O USO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA IDENTIFICAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ÁCIDAS E BÁSICAS: O PHMETRO VOCALIZADO.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Benite, C.R.M. (UFG) ; França, F.A. (UFG) ; Vargas, G.N. (UFG) ; Candido, A.C. (UFG) ; Oliveira, M.S.G. (UFG)

Resumo

No ensino de Química, os alunos DV (Deficientes visuais) sofrem muito com a coleta de informação necessária para seu aprendizado, pois a química utiliza de diversos aspectos visuais para fornecer tais informações. Nesse cenário, os alunos DV se tornam dependentes de professores e colegas de sala videntes para que estes interpretem os elementos visuais presentes no ambiente, necessários para realizar as atividades. A Tecnologia Assistiva, segundo o Comitê de Ajudas Técnicas, é uma área do conhecimento que busca reduzir as barreiras criadas pela deficiência do aluno através de ferramentas. Estas ferramentas possibilitam ao indivíduo DV fazer coisas antes impossíveis ou laboriosas. Para isso, desenvolvemos um pHmetro vocalizado e aplicamos em aulas de química para caracterizar substâncias.

Palavras chaves

tecnologia assistiva; deficiencia visual; experimentação

Introdução

O pH (potencial hidrogeniônico) é uma medida essencial para controle de diversos processos químicos, como produção de cosméticos, itens de limpeza, produtos alimentícios e até mesmo no papel que usamos para escrever e desenhar. É uma análise muito importante para corroborar nas análises de qualidade realizadas na indústria química (FRAGA et al., 2002). Nos experimentos realizados em sala de aula não é diferente, muitos destes experimentos exigem sempre estar ciente do pH do sistema em estudo, e para ter essa informação é necessário um pHmetro ou um indicador ácido-base. O pHmetro é um aparelho que mede o pH e disponibiliza essa informação de forma numérica, numa escala de 0 a 14, através de um display LCD. Os indicadores acidobásicos indicam o valor de pH através da mudança de cor, alguns indicam apenas se a mistura está ácida ou básica, outros mais sensíveis indicam acidez e basicidade em valores inteiros, de 0 a 14 e exige a visão para a coleta da informação contida no aparelho. Para indivíduos com deficiência visual, a ausência da visão seria grande barreira para a realização desse tipo de análise. As Tecnologias Assistivas são ferramentas que possibilitam o indivíduo fazer o que antes não lhe era possível, visando neutralizar as barreiras criadas pela deficiência, possibilitando um aluno deficiente atuar como um aluno sem deficiência alguma. (Galvão Filho, 2009). Para isso, desenvolvemos um pHmetro vocalizado no qual o DV pode coletar dados a partir dos sentidos remanescentes. O presente trabalho tem como objetivo proporcionar a autonomia na realização de experimentos com substancias/misturas ácidas e básicas identificando os pHs através da tecnologia assistiva de forma autônoma e efetiva nas aulas de química.

Material e métodos

Segundo Thiollent e Colette (1992), a pesquisa deve ser centrada diretamente numa situação ou problema coletivo no qual os participantes estão envolvidos de modo participativo. A resolução deste “problema” deve ser de responsabilidade do pesquisador em conjunto com os outros indivíduos envolvidos na prática e não se deve parar a pesquisa sem concluir os ciclos espirais. De acordo com as necessidades dos alunos deficientes visuais observadas por professores em formação, é gerada a demanda de construção de aparelhos e equipamentos desenvolvidos pelo grupo de tecnologia assistiva. O Grupo de Tecnologia Assistiva (GTA) do Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão (LPEQI) do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolve materiais transformados e cria aparelhos que possibilitam aos alunos DV obterem as informações necessárias da experimentação para realizarem as atividades práticas de forma autônoma. O material resultante do GTA é aplicado em uma sala de aula de alunos DV numa Instituição de Apoio semanalmente, em ciclos; em seguida a aula ministrada, que foi filmada (áudio e vídeo) é transcrita e analisada para elaboração da próxima aula, tentando preencher as lacunas deixadas no momento da aula. Por partir de uma necessidade pedagógica de sala de aula, e funcionar em ciclos, essa pesquisa se caracteriza como Pesquisa-Ação. As aulas de química são realizadas semanalmente em uma Instituição de Apoio, e destas participaram: um professor em formação continuada (PFC), três professores em formação inicial (PFI), uma professora de apoio da Instituição e quinze alunos regulares (A).

Resultado e discussão

No ensino de Química, utilizar-se da experimentação em aulas com alunos deficientes visuais demanda a utilização de práticas que os permitam acessar as informações contidas nos experimentos através dos sentidos remanescentes. Baseamo-nos em Vigostski (1997) para afirmar que o modo de se ensinar para deficientes visuais e videntes é o mesmo visto que a organização psicologica nos DV não é afetada por essa especificidade, garantindo que aprenda da mesma forma, portanto o enforque educativo é o mesmo. Acreditamos então, que a partir da neutralização das limitações dos alunos DV na coleta de informações do experimento ele se encontra nas mesmas condições de aprendizagem que um aluno vidente/não deficiente. Para isso, utilizamo-nos da tecnologia assistiva para esse auxilio na coleta de dados e informações necessárias durante a aula de Química. Um exemplo do uso do aparelho pode ser notado no seguinte extrato: Extrato 1: PFI: Então aperta A1. pHmetro vocalizado: 2,63. PFC: 2,63 é ácido ou é básico? A1: ácido. PFC: É muito ácido ou é pouco ácido? A1: Muito. PFC: Muito Ácido. A2: Meio. PFC: Meio? Qual que é o neutro? A2: 7. PFC: Qual é a metade de 7 então? A2: 3,5. PFI: O mais ácido é o 0. Nesta aula foram abordados os conceitos de acidez e basicidade, que os alunos já conhecem das aulas do ensino médio regular. A visão se torna um problema quando são trabalhados os cálculos de pH, e a análise de uma mistura de concentração hidrogênio iônica desconhecida. Quanto ao cálculo, houve dificuldade por envolver elementos matemáticos como log e exponenciais, dificuldade notada nos alunos DV que participaram da aula. E quanto à análise da mistura, a dificuldade está presente nas formas mais comuns de se obter o pH de uma mistura, por geralmente envolver troca de cor.

Conclusões

O uso de TA possibilitou a coleta de informação, que é o primeiro passo paro o ensino de química, seguido da interpretação dessa informação. Sem o uso das TA o aluno se tornaria dependente do professor ou de um colega de sala vidente para conseguir a informação que precisa, porém de forma indireta, o que tira credibilidade da informação. O Uso de Tecnologias Assistivas busca minimizar e até neutralizar as dificuldades encontradas pelos alunos DV, dando a estes a autonomia necessária para a realização de experimentos, manuseando aparelhos, vidrarias e outros materiais.

Agradecimentos

ao CNPq

Referências

FRAGA, I. C.; COUTO, P. R. G., RIBEIRO, R. V., SOUZA, V. Confiabilidade metrológica de algumas soluções tampão utilizadas para a medição de pH. In: Encontro para a Qualidade de Laboratórios - ENQUALAB, São Paulo, 2002.
GALVAO FILHO, T.A. Tecnologia assistiva para uma escola inclusiva: apropriação, demandas e perspectivas. Tese de doutorado UFBa, 2009.
THIOLLENT, M.J.M. e COLETTE, M.M. Pesquisa-ação formação de professores e diversidade. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maringá, v. 36, n. 2, p. 207-216, July-Dec., 2014.
VYGOTSKI, L. S. Principios de la educación de los niños físicamente deficientes. En L. S. Vygotski, Obras Escogidas V: Fundamentos de defectología. (p. 62). Madrid: Visor. (1997).

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