Análises de inspeção sanitária em produtos de origem animal: estudo de caso do Laboratório de Águas da CIENTEC

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Alimentos

Autores

Müller, A. (CIENTEC) ; Reis de Oliveira, C. (CIENTEC)

Resumo

No Rio Grande do Sul, a Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC) atua como laboratório oficial e o único na rede pública estadual habilitado a realizar análises de inspeção sanitária em Produtos de Origem Animal (POA). Em 2016, apoiou fortemente o agronegócio gaúcho em virtude do descredenciamento de laboratórios privados capacitados a realizar análises do tipo. O expressivo aumento no número de amostras representou um desafio para a CIENTEC, levando-a a buscar sua rápida adequação. O presente estudo de caso aborda os principais gargalos, as ações tomadas e os resultados obtidos com base na produtividade do Laboratório de Águas da Fundação. As melhorias observadas nos indicadores “prazo de execução” e “registro de reclamações” mostram o bom resultado do planejamento estratégico adotado.

Palavras chaves

inspeção sanitária; águas; CIENTEC

Introdução

A operação “Carne Fraca” deflagrada pela Polícia Federal pôs em evidência o sistema de inspeção federal coordenado pelo Ministério da Agricultura (MAPA), responsável pela fiscalização de POA importados e produzidos no país. À ocasião, a repercussão negativa teve efeito imediato sobre a economia em níveis nacional e regional (FEIX & LEUSIN, 2017). No Rio Grande do Sul (RS), o órgão responsável pela fiscalização da fabricação de POA é a Secretaria da Agricultura (SEAPI), por intermédio do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). Este atua em estabelecimentos de abate de bovinos, suínos, aves, pescado, casas do mel, laticínios, ovos e produtos derivados (SEAPI, 2017). O DIPOA monitora diversos pontos críticos de controle, dos quais vale destacar a segurança da água de abastecimento (BRASIL, 1952). Dos três laboratórios habilitados a realizar análises de inspeção sanitária em POA no âmbito estadual, dois integram a iniciativa privada e possuem credenciamento pelo MAPA. Já a CIENTEC se apresenta no papel de laboratório e órgão de consultoria oficiais do RS, fundada em 1942 como Instituto Tecnológico do Estado (ITERS). Atua em diversas áreas estratégicas para o desenvolvimento regional, como química, eletroeletrônica, construção civil e alimentos (CIENTEC, 2012). Com o objetivo de avaliar a participação da CIENTEC no DIPOA em 2016, este trabalho se propõe a examinar o cenário a partir de estatísticas geradas no período pelo Laboratório de Águas. A importância desse estudo de caso se justifica num contexto de melhor compreensão da cadeia produtiva agropecuária e da fiscalização sanitária do setor no Rio Grande do Sul. No que concerne o laboratório, fornece subsídios para a tomada de decisão e para a melhoria contínua da prestação de serviços.

Material e métodos

A coleta de dados primários foi realizada a partir de fontes distintas, das quais são citadas as requisições de análise, o cadastro do cliente em sistema interno e as informações disponibilizadas pelas próprias empresas na internet. Quanto ao desempenho do laboratório, foram comparados em ambos os semestres de 2016 o número de amostras analisadas por mês e o prazo de execução médio dos ensaios. Nos primeiros seis meses, os dados foram obtidos a partir dos laudos emitidos. No segundo semestre, a partir de um banco de dados em planilha eletrônica Microsoft Excel 2013, elaborado visando a conferir celeridade à conclusão dos ensaios. A informatização permitiu ainda aprimorar o controle de qualidade, avaliar a proporção de resultados não conformes e formular um perfil do cliente atendido pelo laboratório, considerando localização, área de atuação e natureza jurídica. O mapeamento dos estabelecimentos foi possível com o uso da ferramenta de análise de dados Tableau 10.2. No complemento de dados quantitativos, foram realizadas entrevistas com os colaboradores da CIENTEC diretamente envolvidos no atendimento aos clientes DIPOA por meio de questionário eletrônico semiestruturado, elaborado na plataforma Google Docs e encaminhado aos endereços de e-mail institucional. O questionário continha três questões com a finalidade de avaliar a percepção dos envolvidos quanto às dificuldades estruturais de cada departamento, às críticas do público externo e quanto à imagem da Fundação. Aliado a isso, lançou-se mão de um levantamento bibliográfico abrangendo o histórico e as áreas de atuação da CIENTEC. A pesquisa incluiu também as particularidades do sistema estadual de inspeção graças a informações publicadas pela SEAPI e artigos que abordam as características do agronegócio gaúcho.

Resultado e discussão

O estudo revelou que o perfil dos estabelecimentos atendidos corresponde, em sua maioria, a sociedades atuantes no processamento de carnes e derivados, concentrados nas microrregiões de Gramado-Canela, Porto Alegre e Pelotas (Figura 1). A maior incidência de resultados não conformes em água de processo provém da determinação de matéria orgânica, o que corresponde a 6,8% das análises deste parâmetro. Em seguida estão valores de pH fora da faixa sugerida, com 3,7%. Coincidindo com o recredenciamento dos laboratórios particulares, a abertura de novos pedidos caiu 61% no segundo semestre. Contudo, verificou-se que boa parte dos clientes optou por permanecer solicitando os serviços prestados pela CIENTEC no ano de 2017. No decorrer de 2016 diversas ações corretivas foram aplicadas, como a informatização do registro de dados de ensaio, aquisição de insumos e reajuste de preços. Somado à queda na abertura de pedidos, as providências tomadas resultaram numa redução significativa no prazo médio de execução, uma das maiores críticas recebidas de clientes. Enquanto no primeiro semestre esse indicador alcançou 18 dias e prazo máximo de 55 dias, no segundo período do ano as análises foram concluídas numa média de 4 dias, com prazo máximo de 12 dias. O depoimento dos funcionários corroborou a visão internamente consolidada de que a qualificação do corpo funcional é um diferencial frente aos demais laboratórios que atuam nesse nicho de mercado, em acréscimo à imparcialidade da Fundação. A deficiência de recursos humanos foi apontada como uma barreira que deve ser contemplada no planejamento estratégico do laboratório e da CIENTEC a curto prazo, viabilizando o aumento da sua capacidade produtiva.

Figura 1

Distribuição dos estabelecimentos atendidos no primeiro semestre de 2016.

Conclusões

Na perspectiva da equipe ainda há pontos negativos a serem trabalhados, como falhas de comunicação interna. Em contrapartida, a isonomia e o quadro técnico da CIENTEC foram citados como pontos fortes. Em um ano foi atendida a totalidade da demanda de mais de 300 amostras provenientes de quase 200 estabelecimentos em todo o estado. A implantação de um sistema informatizado para a emissão de resultados foi uma melhoria importante para a manutenção dos serviços. Novas ações seguem sendo implementadas, incluindo a expectativa de acreditação dos ensaios junto à CGCRE/INMETRO.

Agradecimentos

À CIENTEC e a toda a equipe de colaboradores da Fundação.

Referências

FEIX, R. D. & LEUSIN, S. (2017). Carta de Conjuntura - ano 26, nº 04. Carta de conjuntura, Fundação de Economia e Estatística (FEE), Porto Alegre. Acesso em julho de 2017, disponível em http://carta.fee.tche.br/wp-content/uploads/2017/04/20170412carta-de-conjuntura-fee-ano-26-n.-4-abr.-2017.pdf
SEAPI. Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Acesso em 13 de julho de 2017, disponível em: http://www.agricultura.rs.gov.br/divisao-de-inspecao-de-produtos-de-origem-animal-dipoa
BRASIL. Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952. Aprova o Novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Brasília: Diário Oficial da União.
CIENTEC. (2012). Os 70 anos da CIENTEC. Porto Alegre.

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