53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: Avaliação geoquímica dos hidrocarbonetos aromáticos em perfil estratigráfico de carvão da formação Rio Bonito - Maracajá - SC/Brasil.

AUTORES: Berne da Costa, J. (UFRGS) ; Missio Junior, V.F. (UFRGS) ; Ruaro Peralba, M.C. (UFRGS) ; Kalkreuth, W. (UFRGS) ; Barrinuevo, S. (UFRGS)

RESUMO: O carvão é uma das matérias primas mais utilizada como fonte de energia, o que torna sua caracterização de extrema utilidade para o seu melhor e total aproveitamento. O presente trabalho tem por objetivo analisar os hidrocarbonetos aromáticos de um perfil estratigráfico de carvão do município de Maracajá (SC/BRASIL) utilizando métodos cromatográficos de análise. O perfil dos hidrocarbonetos aromáticos (HPAs) permitiu a caracterização geoquímica do carvão quanto à origem do material orgânico bem como o grau de maturação.

PALAVRAS CHAVES: Biomarcadores; Geoquímica Orgânica; HPAs

INTRODUÇÃO: Os HPAs têm recebido considerável atenção nos últimos anos como importantes compostos presentes em carvão e óleos. A abundância e a distribuição dos HPAs representados por alquilnaftalenos e alquilfenantrenos são utilizados na determinação de parâmetros tais como origem da matéria orgânica, ambiente deposicional e evolução térmica (RADKE et al.,1986). Eles são monitorados através de diferentes razões de concentrações relativas entre isômeros mais estáveis e menos estáveis. Os HPAs estão entre os maiores constituintes da matéria orgânica sedimentar podendo ser utilizado como biomarcadores, assim como os hidrocarbonetos saturados, esteróis e hopanos (NABBEFELD et al., 2010).

MATERIAL E MÉTODOS: Foram encontradas sete camadas de carvão: Camada Barro Branco (11-004),Irapuá, Camada A (11-007), Bonito Superior (11-008/11-009), Bonito Inferior (11-013/11- 014) Pré-Bonito Superior (11-016/11-017) e Pré-Bonito Inferior. Estas camadas são intercaladas com camadas de siltitos e argilitos.A primeira camada de carvão foi diagnosticada a 274,82 m, e a última, a 321,48 m de profundidade, totalizando um pacote carbonoso de 46,66 m. Realizou-se extração, fracionamento e análise cromatográfica das amostras. Oito amostras de carvão da sondagem MML- 09 foram extraídas com diclorometano em Soxhlet, por um período de 36h. O extrato, concentrado em evaporador rotatório, foi submetido à coluna de cobre ativado para remoção do enxofre elementar, e posteriormente, à cromatografia líquida preparativa em coluna de sílica/alumina para obtenção da fração pura de hidrocarbonetos aromáticos (HPAs). A fração de HPAs foi analisada em cromatógrafo a gás (modelo 6890) com detector de massas (modelo 5975C), da Agilent, equipado com coluna HP5-MS (60m x 0,25mm x 25 μm), injetor automático e gás Hélio (99,999%) como gás de arraste. As condições de análise foram: 1 µL de injeção no modo splitless; forno com Tinicial de 40ºC por 1 min, seguido de taxa de aquecimento de 4ºC min-1 até 290ºC com isoterma de 30 min, e modo SCAN no detector. A análise semiquantitativa se deu por ntegração das áreas dos analitos de interesse,cujas razões das mesmas determinaram parâmetros geoquímicos, tais como índice de metilfenantrenos (IMF), metilnaftalenos (IMN), dimetilnaftalenos (IDMN) e trimetilnaftalenos (ITMN).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao observar a Figura 1 é clara a predominância do isômero 2-MN frente ao isômero 1-MN. Este comportamento ocorreu em todas as 8 amostras estudadas. Essa predominância é atribuída à geração seletiva do isômero 2-MN (mais estável termodinamicamente) e a degradação do isômero 1-MN (menos estável) com o aumento da maturação, visto que ocorre a redução do impedimento estérico (RADKE, 1984). Tal fato induz a dizer que as 8 amostras são maturas. A distribuição dos MF não depende apenas da maturação mas também da origem da matéria orgânica, marinha, lacustre ou terrestre. As amostras de origem marinha apresentam maior abundância do 9-MF e baixa concentração de 3-MF e 2-MF, enquanto que a maior abundância de 1-MF e 2-MF pode estar associada ao aporte de matéria orgânica de origem terrestre. Observando o cromatograma da Figura 2 verificamos uma predominância do 2-MF sobre os demais isômeros, o que aponta para um significativo aporte de material de origem terrestre. Os parâmetros de maturidade térmica para as razões IMN, IDMN e ITMN foram calculados e estão apresentados na Tabela 1. Os valores obtidos para IMN são maiores que 1,3 para todas as amostras indicando elevado grau de maturação dos carvões estudados com exceção da amostra 11-004, que apresentou valor de 1,21. As razões IDMN e ITMN com valores superiores a 1,0 indicam elevada maturação devido à abundância dos isômeros ββ e βββ, termodinamicamente mais estáveis. Nas amostras em estudo, os valores dos IDMN e ITMN foram maiores do que 1,0 indicando elevada maturidade térmica, com exceção da amostra 11-004, com ITMN de 0,94. Segundo a Tabela 1, o valor de IMF variou entre 0,95 ~ 1,20 para a maioria das amostras, indicando media maturação, exceto a amostra 11-004 que apresentou valor de 0,71.

Figura 1 e 2

Fragmentograma de massas parcial: m/z 142, 1MN=1- metilnaftaleno e 2MN= 2-metilnaftaleno; m/z 192, 3MF=3- metilfenantreno; 2MF=2-metilfenantreno.

Tabela 1

Indicadores de maturação para a fração de hidrocarbonetos aromáticos de carvões de Maracajá.

CONCLUSÕES: As razões de hidrocarbonetos aromáticos metilnaftalenos (IMN) sugerem elevada maturação térmica para as amostras estudadas, enquanto que a razão dos metilfenantrenos (IMF) indicou média maturação para a maioria das amostras, inferindo que as amostras do presente estudo encontram-se entre médio a elevado grau de maturação do material orgânico sedimentar. Através da distribuição dos MF também foi possível verificar uma significativa contribuição de material de origem terrestre para as amostras em estudo.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: NABBEFELD, B.; GRICE, K.; SCHIMMELMANN, A.; SUMMONS, R.E.; TROITZSCH, U.; TWITCHETT, R.J. 2010. A comparison of thermal maturity parameters between freely extracted hydrocarbons (Bitumen I) and a second extract (Bitumen II) from within the kerogen matrix of Permian and Triassic sedimentary rocks. Organic Geochemistry 41, p.78.

RADKE, M., LEYTHAEUSER, D.; TEICHMULLER, M. 1984. Relationship between rank and composition of aromatic hydrocarbons for coals of different origins. Organic Geochemistry, v.6, p.423-430.

RADKE, M.; WELTE, D.H.; WILLSCH, H. 1986. Maturity parameters based on aromatic hydrocarbons: Influence of the organic matter type. Organic Geochemistry 10, p.51-63.