Educação de Jovens e Adultos: identidades e práticas no ensino de Bioquímica

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Freitas Santos, V. (UFU) ; Márcio Marques, D. (UFU) ; Pereira Alves, B.H. (IFG) ; Santos, A.F. (UFU) ; Oliveira Bernardes, P. (UFU)

Resumo

É comum perceber a dificuldade que os alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos)apresentam em relação a Química, por vezes motivada pela falta de aplicação do conhecimento com seu cotidiano.Com isso é fundamental, conhecer o sujeito da EJA, o professor deve buscar informações sobre quem é seu aluno, somente a partir dessa troca de contatos, o aluno estará aberto ao conhecimento, pois assim ele se interessará pelo que está sendo ensinado.Dessa forma, o desenvolvimento desse trabalho, contemplou a seguinte questão: Como alinhar os saberes cotidianos aos saberes químicos, a partir da utilização de experimentos temáticos que contemplem os conceitos de Bioquímica na educação de Jovens e Adultos?.

Palavras chaves

EJA; identidade; práticas temáticas

Introdução

É comum perceber a dificuldade que os alunos têm em entender alguns conteúdos da química e por sua vez essa dificuldade também é constante com os alunos da EJA. “Na maioria das vezes os alunos possuem grande dificuldade, e devido a esta dificuldade eles possuem frustrações e não se acham capazes de aprender química” (NASCIMENTO, 2012). Além da frustração por não acreditar que são capazes de aprender, ainda existem outros fatores como a falta de tempo para estudar e se dedicar ao aprendizado, a base de estudos iniciais, que já foram concluídas há anos atrás e que não ocasionaram a significação na aprendizagem, e outro fator relevante é que eles não conseguem relacionar a disciplina com suas experiências e necessidades do dia a dia. Dessa forma, percebe-se a importância em se conhecer os anseios e necessidades desses alunos, levando em consideração as experiências vivenciadas por eles, e apresentando o conteúdo de forma que faça sentido para ele, pois, o ensino da Química deve ser voltado para oferecer autonomia sobre os mais diversos assuntos da sociedade. A contextualização e utilização de temas é uma opção viável nesse caso (BRASIL, 2006). Além das dificuldades por parte dos alunos, os professores também se deparam com muitas dificuldades para trabalhar com esse grupo, pois geralmente não são preparados, ou não são orientados em sua formação a tratar esses alunos com as peculiaridades necessárias, geralmente chegam às salas de aula dispostos a ensinar, da mesma forma que foram ensinados no seu curso de Licenciatura. O problema é aumentando, quando se leva em consideração os conteúdos que foram abordados na formação e como foram abordados. Alguns conteúdos são abordados nas licenciaturas de forma superficial, e o professor por sua vez, quando se depara com eles nas salas de aula utilizam como único recurso de ensino o livro didático, que nem sempre contempla o conteúdo da forma correta, visto que a escolha dos mesmos é baseada na melhor oferta, melhor preço, mas infelizmente nem sempre é o melhor em conceitos (FRANCISCO JÚNIOR, 2008). Para Francisco Júnior (2008) isso ocorre com o conteúdo de Bioquímica, pois os cursos superiores em química, colocam esse conteúdo em segundo plano. Fazendo com que os professores tenham um conhecimento superficial sobre esse conceito, e se sintam inseguros em tratar esse assunto em sala de aula. E assim, um conceito tão importante, que pode ser trabalhado de forma interdisciplinar e contextualizada, quase não é abordado no ensino médio, além disso, de acordo com o mesmo autor, os livros, geralmente trazem esse assunto de forma simplória e com sérios equívocos conceituais. Dessa forma, o desenvolvimento desse trabalho, visa contemplar a seguinte questão: Como alinhar os saberes cotidianos aos saberes químicos, a partir da utilização de experimentos que contemplem os conceitos de Bioquímica na educação de Jovens e Adultos? Com isso o objetivo dessa pesquisa, foi desenvolver no aluno da EJA um pensamento crítico a respeito dos conhecimentos e experiências cotidianas, a partir da abordagem de experimentos temáticos.

Material e métodos

A pesquisa foi desenvolvida seguindo uma abordagem qualitativa, na qual, os dados foram obtidos em ambiente natural, ou seja, a partir da realidade dos sujeitos. De acordo com Silva (2011) a pesquisa qualitativa é marcada pela presença do pesquisador como sujeito ativo, o pesquisador, não é neutro, ele participa ativamente do processo investigativo. Seguindo a exposição dos sujeitos desse trabalho, apresento os 19 alunos do quarto semestre de Educação de Jovens e Adultos (equivalente ao último semestre do 3º ano do ensino regular) de uma escola pública da cidade de Itumbiara- GO. Desse total de alunos, 16 aceitaram participar da pesquisa e foram entrevistados. A entrevista dos alunos foi realizada de forma semiestruturada, com intuito de conhecer os alunos e identificar suas dificuldades e interesses na disciplina de Química. Após a identificação e conhecimento dos sujeitos, foram realizadas duas reuniões com a professora. A primeira consistiu em apresentar o intuito da pesquisa, os objetivos, a forma como seria realizada e também apresentar o resultado das entrevistas dos alunos, com os anseios sobre o cotidiano de cada um e as perspectivas a respeito da escola e do ensino de química, e a partir disso, analisar o currículo da EJA, disponibilizado pela secretaria estadual de educação e escolher o conteúdo a ser trabalhado. O segundo encontro com a professora, foi necessário para apresentar a sequência didática elaborada e discutir os horários e dias que ela disponibilizaria para a realização das aulas. A sequência didática foi organizada a partir do tema produção de sabão com óleo de cozinha usado para o desenvolvimento dos conceitos de Bioquímica, em específico os Lípideos. O Tema foi trabalhado em quatro aulas, sendo a primeira para discussão inicial e realização da prática experimental com a fabricação de sabão pelos alunos. E a partir desse tema, nas aulas seguintes foi abordado de forma contextualizada e interdisciplinar, o conteúdo Lipideos.

Resultado e discussão

A sala é composta por 19 alunos e apenas 16 estavam presentes e participaram da entrevista. Entre os entrevistados, 11 são do sexo feminino e 5 do sexo masculino. A inclusão das mulheres como atuante em diferentes áreas na sociedade foi um processo árduo e lento, é recente, por exemplo, a inserção da mulher no mercado de trabalho e consequentemente na escola. A turma em questão é mista, em relação à idade de cada estudante, a maioria dos homens tem entre 18 e 25 anos, já o publico feminino tem na maioria idades entre 31 e 40 anos. Dentre esses alunos, a partir da entrevista, foi possível verificar quantos são casados e se têm filhos. Entre as mulheres, 8 são casadas, 3 são solteiras e 9 têm filhos, já entre os homens, 2 são casados e têm filhos e 3 são solteiros sem filhos. A maioria dos homens trabalha em empresas da cidade, sendo alimentícias ou sucroalcooleiras. Já as mulheres entre as mulheres, a maior parte é do lar. Em relação aos conteúdos de Química, todos os alunos demontraram interesse durante a entrevista quando perceberam pelas questões abordadas no roteiro que a química está relacionada com acontecimentos do dia a dia deles, no entanto, demonstram muita resistencia em relação a essa disciplina em sala de aula, pois acreditam que se trata de um conteúdo difícil e quando estão em aula, não conseguem ver a relação dos conceitos químicos com as coisas do seu cotidiano, como perceberam durante a entrevista. Durante o desenvolvimento da sequencia didática e da realização da prática experimetal os alunos ficaram motivados em sair da sala de aula para participarem da prática, já que, as práticas na escola não são comuns. Como a escola não dispõe de laboratório para o ensino de química, realizamos a prática no pátio da escola. Fora da sala de aula, durante a realização da prática, abordamos também conceitos sobre utilização de equipamentos de segurança, lemos o roteiro e assim os alunos começaram a fazer os procedimentos para obtenção do sabão. Durante todo momento eles questionavam sobre diferentes pontos, compartilhando as experiências que tinham. Quase todos os alunos, mostraram saber o processo de fabricação de sabão, com receitas variadas, e perguntas sobre essas diferenças foram surgindo. Uma das alunas disse colocar fubá de milho na mistura, outra contou sobre a experiência de fazer sabão liquido. Para as perguntas especificas do conteúdo, pedimos aos alunos que refletissem sobre elas para que pudéssemos conversar nas próximas aulas. E foram instruídos a anotar tudo no diário de bordo. Durante essa aula, estavam presentes 18 alunos. Todos os alunos relacionaram os conceitos de sustentabilidade e reaproveitamento do óleo, perceberam também a existência de uma reação exotérmica, pois falaram sobre o aquecimento, a mudança de temperatura e alguns demonstraram o prazer em participar desse modelo de aula. ALUNO 2: “Aprendi a mistura de produtos que misturado tem uma reação química se dilui e na variação de temperatura e sequencia certa, forma o sabão, também aprendi que com produtos que coretamete reaproveitados não mais vão para o lixo e sim podem nos ajudar novamente diminuindo assim o impacto de nossas ações ao planeta e a nós mesmos”. ALUNO 4: “ hoje 16/08/16 fomos para o pátio e aprendemos a reutilizar o óleo usado em nossas casas, a transformação do óleo em sabão é uma maneira sustentável de não agredir o meio ambiente. Com a mistura de 4 litros de óleo a um pote de soda caústica 2 litros de água, a essência e um litro de álcool rende sabão o suficiente para atende uma família durante o mês todo. E em alguns casos, pode-se tornar uma fonte de renda dependendo da disponibilidade das famílias”. Dando continuidade na sequência didática, abordamos os conceitos fundamentais de bioquímica e introduzindo o conteúdo de lipídeos, falando das principais classes, e indagando-os sobre a relação da prática que realizamos com o conteúdo que iria ser estudado. Os alunos participaram da discussão e alguns relacionaram o óleo de cozinha como sendo um lipídeo. Assim continuou-se a aula apresentado as estruturas químicas de cada classe e mostrando as reações químicas referentes. Nessa aula, ainda foi apresentada a história do sabão, a reação de saponificação, e a atuação de limpeza do sabão. O interessante em trabalhar conteúdos químicos específicos a partir de temas, é a oportunidade de contemplar diversos conceitos, como a temática sabão, além de contemplar os conceitos referentes aos lipídeos pela gordura que é necessária para a produção do sabão, também foi possível falar sobre, densidade, solubilidade, geometria molecular e polaridade. Essa aula foi registrada pelos alunos, e foi possível perceber nos textos a construção do conhecimento e a referência a cada um dos conceitos químicos abordados. ALUNO 14: “Hoje eu aprendi que o sabão limpa porque o apolar junta com a sujeita e o polar que fica para cima junta com a agua que também é polar e assim quando vamos lavar sai toda a sujeira”. ALUNO 2: “Aprendi a origem do sabão como é a sua estrutura e no que ele é aplicado, na sujeira ee do que ele é composto, também sobre os lipídeos e o gliceridio que é uma classe dos lipídeos, formado por ácidos graxos superiores e sua reação com um álcool graxo. Conheci a formúla estrutural a cadeia estrutural e todas as composições necessárias para a fabricação do sabão e seus componentes, glicerina. E como a sua composição química limpa a sujeira devido ele ser polar e apolar e a reação de um em contato com o outro”.

Conclusões

Durante a pesquisa, foi possível perceber a interação dos alunos, já que era um assunto comum e conhecido por eles. Muitos relatos durante a participação demonstravam os saberes comuns pelas experiências diárias e todas essas experiências foram consideradas, pois de acordo com Brasil (2013) é importante considerar o conhecimento dos alunos para que a partir deles outros saberes sejam construídos. Os alunos demonstraram interesse por aulas práticas durante as entrevistas, e esse interesse foi observado também durante a realização da prática, os alunos mostraram-se motivados, durante a aula e pelos trechos observados houve a efetivação de conceitos químicos importantes. Essa motivação e citada por Giordan (1999), pois de acordo com ele é comum atribuir as práticas experimentais um caráter motivador, lúdico e vinculado aos sentidos.

Agradecimentos

A FAPEMIG- Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais Ao Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática-UFU Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e

Referências

Brasil - Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Volume 2. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília, 2006.
Brasil - Conselho Nacional de Educação : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: diversidade e inclusão. Brasília, 2013.
Francisco júnior, Wilmo E. Carboidratos: Estrutura, Propriedades e Funções. Química Nova Na Escola, São Paulo, SP, n. 29, p. 8-13. 2008.
Giordan, Marcelo. O Papel da experimentação no ensino de ciências. Química Nova na Escola, São Paulo, SP, n.10, p. 43-49. 1999.
Nascimento, Rosimar Luca do. O Ensino de Química na Modalidade educação de jovens e Adultos e o cotidiano como estratégia de ensino/aprendizagem. 2012. 32 f. Monografia (Licenciatura em Química) – Setor de Ciências Exatas, Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, Peabiru, 2012.
SILVA, Denise da. Formação de educadores de jovens e adultos: realidade, desafios e perspectivas atuais. 2011. 99 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação Em Educação Em Ciências: Química Da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2011.

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