53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Química Inorgânica

TÍTULO: Síntese, caracterização e atividade antibacteriana in vitro de complexos organoestânicos derivados de bases de Schiff.

AUTORES: Santos, A.F.S. (UFV) ; Andrade, J.F. (UFV) ; Almeida, P.S.V.B. (UFV) ; Menezes, D.C. (UFV) ; Maia, J.R.S. (UFV)

RESUMO: Novos compostos organoestânicos derivados de bases de Schiff de fórmula geral R3SnClL (R: Ph, L: base de Schiff) foram sintetizados e caracterizados por ponto de fusão e espectroscopia no infravermelho (IV). Os ligantes foram caracterizados por IV e RMN de 1H e 13C. A atividade antibacteriana destes compostos foi investigada usando o método de difusão em Agar. Todos os compostos apresentaram excelentes atividades antibacterianas frente às cepas clínicas testadas, Staphilococcus aureus (Gram-positiva) e Escherichia coli (Gram-negativa). Além disso, os complexos mostraram ser mais ativos em relação aos ligantes livres. Os resultados forneceram evidências de que os complexos estudados possuem potencial como agentes antibacterianos.

PALAVRAS CHAVES: Bases de Schiff; Compostos organoestânicos; Atividade antibacteriana

INTRODUÇÃO: Ao longo das últimas décadas, estudos sobre complexos de organometálicos com bases de Schiff receberam considerável atenção (SEDAGHAT & JALILIAN, 2009). Complexos de base de Schiff têm sido amplamente empregados em áreas farmacêuticas e medicinais. Bases de Schiff são compostos biologicamente ativos e foram relatados por possuírem propriedades antibacterianas, antitumoral e antifúngica (SINGH & SINGH, 2012). Além disso, alguns grupos de pesquisa também têm relatado que a complexação de metais com base schiff derivados do salicilaldeído pode especialmente clivar o DNA (SONIKA et al., 2011). Vários estudos em Química de coordenação de bases de Schiff com compostos organoestânicos tem apresentado um amplo espectro de atividade biológica, destacando a atividade antifúngica, antibacteriana, e antiinflamatória (VIEIRA, 2008). Além do grande avanço para produção de novos fármacos, os compostos organoestânicos derivados de bases de Schiff apresentam uma interessante variedade de estruturas (SONIKA et al., 2011). Desta forma, este trabalho compreende a síntese e caracterização de novos complexos de estanho (IV) derivados de bases de schiff com atividade antibacteriana frente às espécies Escherichia coli (ATCC11229) e Staphilococcus aureus (ATCC25923).

MATERIAL E MÉTODOS: As bases de Schiff L1 = (E)-2-((3-hidroxifenilimino)metil)fenol; L2 = (E)-2-((4- hidroxifenilimino)metil)fenol e L3 = (E)-2-((1-hidroxi-2-metilpropano-2-ilimino) metill)fenol foram obtidas através da reação de condensação equimolar entre as iminas 3-aminofenol, 4-aminofenol e 2-amino-2-metil-1-propanol com salicilaldeído, em etanol, sob refluxo por 4h. Os novos compostos organoestânicos foram preparados mediante reação equimolar (1:1) entre cloreto de trifenil estanho (IV) com as respectivas bases de Schiff, em metanol, sob agitação por 2h. O rendimento destas reações foi de 74 a 94 %. Os ligantes e os complexos foram caracterizados por testes de solubilidade, ponto de fusão e espectroscopia no infravermelho (IV). Além disto, os ligantes foram também caracterizados por RMN de 1H e 13C. As bases de Schiff apresentaram uma faixa de fusão de 1 a 3 ºC e os organoestânicos de 2 a 3 ºC. A metodologia empregada no teste de atividade antibacteriana frente a E. coli (Gram-negativa) e S. aureus (Gram-positiva) foi de difusão em Agar, empregando-se 100 µL de suspensões dos microorganismos, dispersos em placas de Petri, contendo 8 mL de meio de cultura semi-sólido. Foram preparadas soluções dos complexos na concentração de 250 mmol L-1 bem como das bases de Schiff utilizando dimetilsulfóxido como solvente. Alíquotas de 10 µL das soluções foram posteriormente pipetadas em discos de papel de filtro dispostos na superfície dos meios de cultura. As placas foram incubadas a 36±1 ºC por 24h e ao final foram detectadas a presença ou não do halo de inibição (diâmetro em mm). O fármaco Norfloxacino foi utilizado como controle positivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os dados de IV (Tabela 1) mostram consideráveis deslocamentos das bandas ν(C=N) dos complexos em comparação com o ligante. Isto sugere coordenação via o átomo de nitrogênio do ligante. Bandas novas referentes à formação da ligação Sn-N e Sn-Cl foram observadas, exceto para o complexo [Ph3SnL3]Cl. Considerando a estequiometria de 1:1 (M:L) entre o precursor metálico e os ligantes, estes dados permitem vislumbrar a formação de novos compostos organoestânicos pentacoordenados e/ou tetracoordenados com bases de Schiff (SINGH et al., 2010). Os sinais de RMN 1H característicos de cada base de Schiff foram encontrados na faixa de 8,33 – 8,68 ppm, devido a um singleto relativo ao grupo HC=N. O singleto para os prótons fenólico do grupo OH foram observados em 3,51 e 9,89 ppm (VANCO et al., 2008). Já os sinais de RMN 13C relativos ao carbono do grupo HC=N foram observados na faixa de 160,04 – 162,80 ppm (CREAVEN et al., 2010). Uma serie de bases de schiff e seus complexos organoestânicos correspondentes exibiram atividade antibateriana frente às cepas de S. aureus e E. coli (Tabela 2). O fármaco norfloxacino apresentou halos de inibição de 30 e 36 mm para S. aureus e E. coli, respectivamente. O ligante L2 foi o mais ativo em relação aos demais ligantes, apresentando zonas de inibição de 12 para S. aureus e 11 para E. coli. O ligante L3 mostrou halo de inibição frente a E. coli sendo inativo para S.aureus. Entretanto, quando complexado apresentou os melhores resultados de toda a série. A base de Schiff L1 não foi ativa para nenhuma das espécies, na concentração testada, porém, quando complexado apresentou halo de inibição significativo. Os complexos [Ph3SnClL1], [Ph3SnClL2] e [Ph3SnL3]Cl foram mais ativos em relação aos ligantes frente às duas espécies de bactérias estudadas.

Principais bandas de infravermelho (cm-1) Nujol/CsI.

Tabela 1. Principais bandas de infravermelho (cm-1) Nujol/CsI.

Halos de Inibição (mm)

Tabela 2: Halos de Inibição (mm)

CONCLUSÕES: Novos compostos organoestânicos derivados de bases de Schiff foram sintetizados e caracterizados. Os complexos mostraram-se mais ativos na ordem [Ph3SnClL2] < [Ph3SnClL1] < [Ph3SnL3]Cl, frente às cepas clínicas testadas, em relação às bases de Schiff livres. Apesar dos complexos terem demonstrado uma atividade inferior em relação ao fármaco Norfloxacino, fica evidente que a presença do metal é importante para o efeito bactericida destes compostos. Os resultados forneceram evidências de que os complexos possuem potencial para eventual formulação de novos fármacos.

AGRADECIMENTOS: A FAPEMIG, CNPq, CAPES e DEQ - UFV

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CREAVEN, B. S.; DUFF, B.; EGAN, D.A.; KAVANAGH, K.; ROSAIR, G.; THANGELLA, V. R.; WALSH, M. 2010. Anticancer and antifungal activity of copper(II) complexes of quinolin-2(1H)-one-derived Schiff bases. Inorganica Chimica Acta, 363: 4048–4058. SEDAGHAT, T.; SHAFAHI, F. 2009. Synthesis, spectral, and thermal studies of organotin(IV) complexes with 4-bromo-2-{[(2- hydroxyphenyl)imino]methyl}phenol, Main Group Chemistry, 8: 1–9. SINGH, B. K.; PRAKASHA, A.; RAJOURB, H. K.; BHOJAKC, N.; ADHIKARIA, D. 2010. Spectroscopic characterization and biological activity of Zn(II), Cd(II), Sn(II) and Pb(II) complexes with Schiff base derived from pyrrole-2-carboxaldehyde and 2-amino phenol. Spectrochimica Acta Part A: Molecular and Biomolecular Spectroscopy, 76: 376–383. SINGH, H. L.; SINGH, J. 2012. Synthesis, spectral, 3D molecular modeling and antibacterial studies of dibutyltin (IV) Schiff base complexes derived from substituted isatin and amino acids. Natural Science, 4: 170-178. SONIKA.; NIDHI R.; MALHOTRA. 2011. Synthesis and structural studies on penta and hexa coordinated organotin (IV) complexes of alkyl pyruvate aroyl hydrazones. Scholars Research Library, 3: 305-313. VANCˇO, J.; MAREK, J.; TRA´VNI´CˇEK, Z.; RACˇANSKA´, E.; MUSELI´K, J.; VAJLENOVA´, O. S.; Synthesis, structural characterization, antiradical and antidiabetic activities of copper(II) and zinc(II) Schiff base complexes derived from salicylaldehyde and b-alanine. Journal of Inorganic Biochemistry, v.102, p.595–605, 2008. VIEIRA, F. T., Compostos organoestânicos com ação farmacológica, 2008, 254p., Tese de Doutorado – UFMG.