A química na agricultura: dos agrotóxicos à agroecologia

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Moradillo, E. (UFBA) ; Carvalho, J.R. (UFBA) ; Pimentel, H. (UFBA) ; Bomfim, A. (UFBA) ; Jesus, E.S. (UFBA)

Resumo

No Instituto de Química (Ufba), têm sido desenvolvidas atividades sobre o tema, a química na agricultura. Por essas experiências, foi oferecido em 2016, o componente curricular, A química na agricultura: dos agrotóxicos à agroecologia. A partir do referencial crítico dialético, foram abordados aspectos da ontologia do ser social, economia política e questão agrária, e as discussões específicas sobre agroecologia e agronegócio. Os estudantes verificaram a necessidade de discutir essas questões na perspectiva teórico- metodológica, que articule parte e totalidade no seu movimento histórico e a responsabilidade social, com destaque no processo para os profissionais da química. É possível formar estudantes de ciências/química que não contemplem apenas o mundo, mas que o transformem.

Palavras chaves

Ensino de Química; Agrotóxicos; Agroecologia

Introdução

No Instituto de Química da Ufba, têm sido desenvolvidas atividades que abordam a questão agrária no Brasil e seu desdobramento na segurança alimentar, com ênfase na tensão entre a produção de alimentos - com uso intensivo de agrotóxicos -, versus a “produção orgânica”. Duas atividades foram realizadas no ano de 2015, que contaram com a participação de diversos profissionais ligados da área, e foram bem aceitas por parte dos estudantes de diversos cursos: a) Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS), registrada como QUI C08 – A produção de novas substâncias e os impactos socioambientais: o caso dos agrotóxicos. b) Seminário - Agroecologia: luz, ciência e vida na escuridão do modelo agrícola dos agrotóxicos, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 19 a 23/10/2015. As discussões sobre esses temas foram bem avaliadas por diversos participantes, contaram com o incentivo do Fórum Baiano de Combate ao Uso Indiscriminado dos Agrotóxicos (FBCA-Bahia). Fruto dessas experiências, em 2016, foi desenvolvido um componente curricular, QUIB42 - Tópicos de Química II: A química na agricultura: dos agrotóxicos à agroecologia. A partir do referencial teórico-metodológico de base crítico-dialético, o principal objetivo deste componente foi aprofundar a relação entre o modelo de produção voltado para a produção intensiva de alimentos com base na monocultura e com o uso indiscriminado de agrotóxicos, visando produzir essencialmente para a reprodução do capital e, não necessariamente, a produção de alimentos saudáveis. Discutem-se, com base teórico-metodológica da produção agroecológica, nas suas diversas matrizes e as experiências exitosas, os desdobramentos na saúde humana e no meio ambiente, realçando os processos geobioquímicos envolvidos.

Material e métodos

No curso de QUIB42 - Tópicos de Química II: A química na agricultura: dos agrotóxicos à agroecologia, partiu-se do pressuposto que a realidade social é histórica, contingente e transitória, e que só pode/deve ser abordada do ponto de vista material, ou da luta dos seres humanos pela existência, isto é, tendo o trabalho como fundante do ser social (MARX, 2006; LESSA, 2007). Tendo como referencial teórico-metodológico o materialismo histórico- dialético, esse componente curricular foi dividido em duas partes, uma geral e outra específica. De forma geral, foi abordado o trabalho como fundante do ser social; aspectos da economia política e da questão agrária; conhecimento, trabalho e sociedade; discussões sobre ética e ambiente na sociedade contemporânea. Nas questões específicas sobre a agricultura, foram abordados: a química atual dominante na agricultura e os impactos ambientais; os agrotóxicos: tipos, composição, estrutura química, determinação analítica, toxicologia e legislação; problemas ambientais: impactos ambientais na água, solo e ar; animais, plantas e alimentos; impactos na vida e no trabalho; agrotóxicos: áreas de risco no estado da Bahia e situação de estudo/intervenção; instituições envolvidas no combate e controle do uso dos agrotóxicos; bases científicas para uma agricultura sustentável; sistema agrossilvipastoril: integração lavoura, pecuária e floresta; produção de alimentos orgânicos no contexto de Ecovilas - Instituto de Permacultura. A análise desses tópicos culminou com aquelas relativas aos aspectos éticos, políticos, econômicos e ambientais provenientes da apropriação e utilização dos conhecimentos científicos e em particular da química, dentro de relações capitalistas de produção e reprodução da vida (MORADILLO, 2010).

Resultado e discussão

Algumas mudanças, que podem ser consideradas importantes, foram possíveis constatar nos depoimentos dos dez estudantes que participaram das atividades. A primeira, e mais significativa, foi compreender que só é possível entender os diversos problemas sociais, nas suas partes (neste caso, a agricultura), na sua imediaticidade, através da sua relação reflexiva com o contexto sócio-histórico de sua produção, onde parte e totalidade estão articuladas no seu movimento histórico, e tendo como pano de fundo a garantia da reprodução social. Em relação à concepção de conhecimento, foi um avanço: partindo-se de uma concepção de conhecimento estático, simplesmente como produto pronto a acabado, para algo relacional, processual, multideterminado e que muda com o contexto sócio-histórico. Sempre como a finalidade garantir a reprodução da espécie, que, dessa forma, transcende para além do específico, produzindo universalmente, produzindo assim o ser genérico (o ser social). Outra questão importante foi a discussão de experiências exitosas, abordadas no curso, sobre agroecologia, que proporcionou aos estudantes compreender e explicar como é possível produzir alimentos sem usar, necessariamente e de forma intensiva, os agrotóxicos. Assim, desconstrói-se o mito de que a atual produção de alimentos, devido ao custo e crescente aumento da população, só é possível através da monocultura, de forma intensiva e com uso de agrotóxicos. Do ponto de vista ético, foi realçado pelos estudantes a responsabilidade social que os químicos devem desempenhar nesse processo.

Conclusões

Dessa experiência, nos cursos de formação dos profissionais da química, reafirma-se a necessidade de avançar para a perspectiva teórico-metodológica, dentro de uma perspectiva dialética, que não separe o lógico/categorial e o histórico, parte e totalidade, e o pensar e agir. Foi possível, assim, discutir a questão agrária no Brasil e seus desdobramentos na segurança alimentar, com ênfase na tensão entre a produção de alimentos - com uso intensivo de agrotóxicos - versus a “produção orgânica”. Realce-se a responsabilidade social dos químicos para garantir a reprodução da espécie humana.

Agradecimentos

Ao Fórum Baiano de Combate ao Uso Indiscriminado dos Agrotóxicos (FBCA-Bahia) pelas parceria e apoio constantes às essas atividades desenvolvidas no IQ/Ufba.

Referências

LESSA, S. Para compreender a ontologia de Lukács. 3. ed. rev. e ampl. Ijuí: Unijuí, 2007.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. 1. ed. reimpressa. São Paulo: Boitempo, 2006.
MORADILLO, E. F. A dimensão prática na licenciatura em química da UFBA: possibilidades para além da formação empírico-analítica. Tese (Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

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