53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: A incorporação da pedagogia histórico-crítica nos componentes curriculares de metodologia do ensino de química: a experiência da Ufba

AUTORES: Moradillo, E.F. (UFBA) ; Carvalho, J.R.M. (UFBA) ; Anunciação, B.C.P. (UFBA) ; Lima, C. (UFBA) ; Messeder-neto, H.S. (UFBA) ; Pimentel, H.O. (UFBA) ; Sá, L.V. (UFBA) ; Santos, M.S. (UFBA) ; Souza, P.F.S. (UFBA) ; Silva, R.J. (UFBA)

RESUMO: Desde o início de 1990 os educadores vêm questionando a formação de professores calcada no referencial empírico-analítico e propondo alternativas para a sua superação. Nesse sentido, uma das alternativas encontrada por nós da Ufba é a utilização da pedagogia histórico-crítica. Neste trabalho relatamos como a pedagogia histórico-crítica tem sido trabalhada nos componentes curriculares que tratam da metodologia do ensino de química. Concluímos que a pedagogia histórico-crítica tem sido incorporada por alunos, ao trabalharem, nas suas abordagens didáticas dos conteúdos de química, a perspectiva historicizadora do ser social, da ciência e do conhecimento químico.

PALAVRAS CHAVES: Oedagogia Histórico-Críti; Metodologia do Ensino; Ensino de Química

INTRODUÇÃO: Aqui no Brasil, desde o início da década de 1990 que a comunidade de educadores vem questionando à formação de professores calcada no referencial empírico-analítico e propondo alternativas para a sua superação. A LDB de 1996, os Parâmetros Curriculares e as Diretrizes são reflexos dessas discussões. Na Ufba, nos últimos dezoito anos, temos nos dedicado de forma sistemática à formação de professores de ciências, em particular de química. No Instituto de Química fundamos o Núcleo de Pesquisas em Ensino de Química (Nupequi) e na Faculdade de Educação o Núcleo de Estudos em Ciências e Educação Ambiental (Necea). Temos atuado nos cursos de Licenciatura em Química regular e especial (Parfor), no curso piloto de Licenciatura em Educação do Campo e no Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências. Realizamos três cursos de Especialização em Educação Ambiental. O Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) também faz parte das nossas preocupações. No nosso caso, para a superação do referencial empírico-analítico, buscamos no materialismo histórico e dialético, na pedagogia histórico-crítica, na psicologia histórico-cultural os fundamentos para a condução da dimensão prática do currículo e da metodologia do ensino de química (MORADILLO, 2010). Neste trabalho iremos relatar, de forma sintética, como a pedagogia histórico-crítica tem sido trabalhada nos componentes curriculares de Didática e Práxis Pedagógica de Química I e II e os resultados encontrados até o momento. Ressaltamos que esses componentes curriculares têm como foco a metodologia do ensino de química e o estágio curricular.

MATERIAL E MÉTODOS: Nas reformas curriculares dos cursos que temos participado temos trazido à discussão a necessidade de tratarmos o conhecimento a partir de outra matriz teórico-metodológica que radicalize na análise da realidade social. Para isso, temos incorporado nos nossos currículos novos conhecimentos relativos ao trabalho como fundante do ser social e como princípio educativo, de correntes epistemológicas, relações entre ciência, tecnologia e sociedade, o papel da história no ensino de ciências e discussões sobre ética e ambiente na sociedade contemporânea; com o objetivo de superar a matriz curricular de base empírico-analítica que tem predominado nos cursos de formação de professores de química (MORADILLO, 2010). Assim, organizamos um conjunto de componentes curriculares que compõe a Dimensão Prática do currículo em articulação com outros componentes, a exemplo de Didática e Práxis Pedagógica de Química I e II, que tratam da metodologia do ensino de química e do estágio curricular. Nesses componentes de didática e práxis, o eixo pedagógico está baseado na pedagogia histórico-crítica (SAVIANI, 1995; 2006), que leva em consideração os novos conhecimentos citadas acima e que propõe cinco passos para o ensino. São eles: partir da prática social inicial, que se encontra para o aluno dispersa e caótica; problematizar; analisar o problema tendo como pano de fundo a articulação do lógico e do histórico, ou melhor, da relação entre parte e totalidade em movimento; fazer a síntese, onde, nesse momento, o pensamento se eleva para além do empírico, onde ocorre o momento catártico; e, por último, retornar a prática social. Prática essa que não mais se encontra dispersa, caótica e sim, como síntese de múltiplas determinações. Dessa forma, temos orientado os nossos alunos a incorporarem esses passos no ensino dos conteúdos de química e no trabalho pedagógico na escola como um todo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: No modelo empírico-analítico, que dominava na formação de professores de química da Ufba, a educação como um processo social multifacetado dificilmente era esboçado pelos alunos no final do curso. As fragmentações do social refletiam a perspectiva idealista ou inatista de conhecimento e de educação que eles traziam. Nessa formação, o conhecimento químico é desprovido de sentido, uma vez que não é questionado, problematizado, sendo tratado apenas como produto da ciência química e não como um processo construído ao longo da história. Além disso, a crença, já cristalizada, que considera o processo de ensino de química como algo simples — basta ter um bom conhecimento da matéria e algumas ferramentas pedagógicas —, contribuía para mascarar a complexidade do processo de ensino, especialmente a distância entre a racionalidade da ciência moderna, em especial da química, e aquela do senso comum. Nessa nova formação, constatamos que muitos dos nossos alunos avançam nessa nova maneira de tratar o conhecimento e conseguem incorporar os princípios da pedagogia histórico-crítica à sua prática pedagógica. No curso regular de química a primeira turma a se formar, nesse novo currículo, foi em 2010.1. De lá para cá, alguns desses alunos já estão ensinando no ensino médio e na Universidade usando esses referenciais, já temos alunos que fizeram ou estão fazendo o mestrado/doutorado usando também esses referenciais, e estamos avançando, através de projetos com o Estado, para aplicar os referenciais da pedagogia histórico-crítica em escolas da rede pública do ensino médio.

CONCLUSÕES: O uso da pedagogia histórico-crítica na formação de educadores em química é hoje uma realidade na UFBA. Podemos afirmar que essa já é uma experiência exitosa. Podemos notar que a pedagogia histórico-crítica tem sido incorporada por alunos, ao trabalharem, nas suas abordagens didáticas dos conteúdos de química, a perspectiva historicizadora do ser social, da ciência e do conhecimento químico. Dessa forma, acreditamos que estamos propiciando aos futuros professores de química uma outra forma com o trato do conhecimento e, consequentemente, com a organização do trabalho pedagógico.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: MORADILLO, E. F. A dimensão prática na licenciatura em química da UFBA: possibilidades para além da formação empírico-analítica. Tese (Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 5. ed. Campinas:Autores Associados, 1995.

SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 38. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.