53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Avaliação do efeito do extrato aquoso da Cecropia ficifolia sobre a atividade fosfolipásica induzidas pelo veneno de Bothrops atrox

AUTORES: Silva, S.G.G. (UNIFAP) ; Lacerda, G.S.L. (UNIFAP) ; Carvalho, H.O. (UNIFAP) ; Barros, C.S. (UNIFAP) ; Duarte, J.L. (UNIFAP) ; Oliveira, J.M.S. (UNIFAP) ; Silva, J.O. (UNIFAP)

RESUMO: O presente estudo observou o efeito do extrato aquoso da Cecropia ficifolia que é uma planta conhecida popularmente como embaúba, sobre a atividade hemolítica indireta por fosfolipases A2 induzidas pelo veneno da Bothrops atrox. Foram inoculadas diferentes concentrações do veneno e extrato bruto nos orifícios e deixados por 12 horas a temperatura de 37º C. O efeito foi avaliado pela medição do diâmetro do halo formado pela mistura do extrato aquoso com o veneno. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa nos tratamento efetuados entre o extrato bruto da Cecropia ficifolia e o veneno bruto da Bothrops atrox, portanto conclui-se que o extrato aquoso da Cecropia ficifolia não possui inibição sobre atividade fosfolipásica induzidas pelo veneno da Bothrops atrox.

PALAVRAS CHAVES: Cecropia ficifolia; fosfolipásica; Bothrops atrox

INTRODUÇÃO: As plantas medicinais representam uma grande complementação terapêutica à soroterapia no Brasil, elas podem ajudar na redução dos problemas decorrentes do envenenamento provocado por animais peçonhentos que afligem, principalmente, moradores de áreas rurais dos países em desenvolvimento. Os acidentes ofídicos representam ainda, grave problema de saúde pública em regiões tropicais e subtropicais. Anualmente são relatados 20.000 acidentes no Brasil e 4.000 na América Central (SAÚDE, 1991; ARROYO et al., 1999). Os venenos de serpentes são conhecidos pelo homem desde os tempos antigos, sendo uma mistura complexa de proteínas e peptídeos. Entre eles estão hemorraginas, proteases, fosfolipases A2 (PLA2) e miotoxinas que atuam por diferentes mecanismos. A composição do veneno pode variar de acordo com a distribuição geográfica e ontogenia nos espécimes de uma mesma espécie (BOLAÑOS, 1984; ASSAKURA et al., 1992; RODRIGUES et al., 1998). Em estudo realizado por HUANCAHUIRE-VEGA et al. (2011) com a Phtx1-PL2, uma fosfolipase A2 isolada da peçonha da serpente P. hyoprora, promoveu o aumento da formação do edema na pata de rato, o que mostra a importância dessas enzimas no processo. Desta maneira, o presente estudo teve como objetivo realizar o ensaio in vitro para a avaliação a capacidade do extrato aquoso das folhas de Cecropia ficifolia sobre a atividade fosfolipásica induzidas pelo veneno da Bothrops atrox.

MATERIAL E MÉTODOS: As folhas da Cecropia ficifolia foram coletadas na Universidade Federal do Amapá, em Macapá – AP. Para a obtenção do extrato o material foi submetido ao método de infusão por 24 horas à temperatura ambiente. Em seguida, a solução foi filtrada à vácuo, o extrato bruto aquoso obtido foi liofilizado e acondicionado, à temperatura de -18ºC. O veneno utilizado foi extraído de serpentes adultas criadas no serpentário da Universidade Federal do Amapá. Logo após a coleta o veneno foi liofilizado e armazenado a -20º C. A atividade fosfolipásica foi determinada pelo método de hemólise radial indireta (GUTIÉRREZ et al., 1998), sendo realizada em placas de petri contendo gel formado a partir da preparação de ágar fundido contendo TRIS 20mM, cloreto de cálcio e gemas de ovo. Após a solidificação nas placas, foram feitos orifícios de tamanho iguais (0,5 cm de diâmetro). Para a determinação da DheM, foi utilizadas diferentes concentrações do veneno (10; 15; 20; 25; ou 30 μg VB/40 μL PBS) inoculadas no meio. Após a incubação dos meios de cultura a 37° C por 12 h, os diâmetros dos halos formados foram medidos em milímetros. E a DheM foi a concentração de veneno responsável pela formação do halo de 10 mm no meio de cultura. Para avaliar a capacidade do extrato de inibir a atividade hemolítica indireta induzida pelo veneno de B. atrox, diferentes concentrações do extrato (26; 52; 104; 208; 416 μg/ 20 μL) foram misturadas com o veneno bruto de B. atrox (20 μg/25 μL PBS), e imediatamente após, 50μL desta mistura foi inoculada nos orifícios do meio de cultura. Foram utilizados três grupos controles: PBS (50 μL), VBBa (20 μg / 25μL PBS) e EB (416 μg/ 25μL PBS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados mostraram que não houve diferença estatisticamente significante, nos tratamento efetuados entre o extrato bruto da Cecropia ficifolia e o veneno bruto da Bothrops atrox (20 μg VBBa/ 50μL PBS) não acontecendo então a inibição da atividades hemolítica indireta por fosfolipases A2 induzidas pelo veneno da Bothrops atrox (Figura 1). Observou-se também que o extrato da Cecropia ficifolia (416 μg PBBa/ 50μL PBS) quando aplicado isoladamente não induziu a formação do halo. Mostrou-se que o extrato não foi eficaz para a neutralização do ensaio in vitro. KANASHIRO et al. (2002), observaram que as fosfolipases BaPLA2I e BaPLA2III presentes na peçonha de B. atrox são responsáveis pelo forte reação inflamatória desencadeada nesse tipo de acidente, e estão relacionadas a liberação da histamina decorrente da desgranulação dos mastócitos. Magalhães et al. (2011), demonstraram que os extratos das partes aéreas (folhas e inflorescência) de Marsypianthes chamaedrys foram mais eficazes na redução da atividade fosfolipásica do que o soro antiofídico (BAV). A avaliação da atividade das fosfolipases é fundamental, pois, as fosfolipases (PLA2) apresentam variações, exercendo diversas ações como miotóxicas, neurotóxicas, edematogênica, hipotensiva, agregantes plaquetárias, cardiotóxicas e anticoagulantes (TEIXEIRA et al., 2003).

CONCLUSÕES: Existem diversas plantas medicinais que tem como finalidade neutralizar ações decorrentes do envenenamento ofídico, e a Cecropia ficifolia é conhecida popularmente para essa neutralização. Diante dos estudos pode-se concluir que os resultados apresentados demonstraram que a planta não inibiu a atividade hemolítica indireta por fosfolipases A2 induzidas pelo veneno da Bothrops atrox. Porém torna-se necessário o estudo do referido extrato com outras atividades desencadeadas pelo veneno.

AGRADECIMENTOS: A UNIFAP e ao Laboratório de Toxicologia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ARROYO, O.; GUTÍERREZ, J. M. Envenenamiento por mordedura de sepiente em Costa Rica em 1996: epidemiologia y consideraciones clínicas. Acta Médica Costarricense, 41: 23-29, 1999.
ASSAKURA MT, FURTADO MF, MANDELBAUM FR 1992. Biochemical and Biological differentiation of the venoms of the lancehead vipers (Bothrops atrox, Bothrops asper, Bothrops marajoensis and Bothrops moojeni). Comp Biochem PhysB 102: 727-32.
BOLAÑOS R 1984. Serpientes, Venenos y Ofidismo en Centro América. San José: Universitária de Costa Rica.
GUITIÉRREZ, J. M. et al. An alternative in vitro method for testing the potency of the polyvalent antivenom produced in Costa Rica. Toxicon, v. 26, n. 4, p. 411-413,
1998.
HUANCAHUIRE-VEGA, S. et al. Biochemical and pharmacological characterization of PhTX-I a new myotoxic phospholipase A2 isolated from Porthidium hyoprora snake venom. Comparative Biochemistry and Physiology Part C: Toxicology e Pharmacology, v. 154, n. 2, p. 108-119, 2011.
KANASHIRO, M. M. et al. Biochemical and biological properties of phospholipases A2 from Bothrops atrox snake venom. Biochemical Pharmacology, v. 64, n. 7, p.1179-1186, 2002.
RODRIGUES V. M.; SOARES A. M.; MANCIN A. C.; FONTES MRM, HOMSIBRANDEBURGO MI, GIGLIO JR 1998. Geographic variations in the composition of myotoxins from Bothrops neuwiedi snake venoms: Biochemical characterization and biological activity. Comp Biochem Physiol A 121: 215-222.
SAÚDE, M. D. Ofidismo: análise epimiológica. Brasília, D. F.,: 49, 1991.
SAÚDE, M. D. Manual de diagnóstico e tratamento de Acidentes por animais Peçonhentos. Fundação Nacional de Saúde. , 1998.
TEIXEIRA, C.F.P. et al. Inflammatory effects of snake venom myotoxic phospholipases A2. Toxicon, v. 42, n. 8, p. 947-962, 2003.