Água nossa de cada dia: Determinando parâmetros físico-químicos de qualidade da água

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Carvalho de Freitas, A. (UFRGS) ; Batista Teixeira da Rocha, J. (UFSM)

Resumo

A água é importante nos processos metabólicos, auxilia na manutenção dos ciclos de nutrientes, é um bem indispensável a realizações das tarefas humanas como beber, alimentar, higiene, transformações de insumos. Porém, o crescimento demográfico e econômico do Brasil nos últimos anos utilizou os recursos hídricos além de sua capacidade de suporte tanto em quantidade como em qualidade. Os dados desse trabalho com água surgiram de entrevistas e questionários com 20 alunos do ensino médio, com o objetivo de realizar experimentos envolvendo a qualidade da água e questionamentos sobre o que seria a água potável, sobre doenças causadas por vias hídricas e sobre procedimentos adequados para o seu tratamento de água. As análises permitem afirmar que a água apresentava qualidade satisfatória

Palavras chaves

potabilidade; parâmetros químicos; análise de água

Introdução

Não existe em nosso planeta formas de vida que consigam sobreviver sem o uso da água, sendo essa de fundamental importância para o equilíbrio ecológico em diferentes ecossistemas; além de desempenhar papel importante no desenvolvimento sócio econômico da espécie humana. (AZEVEDO, 1999; BAIRD, 2002; SILVA et al 2013). A água é um dos elementos mais importantes do planeta Terra, constituindo um bem essencial a todo ser vivo (Dantas, 2008). Estima-se que 96,54% da água que existe no mundo esteja localizada no mar, existem também muitos lagos salgados e presume-se que mais da metade da água subterrânea também seja salgada. No geral, portanto, podemos dizer que 97,5% da água que existe é salgada. Entre os 2,5% do volume restante, há ainda muita água que não é salgada, mas que não é propriamente doce. É a chamada água salobra, o que significa que é “um pouco” salgada. Essa água salobra pode ser encontrada em alguns lagos, lagoas, deltas, pântanos e até no solo (ANA, 2012). Segundo Spiro (2009), a qualidade da água representa uma questão tão relevante quanto à quantidade de água. Embora a maior parte do suprimento de água usada pelo homem em todas as atividades seja devolvida ao ambiente, após o uso sua qualidade é efetivamente degradada. A amônia é um parâmetro químico de grande importância na análise da qualidade da água. Pode estar presente naturalmente em águas superficiais ou subterrânea sendo que sua concentração usualmente é bastante baixa devido à sua fácil adsorção por partículas do solo ou à oxidação a nitrito e nitrato. Entretanto, a ocorrência de concentrações elevada pode ser resultante de fontes de poluição próximas, bem como da redução de nitratos por bactérias ou por íons ferrosos presentes no solo (BATALHA, 1993). O cloro é um agente bactericida, utilizado para eliminar as bactérias que podem está presente na água, sua presença em uma amostra de água é indicativo de que a mesma recebeu tratamento prévio. O pH representa a concentração de íons H+ promovendo uma condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade na água. A faixa de pH é de 0 a 14. O constituinte responsável pelo pH ocorre na forma de sólidos dissolvidos e de gases dissolvidos (SPERLING, 2005). A cor da água surge, em geral a partir da presença de matéria orgânica e/ou inorgânica, mas também por substâncias metálicas como o ferro e o manganês. “A Cor é esteticamente indesejável para o consumidor em sistemas públicos de abastecimento de água e economicamente prejudicial para algumas indústrias.” (CORNATIONI, 2010). A Turbidez se origina de partículas que geram uma aparência turva na água, ocasionada pela passagem da luz. As doenças de veiculação hídrica afetam milhares de pessoas em todo o mundo, a investigação de dados obtidos nas análises permitirá correlacioná-los com o risco da ingestão de água contaminada, auxiliando no entendimento sobre o assunto pela população. Segundo dados do IBGE no ano de 2010 no Brasil mais de 31 milhões de brasileiros não tiveram acesso a água tratada. O Sistema Único de Saúde (SUS) estima que 60% das internações hospitalares estão relacionadas a doença transmitidas pela água.

Material e métodos

Em uma conversa informal com os alunos, inicialmente foi discutido sobre a importância da água para os seres vivos e sobre a disponibilidade de água no mundo. Após essa breve discussão, foi solicitado que os alunos respondessem três perguntas que foram: O que é a água potável? O procedimento de fervura da água é suficiente para eliminar microrganismos presentes na água? e se eles sabiam exemplos de doenças provenientes da água (doenças de vias hídricas) inapropriada para consumo. A turma se mostrou bastante curiosa a respeito do assunto em questão e colaborou com a execução das atividades. Para os testes a serem realizados com as amostras de água, utilizou-se o kit de potabilidade da água da Alfakit para verificar os parâmetros químico, físico e microbiológicos. A água a ser investigada foi coletada em garrafas de pet de 500 ml. Coletou-se aproximadamente 100 mL de cada amostra. Foram coletadas amostras de água das torneiras e de poços da escola e ainda de residências dos alunos situadas no entorno da escola. Após a coleta, as amostras foram analisadas no laboratório multidisciplinar (Física, Química e Biologia). Inicialmente os alunos receberam orientações sobre os parâmetros considerados padrões para afirmar se uma amostra de água estava devidamente potável e não acarretaria quaisquer danos ao ser consumida. A técnica empregada para analisar os parâmetros foi a colorimetria, através da mudança da coloração das soluções dos reagentes em contato com as amostras de água se determinava a quantidade de amônia, nitrato, pH e cloro. O kit de potabilidade vem acompanhado de uma cartela indicativa das concentrações. Quanto maior a intensidade de cor representaria maior a concentração de um dado parâmetro investigado. A análise microbiológica foi realizada através do colipaper, método que utiliza uma cartela com meio de cultura em forma de gel desidratado usado para identificar a presença de coliformes fecais, totais, para detectar prováveis alterações na qualidade da água. As atividades desenvolvidas foram realizadas de modo colaborativo visando a participação integral dos discentes e sua intervenção quando necessário. Eles desenvolveram as atividades em pequenos grupos e a medida que as análises foram sendo realizadas, os valores dos testes encontrados foram compartilhados entre si para que posteriormente fosse feita uma discussão desses resultados

Resultado e discussão

Após avaliar as respostas das questões que haviam sido solicitadas aos alunos, ficou claro que os mesmos estavam bem informados com a relação as questões de conservação e usos da água. Na pergunta a respeito da potabilidade de água a maioria dos alunos responderam que uma água potável é a que é própria para beber e que deve ser limpa (45%), uma parte deles afirmaram que a água potável não deve ter presença de microrganismos (30%), um grupo menor respondeu a pergunta relacionando-a as três propriedades que são levadas em conta ao considerar uma água pura, que são as características ínsipida, inodora e incolor (15%) e apenas um aluno respondeu de forma confusa que a potabilidade teria haver com a água hidratada. A segunda pergunta realizada foi referente a um procedimento de tratamento de água alternativo, questionamos se apenas ferver a água era um procedimento que a tornava limpa e apropriada para beber, 60% dos alunos afirmaram que os microrganismos morreriam com a fervura, 20% responderam que apenas com esse procedimento os microrganismos presentes não morreriam, enquanto que 10% dos alunos afirmaram que a fervura poderia matá- los parcialmente. A terceira pergunta trouxe à tona, um problema que causa riscos a saúde em populações do mundo inteiro, que é a transmissão de doenças provenientes da água contaminada ou imprópria para o uso humano. 50% dos alunos responderam que as doenças intestinais que nos acometem são transmitidas pela água, 35% dos alunos disseram que os protozoários em geral são transmitidos por vias hídricas e 15% afirmaram que as viroses são provenientes da água. Essa última afirmação talvez seja porque relacionaram a transmissão de doenças de vias hídricas a etiologia da dengue. É importante que a água esteja disponível em qualidade e em quantidade suficientes para o homem realizar suas atividades, para que os seres vivos em geral realizem seu metabolismo e para que o ciclo da água seja renovado constantemente. Os alunos afirmaram que a água é necessária em tudo, que usamos água em grandes quantidades e que a água usada deve ter qualidade, corroborando assim com Spiro, que afirma que a qualidade da água é tão relevante quanto a qualidade. Na atividade experimental realizada, os alunos demostraram interesse e participação na sua totalidade. Fizeram os testes com os reagentes e conseguiram determinar os parâmetros relacionados ao IQA-índice de qualidade da água. As amostras analisadas atenderam a maioria dos parâmetros exigidos pelo Ministério da Saúde e do CONAMA- Conselho Nacional de Meio Ambiente, porém o parâmetro pH do poço estava um pouco abaixo do considerado aceitável (limites estabelecidos pH 6-9,5) e as demais tiveram índices aceitáveis. Análises microbiológicas nos permitiram verificar a ausência de coliformes totais, coliformes fecais e salmonela na água, os resultados das análises foram negativos para esses microrganismos. O trabalho foi importante porque permitiu avaliar o ponto de vista dos alunos com relação a água e os possíveis dados causados quando os níveis padrões de qualidade não são respeitados, conforme afirmado pelos discentes que a ingestão de água contaminada acarretará danos, como por exemplos, problemas intestinais, comprometendo assim a saúde. No parâmetro turbidez todas as amostras tiveram níveis aceitáveis. Com relação a tratamento prévio e desinfecção da água, todas as amostras investigadas apresentavam concentrações de cloro suficientes, isso é indicativo de que houve uma prévia preocupação para garantir a potabilidade da água. Os índices microbiológicos foram verificados após decorridas 24 horas, ao completar o período de incubação, foi retirada a placa de colipaper da estufa e os alunos verificaram se houve crescimento de microrganismos, em caso positivo, apareceriam pontos vermelhos e azuis indicativo de contaminação bacteriológica. Ao analisar minuciosamente as plaquinhas, notou-se que as mesmas permaneceram incolor e portanto, o teste dos parâmetros microbiológicos foi negativo.

Valores máximos permitidos

Principais parâmetros de qualidade

Gráfico

1. resposta dos alunos sobre potabilidade da água

Conclusões

Apesar das amostras de água analisadas não estarem excedendo os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde, tem-se sempre que ter a preocupação quanto a procedência da água consumida, tendo em vista que ela pode ser transmissora de muitas doenças. As doenças hídricas podem ocasionar muitos riscos a saúde e prejuízos sócio-econômicos. Cerca da metade dos países não desenvolvidos sofrem graves problemas relacionados a falta de água potável, o Brasil não esta longe dessa realidade, pois o acesso ao saneamento básico esta presente em uma minoria dos estados brasileiros.

Agradecimentos

À FAPEAM - Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas. Ao PPGECQVS- Programa de Pós Graduação em Educação em Ciências Química da Vida e Saúde da UFSM e UFRGS.

Referências

AZEVEDO, E. B. Poluição VS. Tratamento de água: duas faces de uma mesma moeda, Química Nova na Escola, n. 10, p.21-25,1999
BAIRD, C. Química Ambiental. 2ªed.trad. M.A.L. Recio e L.C.M Carrera Porto Alegre: Bookman, 2002
BRASIL. Agência Nacional Das Águas. Água na medida certa: Hidrometria no Brasil. Brasilia DF: 2012. 72p. Disponível em <http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sge/CEDOC/Catalogo/2012/AguaNaMedidaCerta.pdf>. Acesso em: 12 dezembro 2016.
BATALHA, B.H.L. & PARLATORE, A.C. Controle da qualidade da água para consumo humano: bases conceituais e operacionais. São Paulo, CETESB, 1993.
CORNATIONI, M.B., Análises físico-químicas da água de abastecimento do município de colina – SP. Bebedouro, 2010.
DANTAS, T. N. P., 2008. Avaliação da qualidade das águas da bacia hidrográfica do Rio Pirangi/RN. Monografia (Curso de Tecnologia em Controle Ambiental) - Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, Natal.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Atlas do meio ambiente
SPERLING, Marcos Von. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3ª Edição. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Editora da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte, 2005.

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