ENSINO DE QUÍMICA POR INVESTIGAÇÃO: a experimentação nos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre as mudanças de estado físico

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Messeder, J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Oliveira, D.A.A.S. (IFRJ-NILÓPOLIS)

Resumo

Se a experimentação for desenvolvida desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, pode colaborar para construção do espírito investigativo nas crianças. Com esta premissa, foi desenvolvida uma atividade com alunos do 3° ano do Ensino Fundamental, de uma unidade escolar de Duque de Caxias (RJ). Foram realizadas rodas de conversa com questões sobre o tema “ciclo da água”, onde as crianças foram incentivadas a relatarem, de forma oral e/ou escrita, suas observações e conceitos formulados. Também foram levadas para o laboratório de ciências da escola, numa perspectiva de um ensino investigativo. A partir dos resultados obtidos, pode-se verificar que os mesmos tomaram conhecimento dos conceitos usados nessa atividade, por meio da observação, organização do pensamento e estímulo ao relato.

Palavras chaves

Ensino Fundamental ; Experimentação ; Estados físicos

Introdução

Apesar de não ser preconizada como componente curricular nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a Química se faz presente em diversos conteúdos disciplinares. Entretanto, muitas das vezes por despreparo, os professores dos anos iniciais ignoram a possibilidade de usarmos a palavra “química” em suas aulas (JUNIOR, 2008). Quando se fala em abordar química nos anos iniciais, é no mesmo sentido em que é pensada a ciência como um todo, vinculando o seu conteúdo ao cotidiano das crianças e buscando inserir o conteúdo dentro da realidade a qual os mesmos fazem parte. Diante deste quadro é necessário refletir se os professores de química em formação possuem capacidade de trabalhar diante das diversidades de uma educação baseada em pluralidades pedagógicas. Maldaner (2013) apontou que os alunos de licenciatura em química ainda vivem em currículos alicerçados em conteúdos acadêmicos, onde as disciplinas de conteúdos específicos se sobrepõem às disciplinas didático-pedagógicas. As atividades realizadas neste trabalho fazem parte projeto de iniciação científica, que vem sendo desenvolvido no curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus Nilópolis, na busca de uma reflexão para aulas de ciências/química destinadas ao público infantil. O objetivo é promover discussões sobre o uso de diversos recursos didáticos e metodológicos no que diz respeito à abordagem de conceitos químicos que cotidianamente são vivenciados pelas crianças, além de permitir possibilidades de discussões profícuas nas aulas da licenciatura, principalmente nas componentes curriculares que visam contemplar o domínio da teoria e práxis pedagógica.

Material e métodos

A etapa trazida neste texto relata uma atividade desenvolvida com vinte e duas crianças do 3° ano do Ensino Fundamental, na faixa etária de 8 a 12 anos de idade, de uma unidade escolar municipal localizada no terceiro distrito de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. A pesquisa é qualitativa, de caráter interpretativo e de natureza aplicada. Os resultados apresentados foram produzidos por meio de uma atividade discursiva, no formato de roda de conversas, que se configuram como uma estratégia didática que aproxima os atores envolvidos na relação de troca de informações. Além disso, as atividades discursivas são estruturantes do pensamento infantil e proporcionam situações reflexivas (OLIVEIRA; MESSEDER, 2017). No primeiro momento da atividade as crianças foram levadas para sala de aula, e em roda de conversa foram levantadas várias questões que abrangiam o tema disciplinar “ciclo da água”. No segundo momento os alunos foram levados para o laboratório de ciências da escola. Nesta etapa a metodologia de ensino utilizada se baseou na utilização de atividades investigativas, com a fundamentação da teoria do filósofo John Dewey (1980), que é antecipação, como foco das experiências educativas, já que na vida cotidiana as experiências são realizadas a todo tempo. Todos os registros ocorreram a partir das falas das crianças, que, segundo Oliveira e Messeder (2017, p. 141), “demonstram os discursos que são divulgados nos meios de comunicação e que estão incorporados aos relatos de estudantes da Educação Básica”. Faze- se necessário esclarecer que os trâmites necessários para o desenvolvimento da pesquisa atenderam as prerrogativas do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem dos professores-pesquisadores envolvidos.

Resultado e discussão

No momento inicial da roda de conversas houve um diagnóstico sobre as concepções das crianças para as mudanças de estado físico da água. Foi pedido que elas apresentassem em desenhos as seguintes representações: 1) gelo; 2) gelo derretendo; 3) água do rio evaporando; 4) agrupamento no estado sólido. A figura 1 ilustra uma das representações. Por meio do desenho, a criança expressa representações sociais construídas sobre questões presentes em seu cotidiano (SCHWARZ et al, 2016). O desenho favoreceu a expressão livre da compreensão sobre as mudanças de estado da matéria. No laboratório as crianças puderam evidenciar a sublimação, ao acompanharem as etapas de diminuição de massa (inicialmente 10 g) do dióxido de carbono em seu estado sólido (Figuras 2a). Surgiram falas (professor indicado por P) das crianças como: “do que é feito o gelo seco? (P)”. Inicialmente as respostas foram que “era feito de água”. “Olhem para o número da balança. está diminuindo! O que está acontecendo?” (P). Crianças: “o gelo seco fica mais leve na balança porque some”; “o gelo seco está sumindo, está virando gás”; “está misturado no ar”. Para finalizar, foi montado um gerador de gás carbônico, conectado a um béquer com solução levemente básica, colorida por indicador ácido-base (Figura 2b). E, por analogia, eles sopraram, com uso de canudinhos, em pequenas quantidades da solução (Figura 2c). “O que vocês observam? Por que a mistura muda de cor quando assopramos com o canudinho? (P)”. Algumas respostas: “por causa da respiração”, “é porque eliminamos o gás carbônico quando sopramos o canudinho”. A partir das sequencias de atividades, ficou claro o conceito de transformação dos estados da matéria. A atividade investigativa proporcionou que as crianças observassem e discutissem a sublimação.

Figura 1

Representação de uma criança: 1) gelo; 2) gelo derretendo; 3) água do rio evaporando; 4) agrupamento no estado sólido.

Figuras 2a; 2b; 2c

2a (diminuição de massa na sublimação); 2b (aparelhagem para concentrar vapor d'água e gás carbônico); 2c (criança soprando em solução de pH 9)

Conclusões

As metodologias de ensino que são escolhidas devem proporcionar uma aproximação do mundo das crianças ao contexto científico, e sempre com a preocupação de escutá-las. Castelfranchi et al (2008, p. 14) reforçam que ao “fazer ciência com as crianças e para as crianças”, devemos procurar, a partir do diálogo, ouvi-las, e assim, saber como elas percebem a ciência e os cientistas. Neste sentido, pode-se constatar a importância que o professor deve dar quando traz conceitos químicos para sua sala de aula, e em experimentações no ensino fundamental, principalmente nos anos iniciais.

Agradecimentos

Referências

CASTELFRANCHI, Y. et al. O cientista é um bruxo? Talvez não: ciência e cientistas no olhar das crianças. In: MASSARANI, L. (Org.). Ciência & Criança: a divulgação científica para o público infanto-juvenil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.

DEWEY, J. A arte como experiência. In: DEWEY, J. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 317 p. pp. 87-105.

JUNIOR, C. A. C. M. A abordagem química no ensino fundamental de Ciências. In: PAVÃO, A.C.; FREITAS, D. Quanta ciência há no Ensino de Ciências. São Carlos: EdUFSCar, 2008.

MALDANER, O. A. A formação inicial e continuada de professores de química. 4ª ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2013.

OLIVEIRA, D. A. A. S.; MESSEDER, J. C. Da narrativa literária à produção textual coletiva: remontando conceitos químicos no Ensino Fundamental. Revista Thema. v. 14, n. 2, p. 137-150, 2017.

SCHWARZ, M. L. et al. “Chuva, como te queremos! ”: representações sociais da água através dos desenhos de crianças pertencentes a uma região rural semiárida do México. In: Ciência & Educação. Bauru, v. 22, n. 3, p. 651-669, 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-132016000300651&script=sci_abstract&tlng=pt >. Acesso em: 19 jan. 2017.

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