DETERMINAÇÃO DE OCRATOXINA A EM SUCOS DE UVA INTEGRAIS

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Alimentos

Autores

Müller, F.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) ; Silva, S.J.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL) ; Pilger, M.L. (SOLCAMPO, VICAM) ; Bender, R.J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)

Resumo

Com o crescente consumo e interesse pelos sucos de uva integrais, há também um aumento da preocupação com a contaminação toxicológica dos alimentos. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a presença de ocratoxina A em sucos de uva integrais comercializados em Porto Alegre. Foram analisadas 24 amostras utilizando a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), com detector de fluorescência. Os dados obtidos indicaram que a maioria das amostras analisadas apresentaram contaminação com ocratoxina A em níveis superiores ao limite de restrição estabelecido no Brasil, que é de 2 µg kg-1. Diante disto, revela-se uma alta contaminação com OTA nos sucos integrais produzidos e comercializados na região Sul do Brasil.

Palavras chaves

Ocratoxina A; Suco de uva; OchraTest WB

Introdução

A viticultura é um importante ramo da fruticultura no Brasil, principalmente para a produção de sucos e derivados, que ao longo dos últimos anos já atinge praticamente a metade do total de uvas processadas (IBRAVIN, 2017). Com o crescente consumo de sucos de uva integrais, há também um aumento da preocupação com a contaminação toxicológica dos alimentos, visto que a principal via de exposição humana às micotoxinas é através da ingestão de alimentos que foram contaminados (SANTOS et al., 2015). Os fungos ocratoxinogênicos podem estar presentes no ambiente, e existindo condições ótimas para o seu crescimento e desenvolvimento, as uvas (Vitis vinifera L.) ficam suscetíveis à contaminação, tanto durante o período produtivo, como durante a colheita e na elaboração dos sucos (RIBEIRO, 2007; PRADO et al, 2016). A Ocratoxina A (OTA) é uma micotoxina nefrotóxica, que possui um átomo de cloro como grupo substituinte em sua estrutura química e propriedades nefrocarcinogênicas, teratogênicas e imunossupressoras, além de ser considerada como um composto tóxico que é cumulativo e de fácil absorção, porém de lenta eliminação (CACIQUE, 2012; JELÉN et al, 2005). A OTA é comumente produzida pelos fungos Aspergillus ochraceus, A. niger e A. carbonarius, podendo também ser produzida por outras espécies do gênero Penicillium (LANÇAS, 2015; SIMON, 2006; SILVA, 2012). O limite de restrição para OTA em suco e polpa de uvas é baseado em normas internacionais e é de 2 µg kg-1 (ANVISA, 2011).

Material e métodos

Foram coletadas 24 amostras de sucos de uva integrais brancos e tintos de diversas marcas em estabelecimentos locais. As garrafas foram armazenadas em temperatura ambiente e abertas antes da análise. As análises foram realizadas no laboratório de Pós-Colheita da Faculdade de Agronomia da UFRGS, em Porto Alegre – RS, no Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) - Sykam, equipado com detector de fluorescência (modelo RF 20ª). O comprimento de onda utilizado foi de excitação a 330 nm e emissão a 470 nm, o fluxo foi de 1mL por minuto, com pressão 212 Bar e volume de injeção de 10 µL. A preparação de amostras e limpeza foi realizada utilizando coluna de imunoafinidade OchratestTMWB da VICAM. Uma alíquota de 4 mL de suco foi solubilizada em uma solução de hidróxido de sódio 2 M elevando o pH a 7,8 e misturados a 10 mL de solução tampão PBS salino. A coluna de imunoafinidade foi condicionada com 5mL de tampão PBS, depois a amostra foi adicionada e eluída a um fluxo de 2 gotas por segundos. Posteriormente, a OTA vinculada ao anticorpo foi liberada através da eluição com 2,0 mL de metanol. O produto final foi diluído em fase móvel (solução tampão de acetato de sódio e acetonitrila - 52% e 48%). O eluato foi evaporado até a secura utilizando um fluxo de N2. Este resíduo foi reconstituído em 300 μL de fase móvel e 20 μL (em triplicata) dos quais foi injetado no equipamento cromatográfico. A confirmação da identificação da OTA foi determinada pelo método de calibração com padrão externo. O método utilizado possui limite de detecção de 0,06 ppb.

Resultado e discussão

Os dados obtidos indicaram que das 24 amostras analisadas, 14 apresentaram contaminação com ocratoxina A em níveis superiores ao limite de restrição, variando de 2,07 a 11,5 ppb (Figura 1). Em 11 amostras analisadas não foi detectada a presença de OTA, ou seja, o método não atingiu o limite de detecção. Em três amostras analisadas as quantidades de ocratoxina A estavam dentro do limite permitido de 2µg kg-1 (1,93 ppb e 2 ppb). Deste total de amostras, a determinação de concentração de ocratoxina A foi realizada em cinco amostras de sucos de uva branca. São as amostras 4, 5, 11, 15 e 20. Destas, duas estavam acima do limite permitido e nas outras três não foi detectada a presença da micotoxina em estudo. Estes dados estão representados na figura 2.

Figura 1

Amostras com concentração acima do limite de 2 µg kg-1.

Figura 2

Amostras de suco de uva tinto sem detecção de OTA, dentro do limite e resultados das amostras de suco de uva branco.

Conclusões

Este estudo mostrou alta contaminação com OTA nos sucos analisados. São necessários mais dados analíticos para uma melhor avaliação de qualidade, visto que a incidência dos fungos pode variar de acordo com as condições fitossanitárias das uvas, variedade, grau de maturação, práticas de viticultura e condições climáticas. Ainda não existe um sistema que remova a OTA dos sucos ou vinhos após contaminação, portanto é necessário minimizar o risco de contaminação e desenvolvimento de fungos e a produção de micotoxinas através da adoção de boas práticas agrícolas, de fabricação e de higiene.

Agradecimentos

Ao CNPq, CAPES e PPG Fitotecnia pelo apoio financeiro. À SOLCAMPO/VICAM pela parceria e fornecimento das colunas.

Referências

ANDRADE, M. A.; LANÇAS, F. M. Estado-da-arte na análise cromatográfica de ocratoxina A em amostras de alimentos. Scientia Chromatographica, São Carlos, v. 7, n. 1, p. 31-52, 2015.

Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instituto Brasileiro do Vinho. 2017. Panorama da Vitivinicultura Brasileira. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/camaras-setoriais-tematicas/documentos/camaras-setoriais/viticultura-vinhos-e-derivados/2017/46a-ro/panorama-da-vitivinicultura-brasileira-oscar-lo.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018.

Brasil, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. (2011). Dispõe sobre limites máximos tolerados (LMT) para micotoxinas em alimentos. (Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 07, de 18 de fevereiro de 2011). Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/rdc0007_18_02_2011.pdf/1c21241c-471d-4d10-8a24-da92c96604b8>. Acesso em: 19 jun. 2018.

CACIQUE, A. P. Determinação de Ocratoxina A em Uvas e Produtos Processados por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência. 2012. 57p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) – Universidade Federal de Minas Gerais, Monte Carlos, 2012.

JELÉN, H.H.; GRABARKIEWICZ-SZCZESNA, J. Volatile Compounds of Aspergillus Strains with Different Abilities To Produce Ochratoxin A. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 53, p.1678-1683, 2005.

PRADO, G. et al. Ocratoxina A em Vinhos Cultivados no Vale do São Francisco – Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, 25.; CIGR SECTION IV INTERNATIONAL TECHNICAL SYMPOSIUM, 10., 2016, Gramado.

RIBEIRO, E.A.R. Contaminação Toxicológica de Resíduos Vitivinícolas – Ocratoxina A. 2007. 125p. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Ambiente) – Universidade do Porto, Porto, 2007.

SANTOS, R. P. et al. Avaliação da contaminação por ocratoxina A em suco de uva integral e néctar de uva comercializados no Brasil em 2014. In: ENCONTRO NACIONAL DE ANALISTAS DE ALIMENTOS, 19.; CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE ANALISTAS DE ALIMENTOS, 5., 2015, Natal. Anais... São Paulo: SBAAL, 2015.

SILVA, D. M. Fungos filamentosos e micotoxinas em uvas, sucos, mostos e vinhos das regiões sudeste e nordeste do Brasil. 2013. 185 p. Tese (Doutorado em Ciência dos Alimentos)-Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2013.

SIMON, T. T. Influência das Condições Fitossanitárias da Uva no Teor de Ocratoxina A em Vinhos Brancos. 2006. 81p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006.

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