Cancer, 43:2590-2601.