53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: Otimização do processo de extração da pectinaesterase em extratos de folhas e caules de Anacardium humile St. Hil.

AUTORES: Faleiro, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Ferreira, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Caramori, S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

RESUMO: A enzima pectinesterase (EC 3.1.1.11) remove os grupos metoxil das substâncias pécticas pela hidrólise da ligação éster. Esta enzima está presente em praticamente todas as preparações enzimáticas industriais que envolvem frutas e vegetais. Neste trabalho foi estudada a melhor condição de extração desta enzima em extratos brutos do caule e da folha do cajuzinho-do-cerrado (Anacardium humile St. Hil.) através de um planejamento fatorial 23 tendo como parâmetros tempo de extração, pH e atividade enzimática. A condição ótima de extração encontrada para ambos os extratos foram 30 min, o tempo de extração, e pH 6,0, sendo que nestas condições as atividades máximas obtidas para o caule e folha, foram 24,0 μmol/min de 30,4 μmol/min, respectivamente.

PALAVRAS CHAVES: cajuzinho-do-cerrado; extrato bruto; hidrolase

INTRODUÇÃO: O Cerrado é o sistema de savanas mais rico do mundo em termos de biodiversidade, correspondendo a 25% da área total do território brasileiro (KLINK & MACHADO, 2005). Dentre as espécies pertencentes ao Cerrado, tem-se a Anacardium humile St. Hil., popularmente conhecida como cajuzinho-do-cerrado ou cajuí. Pertencente a família Anacardiaceae, possui além de grande potencial alimentício, amplo uso na medicina popular (POTT & POTT, 1994). Grande parte dos processos biotecnológicos industriais estão voltados para a utilização de enzimas, como na indústria cervejeira, vinhos, vinagres, laticínios e panificação. Pouco se faz referência do emprego de enzimas obtidas a partir de espécies vegetais, uma vez que são necessários estudos que possam atestar a eficácia e segurança da adoção dessa tecnologia (MORETTO et al., 1988). A enzima pectinesterase (EC 3.1.1.11) catalisa a hidrólise da ligação éster de substâncias pécticas, removendo os grupos metoxilas e produzindo álcool metílico e ácido pectínico ou péctico (WHITAKER, 1972). Pode ser encontrada em bactérias, fungos e plantas superiores (PILNIK & VORAGEN, 1993). Possui grande importância na indústria, uma vez que é usada para facilitar a filtração e/ou clarificação de sucos de frutas, degomagem de fibras para as indústrias têxteis e de papel, melhorar extração de óleos vegetais, produção de pectinas, em tratamento de efluentes, dentre outras (UENOJO & PASTORE, 2007). O objetivo deste trabalho foi otimizar a extração da pectinaesterase de A. humile, mais especificamente da folha e caule, através de planejamento fatorial 23 e metodologia de superfície de resposta, visando obter o melhor tempo e pH de extração desta enzima.

MATERIAL E MÉTODOS: As folhas e caules de A. humile foram coletados na Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás em 2012. As amostras foram higienizadas com solução de Tween 80 a 10% (v/v), enxaguadas e secas ao ar. As folhas e caules foram moídos em moinho de martelos e a farinha produzida foi acondicionada em frascos de polietileno, hermeticamente fechados e armazenada a -10 °C (freezer) até o momento de uso. O extrato bruto foi obtido após agitação a temperatura ambiente (25 °C) de 2,0 g de farinha em 20 mL de tampão fosfato (0,1mol/L) e tampão acetato (0,1mol/L) com pH e tempos de extração determinados pelo planejamento fatorial. A mistura foi centrifugada por 5 min, o precipitado foi desprezado e somente o sobrenadante foi utilizado como extrato bruto. Para otimização da extração da pectinaesterase foi utilizado um planejamento fatorial 23, tendo como variáveis a atividade enzimática (μmol/min), tempo (minutos) e pH. Os ensaios foram realizados em triplicatas, com tempos de extração de 30,60 e 90 minutos e pH 5, 6, 7 e 8. A atividade da pectinaesterase dos extratos brutos da folha e do caule do Anacardium humile foi determinada pela metodologia descrita por KERTESZ (1955) baseada na titulação ácido-base com verificação de pH. O extrato bruto foi incubado com solução de pectina cítrica a 1% (p/v) em NaCl 0,1 mol/L e pH 7,5. A reação foi conduzida por 10 min, a 30 °C e com reajuste do pH do meio para 7,5 por titulação com NaOH 0,02 mol/L. Uma unidade de atividade de pectinaesterase foi considerada a quantidade de enzima capaz de fazer gerar 1 μmol de grupo carboxil, por minuto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foi observado na Figura 1 que a superfície de resposta obtida através do planejamento fatorial do caule apresentou o maior rendimento de extração em pH 6,0, assim, o meio de extração da pectinaesterase do caju-do-cerrado não pode ser tão ácido e nem tão básico, pois nestas condições há uma diminuição de sua atividade. Os tempos de extração de 30, 60 e 90 min aparentemente não representaram entre si diferenças significativas, pois entre eles obteve-se valores muito próximos de atividade enzimática. Assim, o pH teve um efeito mais significativo do que o tempo em relação a otimização de extração, sendo tão forte que mascarou o efeito do tempo. Sendo assim, foi adotado para a extração o tempo de 30 min e o pH 6,0. Um efeito semelhante dos parâmetros utilizados na extração da pectinaesterase no caule foi observado na folha (Figura 2), pois o pH 6,0 foi o que apresentou maior rendimento da extração. Embora as diferenças sejam pequenas quando se compara os dados numéricos, a análise da superfície de resposta na Figura 2 sugere que o menor tempo de extração adotado (30 min) é o mais eficiente para se obter mais atividade de pectinaesterase.

Figura 1

Figura 1: Superfície de resposta do rendimento de extração da pectinaesterase do caule do cajuzinho- do-cerrado em função da variação do pH e do tempo.

Figura 2

Figura 2: Superfície de resposta do rendimento de extração da pectinaesterase da folha do cajuzinho- do-cerrado em função da variação do pH e do tempo.

CONCLUSÕES: Os resultados deste trabalho mostraram que as condições ótimas de extração da pectinaesterase tanto nos extratos brutos da folha como no caule do cajuzinho-do- cerrado são pH 6,0 e tempo de extração de 30 min. O pH foi um fator decisivo para o aumento no rendimento da extração. As atividades máximas encontradas para o caule e para a folha foram 24,0 μmol/min de 30,4 μmol/min, respectivamente. Estes resultados, embora preliminares, mostram que as enzimas encontradas nos compartimentos distintos da planta podem ter semelhanças na sua estrutura e composição.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p. 147-155, 2005.

POTT, A.; POTT, V. J. Plantas do Pantanal. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro de Pesquisa Agro do Pantanal Corumbá. EMBRAPA, p. 320,1994.

MORETO, E. et al. Vinhos e vinagres. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988.

WHITAKER, J. R. Pectic substances, pectic enzymes and formation in fruit juices. Enzyme Microbial Technology, Washington, v. 6, p. 341-349, 1984.

PILNIK, W.; VORAGEN, AGJ. Enzymes in food processing. 3rd ed. London, UK: Academic Press; 1993, p. 363–93.

UENOJO, M.; PASTORE, G. M. (2007). Pectinases: aplicações industriais e perspectivas. Química Nova, 30(2), 388.

KERTESZ, Z. I. Enzymes of carbohydrate metabolism. Pectic enzymes. A. Pectinaesterase (PE). Methods in Enzymology, v.1, p.158-162, 1955.