O Lúdico como ferramenta de aprendizagem, no ensino de Química, para jovens infratores

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ensino de Química

Autores

Junior, J.S.S. (IFPB - CAMPUS JOÃO PESSOA) ; Custódio, L.C.O. (IFPB - CAMPUS JOÃO PESSOA) ; Sales, F.R.P. (IFPB - CAMPUS JOÃO PESSOA) ; Santana, J.L.C. (IFPB - CAMPUS JOÃO PESSOA) ; Figueiredo, A.M.T.A. (IFPB - CAMPUS JOÃO PESSOA)

Resumo

Essa pesquisa expõe a realidade do sistema educacional em prisões para jovens e adolescentes infratores, na qual relata fatos e propostas para aperfeiçoar as práticas educativas no ensino de Química, para o conteúdo de funções inorgânicas. Para isso, foram utilizados questionários com função investigativa, contextualização do conteúdo, bem como o emprego de jogos lúdicos. As ações buscaram incentivar os jovens infratores quanto ao estudo da ciência, assim como instigar o reconhecimento dos conhecimentos químicos presentes no dia a dia deles. Dessa forma, com o jogo aplicado com as ações, foi obtido êxito na aprendizagem desses jovens infratores.

Palavras chaves

Ensino de Química; Jogos Lúdicos ; Jovens Infratores

Introdução

O ensino de Química ainda é ministrado por meio de práticas defasadas, em que o docente transmite o conteúdo expressando-o apenas por meio de definições e fórmulas, esperando que os discentes memorizem e reproduzam tais definições, caracterizando um ensino bancário (FREIRE, 2011). Diante desta realidade, é necessário refletir sobre o uso de novas ferramentas pedagógicas que permitam abordar temas relacionados ao cotidiano dos discentes, principalmente, quando se tem um público singular como o de menores infratores. O ensino nas instituições socioeducativas tem o intuito de reabilitar jovens e adolescentes infratores. De acordo com Secretaria Especial dos Direitos Humanos (BRASIL, 2009), o número de menores infratores que cumprem medidas socioeducativas de privação de liberdade no país é crescente. Atualmente, cerca de quinze mil adolescentes encontram-se internados, sendo que aproximadamente 90% destes, ainda não completaram o Ensino Fundamental. Frente aos dados, é notório o desinteresse desse grupo pelo estudo, visto que uma simples implantação de ensino com livros, na maioria das vezes, não é bem-sucedida, pois os estudantes pegam os materiais para servir como moeda de troca dentro das celas. Sendo assim, é imprescindível a utilização de recursos didáticos que possam estimular o estudo dessa ciência, como o uso da contextualização, visto que “no ensino de ciências abarca competências de inserção da ciência e de suas tecnologias em um processo histórico, social e cultural e o reconhecimento e discussão de aspectos práticos e éticos da ciência no mundo contemporâneo” (BRASIL, 2002, p. 31). Além disso, a utilização de jogos lúdicos permite motivar o estudo da ciência, uma vez que alia diversão à uma função educativa, favorecendo um âmbito escolar construtivo e dinâmico.

Material e métodos

A aplicação foi realizada com um total de 8 aulas com 45 minutos cada, no Centro Socioeducativo Edson Mota (CSE) localizado na cidade de João Pessoa - PB, em uma turma do 1º Ano do Ensino Médio com 30 jovens infratores participantes. A pesquisa utilizou a metodologia quantitativa, bem como a qualitativa que tem como premissa a observação das ações humanas e sua interpretação (TEIS; TEIS, 2013). No primeiro momento (primeira aula), foi elaborado um questionário de investigação (QI) com o intuito de averiguar o conhecimento prévio dos discentes sobre Química Inorgânica. No segundo momento (segunda, terceira e quarta aulas), houve a aplicação do conteúdo de Funções Inorgânicas por meio de aula tradicional, com uso do quadro branco e lápis. Para esse momento foi preparado um questionário com questões sobre esse conteúdo e outras, requisitando a opinião dos discentes sobre a metodologia didática utilizada. No terceiro momento (quinta e sexta aulas), houve a aplicação da ludicidade, onde se utilizou um jogo construído pelo docente, com peças de madeira. As peças ilustravam diversos elementos químicos e simbologias para equação química (símbolos “mais” e setas para formação de reação, por exemplo), com o objetivo de incentivar os discentes a correlacionar os produtos das reações às funções inorgânicas. Para isso, o docente colocou as peças dos reagentes, por exemplo, (Na + H2O), e pediu para que os discentes completassem a reação e classificassem a função inorgânica em estudo. Por fim, para o quarto momento (sétima e oitava aulas), foi elaborado um Questionário Final (QF), com o intuito de avaliar o desenvolvimento desses jovens após a aplicação das ações supramencionadas, bem como requisitar a avaliação deles frente à nova abordagem didática.

Resultado e discussão

Com a análise do QI, percebeu-se que 90% dos alunos não sabiam o que era a Química Inorgânica e também não compreendiam a relação do conteúdo com os entorpecentes, em especial, as drogas. No segundo momento, com as aulas tradicionais, buscou-se relacionar o conteúdo de Funções Inorgânicas com as drogas, explicitando o malefício que determinadas substâncias poderiam ocasionar no corpo humano. Porém, com essas aulas atribuídas, foi perceptível o desestímulo dos estudantes. Ainda neste momento, foi visto no questionário que 40% dos alunos acertaram 60% das questões alusivas ao conteúdo Funções Inorgânicas. Por outro lado, 75% dos alunos assinalaram a opção “insatisfeito” com relação à abordagem tradicional de ensino. Um aluno “X” descreveu: “A aula é chata, por que o professor só fala e a gente tem que entender”. No terceiro momento, aplicou-se uma abordagem lúdica, com o uso do jogo, neste os estudantes se sentiram estimulados e conseguiram compreender melhor os conteúdos, uma vez que a relação docente-discente foi aprimorada no processo. No jogo, apenas dois alunos não conseguiram finalizar a resposta por completo, sendo um resultado positivo frente às dificuldades sociais desse grupo. Para finalizar, no quarto momento, o QF foi entregue e diante a análise, todos os estudantes acertaram mais que 70% das questões concernentes aos citados conteúdos químicos e quanto à metodologia lúdica, questionou-se: “Com a aplicação do jogo, o conteúdo de funções inorgânicas ficou mais claro? Comente um pouco sobre a aula ministrada”. O discente “Z” afirmou: “Desse jeito eu venho assistir a aula com prazer, me ajuda a pensar que ainda tenho jeito lá fora”. Deste modo, fica evidente o grau de motivação dos alunos proporcionado pelo uso do lúdico, o qual obteve um cunho inclusivo.

Conclusões

A utilização do jogo lúdico e as ações propostas contribuíram para o processo de ensinoaprendizagem, pois despertou o interesse dos discentes e incentivou os questionamentos sobre o conteúdo estudado, uma vez que todos desejavam finalizar o jogo com o menor número de erros. Vale salientar o interesse do corpo docente em buscar um aperfeiçoamento das práticas educativas, pois a educação é um direito para todos, independentemente de sua origem. Por ser um grupo que sofre preconceito pelos atos cometidos, abordagens como essa, apresentam grande relevância social.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus João Pessoa e ao Centro Socioeducativo Edson Mota( CSE).

Referências

BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos – Levantamento estatístico de adolescentes em conflito com a lei. Brasília, 2009.

_____. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. vol. 2 - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, 2006.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido.50ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

SILVA, B. C. D. S. Menores em Conflito com a Lei: Características Culturais e Aspectos Educacionais. In: FÓRUM DE INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA/ PAINEL BRASIL ALEMÃO DE PESQUISA. 4./ 3. Juiz de Fora, 2005. Anais. Juiz de Fora, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2005.

TEIS, D. T.; TEIS, M. A. A Abordagem Qualitativa: a leitura no campo de pesquisa. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt. Acesso em 05 agosto 2017.

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