53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Química Inorgânica

TÍTULO: Atividade de catecol oxidase de um complexo de manganês

AUTORES: Moura, F.S. (UFRJ) ; Priori, G.A. (UFRJ) ; Branco, C.V. (UFRJ) ; Casellato, A. (UFRJ)

RESUMO: Compostos de coordenação estão presentes em muitos processos biológicos como respiração celular e fotossíntese. A Química Bioinorganica busca o desenvolvimento e analise destes compostos de coordenação com atividade biológica a fim de otimizar a atividade in vitro e/ou elucidar mecanismos de reações . Um dos alvos mais estudados nesta área é a enzima catecol oxidase. A catecol oxidase é uma metaloenzima de cobre do tipo III, que possui um sitio ativo binuclear e é capaz de catalisar as reações de oxidação de compostos fenólicos às quinonas correspondentes. Neste trabalho, reportamos a síntese, caracterização e o comportamento biomimético de um complexo de manganês com o ligante salen na atividade de catecol oxidase.

PALAVRAS CHAVES: bioinorgânica; manganês; catecol oxidase

INTRODUÇÃO: A catecol oxidase é uma metaloenzima de cobre do tipo III, que possui dois centros metálicos de Cu2+ . A estrutura cristalina da catecol oxidase apresenta um sítio ativo onde cada átomo de cobre encontra-se coordenado por três nitrogênios histidínicos e por uma ponte μ-hidróxido.(1,2) Esta metaloenzima é capaz de catalisar as reações de oxidação de compostos fenólicos às quinonas correspondentes na presença de oxigênio, com concomitante redução do oxigênio a água. As reações de oxidação de substratos orgânicos com oxigênio sob condições brandas são de grande interesse para os processos industriais do ponto de vista econômico e ambiental. Em diferentes tipos de indústrias como a de pesticidas, detergentes e principalmente de papel, os efluentes apresentam compostos fenólicos em quantidade significativa. Assim, os catecóis são produtos intermediários na degradação de compostos aromáticos e apesar de estarem presentes em diversos sistemas biológicos, são tóxicos e seu modo de ação é similar tanto em microorganismos quanto em células de mamíferos.(3,4) Além disso, a polimerização de quinonas gera melaninas que são as responsáveis por manchas escuras em alimentos frescos como frutas, por exemplo. Assim, nosso grupo vem sintetizando complexos contendo diferentes metais de transição buscando novos catalisadores para a oxidação de catecóis. Neste trabalho, será apresentada a atividade catalítica de um complexo de manganês (II) com o ligante salen.

MATERIAL E MÉTODOS: O ligante (L1) foi sintetizado através da reação de condensação entre salicilaldeído e etilenodiamina em metanol. Após refluxo por 2h, o produto foi filtrado e seco em dessecador a vácuo. O complexo (MnL1) foi sintetizado a partir da solução do ligante em metanol acrescentando acetato de manganês(II) monohidratado. A solução adquiriu cor castanho avermelhada e dela foi obtido um sólido amorfo que foi filtrado e lavado com etanol gelado com rendimento de 75%. Este composto foi recristalizado e foi obtido um material microcristalino. O complexo foi caracterizado através de técnicas espectroscópicas (infravermelho e UV-Vis e reflectância difusa) e eletroquímicas (voltametria cíclica). A avaliação da atividade de catecol oxidase foi realizada através da variação da concentração de quinona formada em 400 nm. Inicialmente foi avaliada a influência do pH na velocidade de reação, determinando-se o pH ótimo. O efeito da concentração de substrato foi estudado no pH de máximo de atividade. As constantes cinéticas como Vmax (velocidade máxima), kcat (constante catalítica), KM (constante de Michaelis) e E (eficiência catalítica) puderam ser obtidas através do fit dos dados obtidos experimentalmente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O complexo foi caracterizado através das análises das análises no IV e UV-Vis. Puderam ser destacados os seguintes grupos funcionais no complexo MnL1: IV (KBr, ±4 cm-1): 1636 (vC=N, iminas;) 1384 (vC-N); 3432 cm-1 (vO-H,aromáticos envolvidos com formação de ligações de hidrogênio e vC-H, aromáticos); 1330 (vC-O,fenóis); 3099-2691 (vC-H); 1598 (vC=C,aromáticos); 765 (δ =C-H, aromáticos 1 e 2 dissubstituído); 1465 (δ CH2); 1446 (vC-O, OAc-), 1543 (vC=O, OAc-). Comparando-se os espectros no infravermelho dos complexos descritos com os obtidos para o ligante livre, pode ser observado um pequeno deslocamento das bandas. Esse deslocamento pode ser atribuído a complexação com o íon manganês. A análise por espectroscopia eletrônica em DMSO mostrou uma banda na região de 400nm (ε = 5200molL-1cm-1), característica de uma transição do tipo transferência de carga. A análise do complexo por voltametria cíclica realizada em metanol mostrou um processo reversível em E1/2 = 0,25V vs Ag/AgCl atribuído ao par redox Mn2+/ Mn3+. O estudo eletroquímico destes complexos se torna de grande importância, uma vez que diversos estudos têm correlacionado o potencial redox do catalisador e a atividade como mimético da catecol oxidase. A influência do pH na atividade do complexo na oxidação do substrato modelo 3,5 di terc-butil-catecol (3,5 DTBC) foi estudada mostrando melhor atividade em pH>9. Assim, os experimentos com excesso de substrato foram realizados em pH 9,5 e os dados foram tratados obtendo-se os seguintes parâmetros cinéticos : Vmax ; 3,33 x 10-6 mol L-1s-1, KM = 6,58 x 10-4 mol L-1, kcat: 2,85 x 10-1 s-1 kcat/KM ; 434 L mol- 1 s-1, Kass; 1519 L mol-1. Esses dados vem sendo comparados aos de outros complexos descritos na literatura.

CONCLUSÕES: Assim, pode-se concluir neste trabalho que um complexo de Mn2+ contendo o ligante salen apresenta atividade catalítica na oxidação do substrato modelo 3,5 DTBC. O complexo estudado é de grande importância para o grupo de pesquisa já que outros compostos similares contendo substituintes doadores e retiradores de densidade eletrônica no anel fenólico do ligante estão sendo estudados. Um dos objetivos deste estudo é a correlação entre os parâmetros cinéticos obtidos com parâmetros de Hammett, sugerindo que os mecanismos de reação são semelhantes.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq, FAPERJ e CAPES pelos auxílios e bolsas concedidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: EICKEN et al., 1998; GERDEMANN et al., 2002
OLIVEIRA, Alana Lemos Cavalcante de; Síntese e Catacterização de Compostos de Coordenação de Cobre (II) com o Ligante N.N’-bis(salicilaldeído)etilenodiamina e seus Derivados:Comportamento de Catalase e Catecol Oxidase; Dissertação de mestrado, IQ-UFRJ, 2013
SILVERSTEIN, R. M.; BASSLER, G. C.; MORRILL, T. C.; Identificação
espectrométrica de compostos orgânicos, 5ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara
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SÉAMUS, P. J. H.; Química Analítica, São Paulo: Mc Graw Hill, 2009;
SKOOG, D. A.; HOLLER, F.; NIEMAN, T. A.; Princípios de Análise Instrumental,
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