Análise Retórica: Colesterol e Suas Imagens – Um Estudo Preliminar

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Chagas, P. (IFRJ) ; Chagas, E. (IFRJ)

Resumo

O objetivo do presente trabalho foi avaliar retoricamente, de forma preliminar, algumas imagens midiáticas sobre o colesterol. Imagens podem ser um referencial para tomada de posição sobre um assunto muito delicado, como a saúde. O colesterol, muito embora possua importância bioquímica fundamental para o corpo humano, tem sido apontado como vilão para a saúde. Imagens acabam reforçando tal posição, ainda que controversa.

Palavras chaves

Imagem, Represent.Social; Colesterol; Analise Retorica

Introdução

O Colesterol é posto como um grande vilão da saúde humana. É um assunto presente nas rodas de conversa e dele se fala para o bem e para o mal. Figuras de linguagem coordenam os discursos dos sujeitos e dos grupos sobre este tema. O colesterol tem metáforas e figuras icônicas. Metáforas são muito presentes em nossas conversas, possuindo uma dimensão iconográfica, e através dela estamos sempre comparando coisas ou atribuindo um sentido figurado. A imagem é uma ferramenta usada para influenciar. Uma imagem fala muito e o dito popular aponta: “uma imagem fala mais que mil palavras”. O Colesterol, é associado, na literatura médica especializada e na literatura cotidiana, à arteriosclerose, à obesidade, ao sedentarismo, ao infarto, à doença de Alzheimer e às doenças coronarianas. Isso faz com que o colesterol seja um assunto muito presente na sociedade. O estudo do Colesterol, segundo alguns autores (p.e., ALMEIDA, 2010), se originou de uma fraude. O número de medicamentos ofertados aumentou. No espaço midiático, utilizam-se imagens e figuras para divulgação de informações sobre o colesterol (tanto o “bom colesterol”, o HDL, e o “mau colesterol”, LDL). Para a sociedade, imagem é um instrumento indutor de comportamentos sociais. Freitas (2000) analisa a sociedade contemporânea, apontando que a mídia adquiriu um papel fundamental para construir/circular repertórios, influenciando-a. Qualquer informação, presente no espaço midiático, ganha uma enorme visibilidade e alta difusão. Imagens ou figuras tem um forte caráter indutor de representações, opiniões e comportamentos (Weller, Bassalo, 2011), levando pessoas a “comprar” a ideia proposta. O colesterol não é o alvo do presente trabalho, mas sua Representação Social e imagem social associada. Uma imagem reforça o poder de co

Material e métodos

Para o presente trabalho, foram pesquisadas na internet, em sítios conhecidos, imagens que se relacionem ao colesterol . A análise dessas imagens será feita sob um viés retórico. A Retórica, segundo Medrado (2000), pode influenciar todo um imaginário social, “assumindo, por vezes, um caráter normativo”. Segundo Aristóteles, a Retórica tem três finalidades principais: influenciar a escolha, influenciar o julgamento e comover. Uma imagem, usada metafórica e retoricamente, produz influência e convencimento social. Sendo o colesterol o permanente “vilão” da saúde, a sua imagem difundida produzirá um conjunto de convicções, que induz a determinadas condutas. Foucault (2009) traz uma informação interessante, pois para ele a retórica “não tem o compromisso com a verdade, pois é um discurso que procura constranger o outro”. Embora a “vilanização” do colesterol seja baseada em uma fraude, a força de seu argumento foi baseado no convencimento, onde as imagens têm uma ação corroboradora no imaginário popular, independente da verdade. As figuras abaixo foram retiradas de sítios da internet que vinculam informações sobre saúde e bem estar. Fig 01: O “bom” e o “mau” colesterol. Notem-se as cores: verde (siga em frente) e vermelho (pare, perigo!). O ‘bom’ está num plano acima, enquanto o ‘mau’ está abaixo. Além disso, a aparência sorridente e leve em contraponto à aparência irritadiça Fig 02: Novamente, as cores presentes. O bom representado por traços angelicais (figura do bem) e o mau representado por traços demoníacos (figura do mal). Note-se o tridente, que é capaz de provocar danos físicos. Fig 03: O ‘mau’ colesterol, responsável pelas sujeiras nas artérias, com aparência fora do comum; o ‘bom’ colesterol, responsável pela limpeza, sorridente e trabalhador

Resultado e discussão

Como é possível perceber, as imagens reforçam o que Benjamin (1994) chama de ‘valor de exposição’, que reafirma o valor retórico. Esse valor retórico produz um conjunto de convicções que induz certas condutas. Na análise das poucas imagens pesquisadas, percebe-se claramente essa indução, levando o leitor a crer que o ‘mau’ colesterol tem origem maligna e o bom colesterol, o contrário. Essas imagens têm, claramente, o objetivo de causar um temor em relação aos resultados clínicos do colesterol e a sua interpretação do HDL e do LDL de forma manipulada.

figura 1

O “bom” e o “mau” colesterol. Notem-se as cores: verde (siga em frente) e vermelho (pare, perigo!). O ‘bom’ está num plano acima, enquanto o ‘mau’

Figura 2

O bom representado por traços angelicais (a figura do bem) e o mau representado por traços demoníacos (a figura do mal).

Conclusões

O trabalho demonstra que a imagem do colesterol está vinculada não às suas atividades bioquímicas mas a um conjunto de convicções existente na mídia. Esse conjunto pode influenciar uma tomada de decisão pessoal, desvinculada de um acompanhamento médico. O estudo sobre a análise retórica sobre o colesterol irá continuar, de modo a aprofundar mais o contexto estudado.

Agradecimentos

Agradecemos às nossas instituições, IFRJ e UNESA, que nos possibilitaram a Pesquisa dentro de nosso assunto de interesse.

Referências

ALMEIDA, E. O Grande Conto do Colesterol. http://www.arzt.com.br/artigos/o-grande-conto-do-colesterol, acessado em 18/08/2016, às 14:20h

BOWDEN, J.; SINATRA, S., O MITO DO COLESTEROL. São Paulo: WMF Martins Fontes Editora, 2016.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre a literatura e história da cultura. 7ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

FREITAS, R. Corpo e Consumo: a estética carioca. In VILAÇA, N. (org). Que corpo é esse? Novas Perspectivas: Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 122-131.

FOUCAULT, M., Le courage de la verité: le gouvernement de sol et des austres. Cours au College de France (1983-1984) Paris: Gallimard, 2009.

MEDRADO, B. Textos em cena: mídia como prática discursiva. In: SPINK, M.J. (org). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000. p. 243-271

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