53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Alimentos

TÍTULO: ESTUDO AVALIATIVO DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR LONGITUDINAL EM MARGARINAS COM DIFERENTES PORCENTAGENS DE LIPÍDEOS.

AUTORES: Araújo de Paula, L. (UEG) ; Silvestre Faleiro, D. (UEG) ; M. da S. Evangelista, J. (UEG) ; N. de Morais, L. (UEG) ; de Sousa Oliveira, M. (UEG)

RESUMO: Margarina é considerada uma emulsão entre diferentes óleos vegetais e água classificada pela ANVISA como um creme vegetal. A margarina é usada como um substituto próximo da manteiga na alimentação humana, sendo comercializada com diferentes porcentagens de lipídeos. Experimentalmente construiu-se um sistema cilíndrico isolado termicamente e realizou-se ensaios de transferência de calor por condução e propagação longitudinal, em regime transiente com margarinas de diferentes porcentagens de lipídeos. Os resultados obtidos mostram que a margarina não é um bom condutor térmico, pois apresentou significativa resistência a transferência de calor ao longo do sistema. Deduziu-se através do estudo que as margarinas com diferentes teores de lipídeos apresentam diferentes sensibilidades térmicas.

PALAVRAS CHAVES: margarina; difusividade; resfriamento

INTRODUÇÃO: Na ANVISA, não há uma legislação específica para margarina e, portanto, essa se enquadra na legislação de cremes vegetais. Assim de acordo com a Portaria 193 da ANVISA, que creme vegetal é emulsão entre diferentes óleos vegetais comestíveis e água (Brasil, 1999). As margarinas podem ser encontradas com concentrações de lipídeos que variam de 20 a 80% e esta concentração influencia a temperatura que a emulsão pode atingir quando aquecida. Margarinas com 20% de gordura demoram a atingir as temperaturas adequadas, necessitando de evaporação de água. A caracterização de margarinas do tipo light é feita através da maior concentração de água e menor concentração de lipídeos (ARAUJO et al., 2008). Propriedades térmicas são propriedades físicas encontradas nos fenômenos de transferências de calor. Entre essas propriedades pode-se citar a difusividade térmica, condutividade térmica, calor específico e massa específica. Essas propriedades variam de acordo com a composição química, umidade e porosidade do material (OLIVEIRA, 2009). O conhecimento das propriedades térmicas de substâncias alimentícias é essencial para a eficiência e controle das operações de processamento de alimentos que envolvem transferência de calor e para isso torna-se necessária a presença dessas propriedades em cálculos de avaliação de projetos e sistemas de engenharias de alimentos, bem como a aplicabilidade de modelos equacionais termodinâmicos (ALVES et al., 2012). As características de transferência de calor de um material sólido são medidas por uma propriedade denominada condutividade térmica (k), medido em (W/m.K). O valor de k é uma constante de proporcionalidade e mede a capacidade que a substância possui de transferir calor (RAMOS et al. 2005).

MATERIAL E MÉTODOS: Em dois tubos cilíndricos de PVC, dotados de três furos para a acomodação de cada termômetro, os quais estavam igualmente espaçados pelo tubo. O sistema foi isolado termicamente com PVC e cortiça, pois apresentam resistência à transferência de calor por condução com o ambiente devido ao seu baixo valor de condutividade térmica (k) e papel laminado com o objetivo de eliminar a transferência de calor por radiação proveniente do meio externo. Fechou-se a base com uma chapa torneada soldada de alumínio e o topo fechado termicamente com uma tampa de cortiça. (Figura 1). Em um dos tubos encheu-se de margarina com 80% de lipídeos e no outro com margarina de 30% de lipídeos. A transferência de calor foi verificada através da aferição dos termômetros. Na realização do resfriamento, colocou-se cada tubo em banho de gelo separadamente, e registrou-se inicialmente a leitura das temperaturas a cada 2 minutos e depois a com intervalos de 5 minutos até o sistema atingir o equilíbrio térmico com o meio. Em seguida realizou-se o aquecimento, o qual se retirou o tubo do banho de gelo e deixou-se o sistema exposto à temperatura ambiente até que o mesmo atingisse o equilíbrio térmico com o meio e anotou-se as temperaturas conforme realizado no resfriamento. Neste experimento realizado o escoamento do fluxo de calor ocorre em regime transiente (dQc/dt≠ 0) e assim a distribuição de temperatura é dada através do balanço de energia do corpo, de acordo com a equação da distribuição de temperatura descrita na equação (1). ( 1)/r ∂/∂r (r ∂T/∂r)+ 1/r^2 (∂^2 T)/(∂ϕ^2 ) +(∂^2 T)/〖∂z〗^2 + q/k=1/α ∂T/∂t Onde “r” representa o raio, “ϕ” o ângulo, “z” a altura, “T” a temperatura, “k” a condutividade térmica, “α” a difusividade térmica e “t” (COSTA, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: As distribuições de calor de forma longitudinal ao longo dos sistemas estudados apresentaram características distintas para cada sistema especifico. De modo geral observa-se que o calor foi melhor distribuído nos sistemas com menor concentração de lipídios (30%). Observa se que os pontos que compõe os gráficos de resfriamento (Figuras 2 e 3) apresentam uma grande diferença entre as curvas T1 e T2 e uma diferença relativamente baixa entre as curvas T2 e T3. O calor de um sistema flui de regiões de maior temperatura para regiões de menor temperatura, dessa forma a região do sistema mais próxima do banho de gelo perde calor de forma mais rápida. No gráfico de resfriamento para a margarina de 80% observa-se que os termômetros 2 e 3 mostraram pouca variação de temperatura em relação ao sistema contendo a margarina de 30%, os quais foram mais sucintos a tal variação. Esses resultados mostram que quanto maior a concentração de lipídios no sistema melhor a tendência à resistência a perda de calor. O experimento de aquecimento térmico foi realizado logo após o experimento de resfriamento, ou seja, os três termômetros presentes em cada sistema estavam a temperaturas diferentes. Para os sistemas de aquecimento observa-se comportamento relativamente análogo (Figuras 4 e 5). Observa se que a curva T1 em ambos os sistemas apresentaram um aumento de temperatura mais intenso em relação às curvas T2 e T3, devido ao fato desta região estar mais próxima com a fonte doadora de calor. Observa se que a margarina de 30% ao longo do tempo de 120 a 140 minutos, tende a entrar em equilíbrio térmico de forma significativamente mais rápida do que a margarina de 80%. Devido a sua maior concentração de água que é melhor condutora de calor e devido a maior difusividade térmica da margarina de 30%.

Figura 1

Sistema construído para a realização do experimento de transferência de calor.

Figura 2

Gráfico de resfriamento para a margarina 30% de lipídeos.

Figura 3

Gráfico de resfriamento para a margarina 80%.

Figura 4

Gráfico de aquecimento para a margarina 30% de lipídeos.

Figura 5

Gráfico aquecimento a temperatura ambiente para a margarina com 80% de lipídeos.

CONCLUSÕES: Os lipídeos são ótimos armazenadores de calor e como a margarina é um produto derivado da emulsão de lipídeos é de se esperar o comportamento observado. Observou-se que a porcentagem de lipídeos influencia na difusividade da margarina de uma forma que pode ser observada tanto no aquecimento quanto no resfriamento. Em geral observou-se que ambos os sistemas possuem uma alta resistência de entrar em equilíbrio térmico. Também foi observado que ambas possuem uma condutividade e difusividade térmica significativamente baixa, contudo esses valores são superiores para a margarina de 30% em lipídeos.

AGRADECIMENTOS: Agradeço imensamente a minha orientadora Professora Orlene pelos grandes ensinamentos, aos integrantes deste grupo e também a instituição UEG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALVES, D. dos S. et al. Avaliação da distribuição de temperatura em pasta comercial de pequi. Universidade Estadual de Goiás: Anais do X Seminário de Iniciação Científica, VII Jornada de Pesquisa, 17 a 19 de outubro de 2012.

ARAUJO, W. M. C. et al. Alquimia dos alimentos: alimentos e bebidas. Senac, v.2, 2008.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria n.193 de 09 mar. 1999. Aprova o regulamento técnico referente a creme vegetal constante do anexo desta portaria. Disponível em: <http:// www.anvisa.gov.br/legis/portarias/193_99.htm>.Acesso em: 14 jan. 2004.

COSTA, O. S. da. Fenômenos de transporte II: Transferência de calor e massa. Anápolis, p.10, 2012.

OLIVEIRA, Edilma Pereira. Estimação da difusividade térmica de iogurtes comerciais – aplicação do método flash. 2009. 120 p. Dissertação ( Mestrado em Engenharia Mecânica) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.

RAMOS, B. et al. Estudo experimental da transferência de calor axial através de pastas de pequi e buriti em um sistema cilíndrico. Universidade Estadual de Goiás, Anápolis. 2005.