AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE MÉIS DE ABELHAS SEM FERRÃO (Meliponinae spp.) COMERCIALIZADOS NA REGIÃO OESTE DO PARÁ

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Alimentos

Autores

Gomes, V.V. (UFOPA) ; Bandeira, A.M.P. (UFOPA) ; Costa, S.C. (UFOPA) ; Dourado, G.S. (UFOPA) ; Lima, A.K.O. (UNB) ; Lima, B.C.C. (UFOPA) ; Silva, D.S. (UFOPA) ; Nogueira, M.J.M. (UFOPA) ; Taube, P.S. (UFOPA)

Resumo

Na região oeste do Pará, a criação de abelhas sem ferrão para produção de mel é relevante visto a demanda comercial. Todavia, as características físico-químicas desse fluido não se enquadram na legislação brasileira, baseada no mel de Apis mellifera. O estudo objetivou avaliar a composição físico-química de méis de Meliponinae spp. comerciais. Realizaram-se análises de pH, minerais, umidade, acidez livre, açúcares redutores e cor de sete amostras adquiridas em diferentes municípios do oeste paraense. Apenas os valores de teor mineral delimitaram-se em concordância com o disponível na literatura. A acidez livre foi o parâmetro mais discrepante da legislação. Assim, estimou-se pela acidez que os méis avaliados podem estar armazenados inadequadamente.

Palavras chaves

mel; abelhas sem ferrão; físico-química

Introdução

O mel de abelha é um líquido viscoso composto majoritariamente de água e açúcares redutores (especialmente frutose e glicose), além de outros componentes como sacarose, proteínas, enzimas, vitaminas, minerais (SERRANO et al., 2007) e substâncias antioxidantes (principalmente ácidos fenólicos e flavonoides) (BERTONCELJ et al., 2007). A complexa composição deste produto natural varia conforme a espécie da abelha, localização geográfica, fontes florais disponíveis e processo de armazenagem (KARABAGIAS et al., 2014). No Brasil, os méis produzidos por abelhas sem ferrão (Meliponinae spp.), também denominadas de abelhas nativas ou indígenas, estão sendo foco mais recente de pesquisas, sobretudo por apresentarem propriedades terapêuticas (antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória, dentre outras) (ALVAREZ- SUAREZ et al., 2012) e padrões físico-químicos de qualidade em desacordo com legislação (BRASIL, 2000) que está baseada em méis de Apis mellifera. Na região oeste do Pará, a criação racional de abelhas sem ferrão (meliponicultura) é voltada principalmente para a produção de mel (RAYOL & MAIA, 2013), visto que é o quarto produto natural mais comercializado em Santarém, maior município desta região. Assim, devido às precárias informações para controle de qualidade da composição do fluido produzido por abelhas nativas (VIT et al., 2006), o objetivo deste trabalho foi avaliar parâmetros físico-químicos de méis de abelhas Meliponinae spp. comercializados na região oeste do Pará.

Material e métodos

Foram adquiridas durante os meses de fevereiro a maio do ano de 2017 sete amostras comercializadas como méis de abelhas sem ferrão em feiras populares dos municípios de Santarém (M01-M02), Mojuí dos Campos (M03) e Belterra (M04- M07), no qual foram armazenadas em tubos Falcon e sob temperatura ambiente. O teor de umidade (%m/m) foi medido a partir do aquecimento em estufa de 3g de mel à 105°C até a obtenção de massa constante. Esta massa seca foi incinerada à 600°C e teve a cinza resultante medida para avaliar o teor de minerais totais (%m/m). Para a determinação do pH, diluiu-se a amostra em água deionizada (1:10, v/v) e utilizou-se um pHmetro para a leitura. A acidez livre foi determinada pela titulação do mel com hidróxido de sódio 0,05N, onde o ponto final foi fornecido pela mudança de cor do indicador fenolftaleína 1% (m/v) (AOAC, 2006). A cor foi determinada pela diluição da amostra em água deionizada (1:1, v/v), lida em espectrofotômetro UV/Vis à 635nm e a absorbância transformada para a escala de Pfund (BIANCHI, 1981). O teor de açúcares redutores foi verificado em espectrofotômetro Uv/vis através da solução de mel na proporção de 1:2500 e reagente de cor Glicose Liquiform, usando a curva da calibração de glicose (GOMES et al., 2017). Todas as análises foram feitas em triplicata e os resultados foram expressos por média e desvio padrão.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos estão dispostos na tabela 1. O pH das amostras variou de 2,94-3,55, sendo uma faixa enquadrada para os padrão proposto por Camargo et al. (2017) e ideal para evitar o crescimento de microrganismos (BANDEIRA et al., 2015). O teor de umidade de todas as amostras (22,70-32,62%, m/m) estão acima do limite estabelecido pela legislação, mas, em concordância com o a regulamentação sugerida para méis de abelhas sem ferrão (CAMARGO et al., 2017). Este comportamento é explicado pelo processo de operculação de méis de Meliponinae spp. serem em umidades acima de que em méis de Apis melífera (EVANGELISTA-RODRIGUES et al., 2005). O conteúdo mineral de todas amostras enquadraram-se nos parâmetros comparados, variando de 0,02-0,25% (m/m) e estão relacionados com tipo de solo em que a planta (fonte do néctar) está sustentada (SILVA et al., 2016). Apenas uma amostra obteve acidez livre dentro dos padrões comparativos (M01 – 34,17±0,73meq.Kg-¹). As elevadas concentrações dos demais méis (60,74-161,89 meq.Kg-¹) indicam condições de armazenamento inapropriadas, causando a fermentação do fluido (SILVA et al., 2004). Os méis avaliados apresentaram porcentagens de açúcares redutores entre 41,18-77,26%, sinalizando que amostra a M04 está abaixo das especificações confrontadas da literatura. A coloração âmbar escuro foi predominante dentre os méis analisados, exceto para os méis M01 (branco) e M02 (âmbar claro). Silva et al. (2016) afirma que a quantidade de minerais e compostos fenólicos são os principais responsáveis pela cor do mel.

Tabela 1

Parâmetros físico-químicos de méis de abelhas sem ferrão vendidos na região oeste do Pará e comparados com Brasil (2000) e Camargo et al. (2017).

Conclusões

Ratifica-se a necessidade de regulamentação dos parâmetros físico-químicos de méis de abelhas sem ferrão, visto que apenas o teor de cinzas de todas as amostras apresentaram concordância com a legislação. Além disso, observou-se pela acidez livre que os méis comercializados na região oeste do Pará estão possivelmente sendo submetidos a inadequados processos de armazenagem, prejudicando a qualidade destes produtos. Assim, outras análises químicas que determinam adulterações e avaliações microbiológicas são imprescindíveis.

Agradecimentos

À UFOPA, CNPq, CAPES e ao Laboratório de estudos Bioquímicos e Químicos – LEBIQ.

Referências

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