53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Alquilfenóis presentes no líquido da casca da castanha de caju obtido em diferentes processos

AUTORES: Cavalcante, J.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Lima, M.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Brito, E.S. (EMBRAPA)

RESUMO: O líquido da casca da castanha de caju (LCC) é um subproduto da agroindústria do caju rico em compostos fenólicos. O objetivo foi avaliar os alquilfenóis presente no LCC obtido por diferentes processos. Foi utilizada a casca de castanha de caju como matéria-prima para extração do LCC por prensagem utilizando delineamento fatorial completo 32, variando pressão e temperatura, e com utilização de solvente. O LCC foi analisado em cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas. Os ácidos anacárdicos representaram 75% dos alquilfenóis no LCC natural e 50% no LCC técnico. As variáveis utilizadas na prensagem não exercem influência no teor de alquilfenóis. O LCC é uma importante fonte de compostos fenólicos, alquifenóis, que se mostra atrativo para o mercado de produtos naturais.

PALAVRAS CHAVES: Ácido anacárdico; Anacardium occidentale; Espectrometria de Massas

INTRODUÇÃO: O fruto do cajueiro, o caju, é formado por um pedúnculo comestível, ou pseudofruto, que se forma junto à castanha, o verdadeiro fruto. A castanha de caju é um aquênio que apresenta casca coriácea lisa, mesocarpo alveolado, repleto de um líquido escuro, conhecido por líquido da casca da castanha do caju (LCC) ou cashew nut shell liquid (CNSL) como é conhecido internacionalmente (MAZZETO et al., 2009; FRUTICULTURA, 2010). O LCC apresenta como principal característica a ocorrência de compostos fenólicos, constituídos pelos ácidos anacárdicos, derivados do ácido salicílico, seguidos pelos cardóis, derivados do resorcinol, e menores teores de cardanóis (AGOSTINI-COSTA et al., 2000; KUMAR et al., 2002). O LCC pode ser classificado como natural, por conter uma grande quantidade de ácido anacárdico e não apresentar material polimérico em sua composição e o LCC técnico que apresenta um elevado percentual de cardanol e presença de material polimérico (GEDAM & SAMPATHKUMARAN, 1986). Em 2011, o Brasil produziu 230 mil toneladas de castanha de caju, ocupando a quinta posição em produção mundial e ficando atrás de Vietnã, Nigéria, Índia e Costa do Marfim (FAOSTAT, 2013). O Ceará foi o Estado com a maior participação na produção nacional, 48% (CONAB, 2013). O LCC representa aproximadamente 25% do peso da castanha e é considerado um subproduto de agronegócio do caju, de baixíssimo valor agregado (MAZZETO et al., 2009). Dentro deste contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar os alquilfenóis presente no líquido da casca da castanha de caju obtido por diferentes processos.

MATERIAL E MÉTODOS: Foi utilizada a casca de castanha de caju como matéria-prima agroindustrial fornecida pela mini-fábrica de beneficiamento de castanha de caju do Campo Experimental de Pacajus/CE da Embrapa Agroindústria Tropical para a obtenção do LCC durante a operação de prensagem (Prensa Hidráulica Marconi MA/098/50A/l) e com utilização de solvente orgânico, Hexano P. A. (Vetec). O LCC técnico foi fornecido pela Companhia Industrial de Óleos do Nordeste (CIONE). A extração do LCC por prensagem foi realizada utilizando um delineamento fatorial completo com duas variáveis, pressão e temperatura, em três níveis (32), resultando em nove pontos experimentais (Tabela 1). Na preparação das amostras, aproximadamente 500 mg de LCC foi diluído em 25,0 mL de metanol. Os alquilfenóis foram analisados em cromatógrafo líquido acoplado a espectrômetro de massas (CL-EM) Varian. Foi utilizada uma coluna analítica Symmetry C18 (5 µm, 4.6 mm x 250 mm), com um fluxo de 600 mL/mim, um volume de injeção de 20 µL e um tempo total de corrida de 40 minutos. A fase móvel utilizada foi água / ácido fórmico 0,1% e acetonitrila / ácido fórmico 0,1% (v/v). As análises foram realizadas em duplicata. A identificação dos compostos foi primariamente baseada no espectro de massas e injeção de padrão de ácido anacárdico (C15:3).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram identificados 12 alquilfenóis, dentre eles cardanol, cardol e ácido anacárdico (TABELA 2). O LCC natural obtido por prensagem e extração com solvente apresentou uma composição diversificada em ácidos anacárdicos, correspondendo a 75% dos alquilfenóis presentes. Em relação ao conteúdo de alquifenóis, foi observado a predominância dos ácidos anacárdicos C15:3, C15:1 e C15:2 nas amostras obtidas por prensagem e com a utilização de solvente orgânico. As variáveis e suas interações não exercem influência no teor de ácidos anacárdicos, pois com o aumento da pressão e temperatura acarretam a remoção de umidade residual do LCC, justificando o aumento das concentrações do conteúdo alquilfenol. O LCC técnico apresentou quantidades mínimas de ácidos anacárdicos. Segundo Mazzeto et al. (2009) a diminuição do conteúdo de ácidos anacárdicos no LCC técnico, deve-se a sua conversão em cardanol por reação de descarboxilação em elevadas temperaturas, em cerca de 200 ºC.

Tabela 1. Matriz do delineamento fatorial completo



Tabela 2. Componentes fenólicos do LCC em diferentes processos

AA–ácido anacárdico;S–Solvente; TT–submetido a tratamento térmico;TEC–técnico. TR–traços, concentração menor que 0,05 g/L metanol;n.d.– não detectado

CONCLUSÕES: O líquido da casca de castanha de caju é uma importante fonte de compostos fenólicos, alquifenóis, que se mostra atrativo para o mercado de produtos naturais. O aproveitamento integral da matéria-prima e agregação de valores a produtos secundários vem se tornando itens obrigatórios na participação do mercado. Os ácidos anacárdicos representam 75% dos alquilfenóis no LCC natural e 50% do LCC técnico.

AGRADECIMENTOS: FUNCAP, UFC, EMBRAPA e CIONE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AGOSTINI-COSTA, T. S.; SANTOS, J. R.; GARRUTI, D. S.; FEITOSA, T. 2005. Caracterização, por cromatografia em camada delgada, dos compostos fenólicos presentes em pedúnculos de caju (Anacardium occidentale L.). B.CEPPA, 18, 129-137.

CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/>. Acesso em: 4 jul. 2013.

FAOSTAT. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Disponível em: <http://faostat.fao.org/>. Acesso em: 4 jul. 2013.

FRUTICULTURA, Caju. Brasília: Fundação Banco do Brasil, Série cadernos de propostas para atuação em cadeias produtivas, v. 4, set. 2010.

GEDAM, P. H.; SAMPATHKUMARAN, P. S. 1986. Cashew nut shell liquid: extraction, chemistry and aplications. Progress in Organic Coatings, 14, 115-157.

KUMAR, P. P.; PARAMASHIVAPPA, R. VITHAYATHIL, P. J.; RAO, P. V. S.; RAO, S. 2002. Process for Isolation of Cardanol from Technical Cashew (Anacardium occidentale L.) Nut Shell Liquid. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 50, 4705-4708.

MAZZETO, S. E.; LOMONACO, D.; MELE, G. 2009. Óleo da castanha de caju: oportunidades e desafios no contexto do desenvolvimento e sustentabilidade industrial. Química Nova, 32, 732-741.