Composição química dos voláteis das folhas de Mansoa standleyi (cipó-de-alho) em função das técnicas de secagem e extração

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Figueiredo, P.L.B. (PPGQ-UFPA) ; Silva, V.M.P. (FAQUI-UFPA) ; Cardoso, J.L.V. (FEQ-UFPA) ; Andrade, E.H.A. (PPGQ-UFPA E MPEG) ; Maia, J.G.S. (PPGQ-UFPA)

Resumo

A composição química dos voláteis do cipó-de-alho é caracterizada pela presença de compostos organossulfurados. O presente trabalho teve o objetivo de analisar a concentração dos voláteis das folhas de Mansoa standleyi obtidos por hidrodestilação e destilação e extração simultânea do material in natura e seco (sol e estufa) por 6 e 12 horas. Os constituintes majoritários identificados foram dissulfeto de dialia (21,4 a 44,3%), tritiaciclohexeno (6,7 a 21,4%), 5-metil- 1,2,3,4-tritiano (4,1 a 10,1%) e 1-octen-3-ol (ausente a 15,1%). O melhor teor de óleo essencial foi obtido da planta in natura. A técnica de extração e o tipo de secagem alteraram quantitativamente o perfil químico dos voláteis das folhas de M. standleyi.

Palavras chaves

Composição química; Mansoa standleyi; Secagem

Introdução

No Brasil, a família Bignoniaceae é constituída por 32 gêneros e 391 espécies, das quais 177 são endêmicas. O gênero Mansoa inclui 11 espécies que ocorrem principalmente nas florestas secas e úmidas do Brasil e da Argentina até o Sudeste do México (FORZZA, 2010). Na Amazônia brasileira, espécies de Mansoa são conhecidas como cipó-de-alho devido ao forte odor de alho exalado dos seus órgãos. O cipó-de-alho tem vários usos na medicina tradicional como tratamento de gripe, febre, dor e inflamação de artrite e reumatismo (FORZZA, 2010). Apesar disso, Mansoa standleyi tem pequena aplicação como fitoterápico quando comparado ao alho (Allium sativum) ao qual possui atributos semelhantes, como o aroma e o sabor, além de substâncias químicas que apresentam propriedade anticancerígena, antilipídica, antihistamínica e antitrombótica (MORAES, 2008). Os constituintes voláteis presentes nas plantas são os componentes mais sensíveis ao processo de secagem. Uma vez que o efeito da secagem sobre a composição destes tem sido pesquisado para demonstrar que as variações nas concentrações de seus constituintes, durante a secagem, dependem de vários fatores como o método, temperatura do ar, características fisiológicas, além de conteúdo e tipo de componentes químicos presentes nas plantas submetidas à secagem (VENSKUTONIS, 1997). Uma vez que a secagem pode aumentar modificações físicas e químicas, alterando a qualidade da matéria-prima para a sua comercialização como mudanças na coloração, cheiro e possíveis perdas de constituintes voláteis (BARITAUX, 1992). O presente trabalho teve o objetivo de analisar a concentração dos voláteis das folhas de Mansoa standleyi obtidos por hidrodestilação e destilação e extração simultânea do material in natura e seco (sol e estufa).

Material e métodos

O material botânico foi coletado de um espécime cultivado na ilha de Caratateua, distrito de Outeiro, cidade de Belém, Pará-Brasil (Lat. 1º16’11,08’’S; Long. 48º27’06,37’’0). A identificação botânica foi baseada no método clássico da morfologia comparada, usando-se espécimes herborizados, material fresco e bibliografia especializada. Os óleos essenciais e concentrados voláteis foram extraídos das folhas in natura, secas em estufa com ventilação (a 34 ºC) e ao sol em dois períodos, 6 e 12 horas. A extração do óleo foi feita por hidrodestilação (HD) utilizando sistema de vidro do tipo Clevenger modificado, acoplado a sistema de refrigeração para manutenção da água de condensação entre 10-15ºC, durante 3 h. Os óleos essenciais obtidos foram centrifugados, desidratados com Na2SO4 anidro e centrifugados novamente. A extração do concentrado volátil foi realizado por destilação e extração simultânea (DES) com extrator do tipo Nickerson & Likens durante 2h. O rendimento (%) do óleo essencial extraído da biomassa vegetal foi obtido do material seco e base livre de umidade (BLU). A umidade foi determinada por balança com aquecimento no infravermelho. A composição química do óleo essencial e concentrado volátil foi analisada através de CG/EM em Sistema Thermo DSQ-II. A identificação dos componentes voláteis foi baseada no índice de retenção linear calculado em relação aos tempos de retenção de uma série homóloga de n-alcanos e no padrão de fragmentação observados nos espectros de massas, por comparação destes com amostras autenticas existentes nas bibliotecas do sistema de dados e da literatura (ADAMS, 2007).

Resultado e discussão

Os rendimentos dos óleos essenciais e umidades obtidas das folhas in natura e secas ao sol e estufa encontram-se na tabela 01. O melhor rendimento (1,0%) em óleo encontra-se nas folhas in natura. Com relação à forma de secagem, observa- se que os teores de óleos obtidos das amostras secas através de estufa e sol durante 6 e 12 horas foram semelhantes. Os constituintes químicos majoritários dos óleos essenciais e concentrados voláteis das folhas de M. standleyi in natura e secas por estufa e sol encontram-se na tabela 02, em ordem crescente de seus índices de retenção (IR). Dos compostos identificados (≥ 2,0%) 10 são organossulfurados, dois alcoóis e um aldeído. Dissulfeto de dialia (DSDA) foi o constituinte principal identificado nas amostras de óleos analisadas, variando de 28,6% (folha seca ao sol por 6 h) a 44,3% (in natura), seguido de tritiaciclohexeno com maior teor (21,4%) no material seco (estufa/6 h) e menor (4,7%) no seco (sol 6 h). Os constituintes principais do concentrado volátil também foram DSDA (21,4-43,2%), tritiaciclohexeno (9,5-13,3%), além de 1-octen-3-ol (12-15,1%), cuja concentração nos óleos foi baixa (ausente a 3,0%). No gráfico 1 observa-se a variação quantitativa dos constituintes principais (≥ 15%) identificados nos óleos essenciais (HD) e concentrados voláteis (DES) das folhas in natura, secas ao sol e estufa por 6 e 12 h. O constituinte principal, dissulfeto de dialila, teve os maiores teores na planta in natura (HD e DES) e seca ao sol (HD), enquanto o tritiaciclohexeno apresentou maiores concentrações no óleo obtido da planta seca em estufa por 6 horas.




Gráfico 1

constituintes principais (≥ 15%) identificados nos óleos (HD) e concentrados voláteis (DES) das folhas in natura (in), secas ao sol (s) e estufa (e).

Conclusões

O maior teor de óleo essencial das folhas de Mansoa standleyi foi obtido do material in natura, não havendo influencia com relação ao material seco ao sol e estufa. Dissulfeto de dialila foi o constituinte principal identificado nos voláteis das folhas de Mansoa standleyi, independente das técnicas de extração e secagem. A distribuição de compostos organossulfurados nos óleos e concentrados voláteis do espécime em estudo apresentou variação quantitativa, com relação as técnicas de extração e secagem.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Pará (UFPA, ao Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG),) e ao conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e tecnológico (CNPQ).

Referências

Adams R. P. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Mass Spectrometry. Allured Publishing Corp. Carol Stream. 2007.

BARITAUX, O.; RICHARD, H.; TOUCHE, J.; DERBESY, M. Effects of drying and storage of herbs and spices on the essential oil. Part I. Basil, Ocimum basilicum L. Flavour and Fragrance Journal, v.7, p.267-271, 1992.

FORZZA, RC (Org.). Catálogo de plantas e fungos do Brasil. Rio de Janeiro: Jardim Botânico do Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio, v. 1, p. 769, 2010.

MORAES, M. L. Tradição e modernidade no uso de essências. Informativo do Museu Paraense Emílio Goeldi, Destaque Amazônia, v. 24, p. 1-8, 2008.

VENSKUTONIS, P.R. Effect of drying on the volatile constituents of thyme (Thymus vulgaris L.) and sage (Salvia officinalis L.). Food Chemistry, v.59, n.2, p.219-227, 1997.

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