53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: O ENSINO DE QUÍMICA NO ÂMBITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL: ESTUDOS SOBRE O COMPORTAMENTO ONDULATÓRIO DA RADIAÇÃO SOLAR

AUTORES: Costa, A.C.M. (LPEQI-IQ-UFG) ; Camilo, W.M. (LPEQI-IQ-UFG) ; Morais, W.C.S. (LPEQI-IQ-UFG) ; Santos, F.S. (UNUCET-UEG) ; Bombonatto, A.K.G. (UNUCET-UEG) ; Benite, A.M.C. (LPEQI-IQ-UFG) ; Benite, C.R.M. (LPEQI-IQ-UFG)

RESUMO: Neste trabalho discorremos sobre o ensino de propagação de energia no contexto da deficiência visual utilizando material didático adaptado. Com elementos da pesquisa-ação, apresentamos o recorte de uma intervenção pedagógica realizada como aula de apoio no Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual (CEBRAV), numa parceria Universidade-Escola, visando contribuir para a significação do conceito em questão, permitindo a participação ativa de um aluno deficiente visual em atividades experimentais. Nossos resultados apontam que deficientes visuais organizam seus conhecimentos e desenvolvem autonomia desde que sejam apresentados ao mundo objetivo (conceitos químicos) a partir de considerações sobre suas especificidades.

PALAVRAS CHAVES: Ensino de química; Radiação solar; Deficiente Visual

INTRODUÇÃO: O Sol é essencial para a vida na Terra e seus efeitos sobre o homem dependem das características individuais da pele exposta, intensidade, frequência e tempo de exposição. Todavia, a radiação solar pode causar prejuízos ao organismo, caso não se tome os devidos cuidados quanto à dose de radiação solar recebida (COSTA,1995). Dados da estimativa da radiação solar incidente no país apontam que o estado de Goiás está localizado numa das áreas de maior aproveitamento dessa energia por conta de sua intensidade diária (média anual típica da radiação solar global diária – 18 MJ/m2.dia) (TIBA,2000). Assim, uma temática que pode ser bastante explorada nas salas de aula inclusivas é sobre a exposição humana à luz solar, isso por que a pele possuir vários mecanismos de autoproteção antes de causar danos, como queimaduras (COSTA,1995). Assumimos que no caso dos deficientes visuais a interpretação, a compreensão e apropriação desse conhecimento pode se estender “de acordo com a pluralidade das experiências, a variedade e qualidade do material, a clareza, a simplicidade e a forma como o comportamento exploratório é estimulado e desenvolvido” (SÁ,2010). Com alunos DV’s, é fundamental considerar que seu aprendizado diferencia dos videntes por utilizarem “de um outro conjunto de receptores para a percepção, apreensão e interação com o mundo” (AMIRALIAN,2009). Nesta investigação analisamos o processo de significação conceitual de um aluno deficiente visual numa aula de apoio, sobre a temática radiação solar no Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual–CEBRAV, Goiânia. Discutiremos brevemente a atividade que permitiu abordar os aspectos macroscópicos e microscópicos deste conceito, por meio de experimento adaptado que promoveu o acesso do aluno ao conhecimento químico.

MATERIAL E MÉTODOS: Esta investigação se caracteriza como uma pesquisa-ação, pois, em uma ação colaborativa com do grupo de investigação e o grupo social tem-se como objetivo a mudança da realidade em questão através da melhoria da nossa prática no processo de ensino aprendizagem (PEREIRA,2002). A intervenção pedagógica (IP) foi planejada em conjunto (professores formadores e em formação inicial) e sua realização foi gravada em áudio e vídeo, para posterior transcrição e análise da dinâmica discursiva. As IP’s no CEBRAV são um apoio à sala de aula regular, no contra-turno, e os professores em formação inicial discutem as dificuldades oriundas das aulas no ensino regular. Apresentamos aqui os resultados de uma IP, realizada por professores de química em formação inicial (PFI) no Centro Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual (CEBRAV), com duração de 180 minutos, para um aluno com baixa visão (A1) sobre o comportamento da radiação solar quando atinge a pele humana, simulando a partir de um experimento com material alternativo visando discutir o comportamento ondulatório, o espectro da radiação solar e intensidade de energia envolvida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Para simular o poder de penetração da radiação na pele humana, foram utilizados dois feixes de luz, um verde e um vermelho, numa esponja de duas camadas: a verde, representando a epiderme e a amarela, representando a derme (Fig. 1). Na figura 2 segue o extrato da intervenção pedagógica em questão. Ao discutir a relação entre comprimento de onda e energia utilizando o espectro eletromagnético. A1 sendo um aluno de baixa visão fez-se necessário realizar adaptações no espectro eletromagnético segundo as especificidades do aluno. O espectro foi construído em tamanho ampliado e a faixa de comprimento de onda em discussão foi destacada em raios UV-A, UV-B, UV-C. As dificuldades apresentadas por alunos de baixa visão são minimizadas ou eliminadas pelo uso de recursos ópticos e não ópticos que proporcionam um melhor desempenho visual, permitindo-os criar meios de superar os obstáculos que interferem na execução de atividades escolares(SÁ,2010). A1 consegue perceber o quanto os dois feixes de luz penetram nas camadas da esponja usada para representar a pele humana, associando o poder de penetração ao efeito que os raios solares causam à nossa pele ao chegar à segunda camada, quando ficamos expostos por um longo período. Além disso, foi possível demonstrar as relações conceituais existentes entre comprimento de onda, energia e o poder de penetração de cada feixe de luz.

Fig. 1

Representação da incidência dos raios solares na pele.

Fig. 2

Extrato da intervenção pedagógica.

CONCLUSÕES: O professor em formação inicial ao atuar na inclusão deve sempre observar as necessidades e especificidades de todos os alunos, procurando por estratégias que possibilitem o aprendizado a partir das potencialidades dos alunos. Ensinar química para alunos com baixa visão requer a preparação de um ambiente favorável, utilizando recursos específicos disponíveis, preferencialmente, por meio do processo de mediação de atividades práticas que estimulem a compreensão do conhecimento.

AGRADECIMENTOS: A FAPEG, AO CNpQ e ao CEBRAV.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AMIRALIAN, M. L. T. M. Deficiência visual: perspectivas na contemporaneidade. São Paulo: Vetor, 2009.
COSTA, M.L; SILVA, R.R. Ataque à pele. QNEsc, 1995, 1, 3.
JORGE, V.L. Recursos Didáticos no Ensino de Ciências para alunos com deficiência visual no Instituto Benjamin Constant. Rio de Janeiro, 2010.
PEREIRA, J. E. D; ZEICHNER, K. M. (org.). A Pesquisa na formação e no trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
SÁ, E.D. SILVA, M.B.C e SIMÃO, V.S. Atendimento Educacional Especializado do aluno com deficiência visual. São Paulo: Moderna, 2010.
TIBA C.(coord), et al. Atlas Solarimétrico do Brasil : banco de dados solarimétricos. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2000.