Estudo da variação da concentração de peróxido de hidrogênio na degradação do corante alimentício Amarelo Crespúsculo utilizando processo UV/H2O2 com radiação UV-C

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ambiental

Autores

Cavalcanti, V.O.M. (FACULDADE DOS GUARARAPES) ; Nascimento, G.E. (UFPE) ; Silva, P.K.A. (UFPE) ; Oliveira, M.A.S. (IFPE) ; Santana, R.M.R. (UFPE) ; Ribeiro, B.G. (UFPE) ; Silva, J.C. (UFPE) ; Motta Sobrinho, M.A. (UFPE) ; Duarte, M.M.M.B. (UFPE) ; Napoleão, D.C. (UFPE)

Resumo

As indústrias alimentícias utilizam de corantes para desenvolver atributos sensoriais aos seus produtos. Contudo, esses compostos apresentam características alergênicas, que podem causar danos à saúde humana. Assim, faz-se necessário a busca pela degradação deste poluente, uma vez que os tratamentos convencionais de efluentes só degradam essas substâncias parcialmente. Neste trabalho avaliou-se a influência da concentração de peróxido de hidrogênio na degradação do corante Amarelo Crepúsculo, utilizando o POA UV/H2O2 com radiação UV-C. Verificou- se que a partir de uma concentração de 30 mg·L-1 do reagente, não há variação dos percentuais de degradação dos λ estudados (234, 314 e 482 nm). Com essa condição foi removido mais de 99% da coloração inicial.

Palavras chaves

Amarelo crepúsculo; POA; radiação UV-C

Introdução

Nas últimas décadas, a poluição ambiental por efluentes industriais tem aumentado significativamente e vem se tornando um problema ambiental (BRITO; SILVA, 2012). Várias indústrias, em especial as alimentícias, utilizam pigmentos e corantes para dar cor aos seus produtos (PICCIN et al., 2009). Contudo, esses compostos apresentam características alergênicas, podendo causar danos à saúde. Desta forma, é ambientalmente importante a remoção dos corantes dos efluentes, pois, são compostos considerados prejudiciais para a vida aquática, uma vez que dificultam a passagem de luz solar e, consequentemente, reduz as atividades fotossintéticas (GUPTA et al., 2009; SRINIVASAN et al., 2010). Efluentes que contem corantes são mais difíceis de serem tratados. Isso se deve ao fato dos corantes apresentarem baixa biodegradabilidade, forte pigmentação e elevada concentração de carga orgânica. Isto se deve ao fato de que substâncias corantes apresentam estruturas moleculares complexas, que conferem a elas estabilidade e resistência à degradação biológica (Almaguer et al., 2018). Desta forma, tendo em vista a baixa eficiência dos tratamentos tradicionais como os biológicos e físico-químicos, torna-se necessário a utilização de processos que apresentem maior eficiência de degradação dos poluentes (FIOREZE et al., 2014). Dentre as tecnologias que se tem mostrado eficazes destaca-se os processos oxidativos avançados (POA), baseiam na utilização de peróxido de hidrogênio, que atua como oxidante, sendo capaz de gerar radicais hidroxilas (BRITO; SILVA, 2012). Esses processos são capazes de converter os grupamentos recalcitrantes em água, íons inorgânicos e dióxido de carbono (ASAITHAMBI et al., 2015). O processo UV/H2O2 apresenta como vantagem a geração de dois radicais hidroxila. Além disso, este processo possui uma boa solubilidade do peróxido de hidrogênio em água e alta disponibilidade comercial et al., 2009). O peróxido de hidrogênio é foto-reativo na faixa de comprimento de onda que se estende de 185 a 400 nm, apresentando uma maior eficiência entre 200 e 280 nm, devido a formação do íon hidróxido (BRANDT et al.,2017). Um fator que deve ser levado em consideração é a quantidade do reagente a ser adicionado, bem como avaliar a forma com o qual o mesmo deve colocado ao longo do processo. Segundo Tiburtius et al. (2009) ao adicionar o peróxido de hidrogênio de forma fracionada ao longo do tempo de exposição à radiação, maiores percentuais de degradação são obtidos. Assim, o presente trabalho teve por objetivo, identificar a influência da concentração de peróxido de hidrogênio na degradação de solução aquosa contendo o corante alimentício Amarelo Crepúsculo utilizando ação UV/H2O2.

Material e métodos

Corante e reagente. O corante alimentício Amarelo Crepúsculo foi cedido pela empresa F. Trajano. O peróxido de hidrogênio (H2O2, 30% v/v, Química Moderna, previamente padronizado) foi utilizado com agente oxidante. Quantificação do corante. Para determinação dos comprimentos de onda característicos do corante estudado, utilizou-se um equipamento de espectrofotometria de ultravioleta/visível (UV/Vis) da marca Thermoscientific e modelo Genesys 10UV. A análise de varredura foi realizada em faixa de comprimento de onda entre 190 e 1100 nm. A quantificação do corante antes e após o processo de degradação foi realizada com base na construção de curvas analíticas para cada λ previamente determinado. A faixa de linearidade utilizada foi de 1 a 10 mg·L-1. Após isso, o limite de detecção (LD), o limite de quantificação (LQ) e o coeficiente de variação (CV) foram determinados conforme descrito no documento do INMETRO (2016). Estudo da variação da concentração de peróxido de hidrogênio. Os ensaios de degradação foram realizados visando à determinação da concentração de peróxido de hidrogênio ([H2O2]) que promova uma maior degradação do corante amarelo crepúsculo, nas condições estudadas. Os experimentos foram realizados em um reator fotoquímico de bancada equipado com três lâmpadas UV-C (Philips), dispostas em paralelo, com potência de 30W cada (Figura 1). Este reator encontrava-se revestido com folha de alumínio. Para este reator foi medida a emissão de fótons utilizando radiômetro da marca Emporionet. Os ensaios foram conduzidos a 25 ± 1°C no tempo de 60 minutos, utilizando béqueres com capacidade de 100 mL, aos quais foram adicionados 50 mL da solução do corante na concentração de 10 mg·L-1. As [H2O2] utilizadas no estudo foram: 10, 20, 30, 40, 50 e 60 mg·L-1. Vale ressaltar que a adição do peróxido de hidrogênio foi realizada de forma fracionada nos tempos de 0 e 15 minutos, em quantidades iguais a metade da concentração total avaliada.

Resultado e discussão

Quantificação do corante. Os comprimentos de onda característicos (λ) observados a partir da varredura espectral estão apresentados na Figura 1A. Os λ encontrados foram de 234, 314 e 482 nm, o primeiro referente aos grupamentos aromáticos e os dois últimos aos grupamentos cromóforos presentes na estrutura do corante. A partir da construção das curvas analíticas para cada λ determinado, foram obtidos os valores dos limites de detecção (LD) e de quantificação (LQ), bem como os coeficientes de variação (CV) e de correlação (r). Constatou-se portanto, os seguintes valores: 1) LD iguais a 0,06 mg·L-1 (234 nm), 0,09 mg·L-1 (314 nm) e 0,06 mg·L-1 (482 nm); 2) LQ iguais a 0,25 mg·L-1 (234 nm), 0,33 mg·L-1 (314 nm) e 0,24 mg·L-1 (482 nm); 3) CV iguais a 2,23 (234 nm), 2,75 (314 nm) e 2,33 (482 nm). Com relação aos valores dos coeficientes de correlação, todos foram iguais a 0,99. Desse modo, pode-se afirmar que os valores encontrados indicam boa linearidade e precisão do método empregado, conforme INMETRO (2003) e Harris (2001). Estudo da variação da concentração de peróxido de hidrogênio. Inicialmente foi medida a emissão de fótons do reator de bancada, o qual apresentou um valor de 1,98x10-3 W·cm-2. Em seguida, foram avaliados os resultados dos percentuais de degradação do corante amarelo crepúsculo obtidos para cada [H2O2] estudado estão apresentados na Figura 2B. Nesta Figura tem-se ainda o acompanhamento para os três λ previamente identificados. De acordo com a Figura 2B, verificou-se que o aumento de [H2O2] contribui positivamente para a degradação do corante, nos três comprimentos de onda estudados, até a concentração de 30 mg·L-1. A partir desta concentração, os valores dos percentuais de degradação permaneceram constantes, atingindo mais de 99% de degradação do corante em estudo. Sendo assim, esta [H2O2] seria a condição ótima a ser utilizada em experimentos subsequentes, nas condições estudadas. Por fim, pode-se afirmar ainda que os resultados obtidos são relevantes, uma vez que na literatura observa-se que para degradar corantes alimentícios muitas vezes faz-se necessário o uso de fotocatálise heterogênea, o que aumenta os custos do processo (ZAZOULI et al., 2017).

Figura 1.

Desenho esquemático do reator de bancada UV-C. Fonte: Zaidan et al. (2017)

Figura 2.

A - Espectro do corante estudado e B - Acompanhamento do % de degradação do corante amarelo crepúsculo em diferentes [H2O2]

Conclusões

O presente estudo permitiu verificar que a variação da concentração de peróxido de hidrogênio influencia na degradação do corante amarelo crepúsculo, sendo encontrada como condição ótima a [H2O2] de 30 mg·L-1, nas condições estudadas. Este estudo é de suma importância para redução de custos, com base no uso necessário do reagente sem excesso.

Agradecimentos

Os autores agradecem a empresa F. Trajano pelo fornecimento do corante, a CAPES, FADE/UFPE e NUQAAPE/FACEPE.

Referências

1. ALMAGUER, M.A., CARPIO, R.R., ALVES, T.L.M., BASSIN, J.P. Experimental study and kinetic modelling of the enzymatic degradation of the azo dye Crystal Ponceau 6R by turnip (Brassica rapa) peroxidase. Journal of Environmental Chemical Engineering, v.6, n.1, p.610–615, 2018.

2. ASAITHAMBI, P.; SARAVANATHAMIZHAN, R.; MATHESWARAN, M. Comparison of treatment and energy efficiency of advanced oxidation processes for the distillery wastewater. International Journal of Environmental Science and Technology, v.12, n.7, 2213-2220, 2015.

3. BRANDT, M. J., JOHNSON, K. M., ELPHINSTON, A. J., RATNAYAKA, D. D.Twort’s Water Supply. 7ª ed. Chapter 11. Elsevier. 2017.

4. BRITO, N. N.; SILVA, V. B. M. Processos Oxidativos Avançados e sua aplicação ambiental. Revista Eletrônica de Engenharia Civil, n.3, v.1, p.36-47, 2012.

5. FIOREZE, M.; SANTOS E. P.; SCHMACHTENBERG N. Processos oxidativos avançados: fundamentos e aplicação ambiental. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Digila, v.18, n.1, p. 89-91, 2014.

6. GUPTA, V. K.; SUHAS. Application of low-cost adsorbents for dye removal – A review, Journal of Environmental Management, v. 90, p. 2313-2342, 2009.

7. HARRIS, D. C. Análise química quantitativa. LTC, Rio de Janeiro, 2001.

8. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA – INMETRO. Orientação sobre validação de métodos de ensaios químicos, 2003 http://www.inmetro.gov.br/Sidoq/Arquivos/CGCRE/DOQ/DOQ-CGCRE-8_01.pdf Acessado em 07 de Junho de 2018.

9. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA – INMETRO. Orientação sobre validação de métodos analíticos, 2016. http://www.inmetro.gov.br/Sidoq/Arquivos/CGCRE/DOQ/DOQ-CGCRE-8_05.pdf. Acessado em 07 de Junho de 2018.

10. PICCIN, J. S.; VIEIRA, M. L. G.; GONÇALVES, J.; DOTTO, G. L.; PINTO, L. A. A. Adsorption of FD&C Red No. 40 by chitosan: Isotherms analysis Journal of Food Engineering. v 95, n. 1, p. 16-20, 2009.
11. SRINIVASA, A.; VIRARAGHAVAN, T. Decolorization of dye wastewaters by biosorbents: a review. Journal of Environmental Management. v. 91, n. 10, p. 1915-1919, 2010.
12. TIBURTIUS, E. R. L.; PERALTA-ZAMORA, P.; EMMEL, A. Degradação de benzeno, tolueno e xilenos em águas contaminadas por gasolina, utilizando-se processos foto-Fenton. Química Nova, 2009; 32(8): 2058-2063.
13. YASSUMOTO, L.; MONEZI, N. M.; TAKASHIMA, K. Descoloração de alguns azocorantes por processos de fotólise direta e H2O2 / UV Decolorization of some azo dyes by direct photolysis and H2O2/UV processes. Ciências Exatas e Tecnológicas, p. 117–124, 2009.
14. ZAIDAN, L. E. M. C.; PINHEIRO, R. B.; SANTANA, R. M. R.; CHARAMBA, L. V. C.; NAPOLEÃO, D. C.; SILVA, V. L. Evaluation of efficiency of advanced oxidative process in degradation of 2-4 dichlorophenol employing UV-C radiation reator. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 21, n. 2., p. 147-157, 2017.
15. ZAZOULI, M. A.; GHANBARI, F.; YOUSEFI, M.; MADIHI-BIDGOLI, S. Photocatalytic degradation of food dye by Fe3O4–TiO2 nanoparticles in presence of peroxymonosulfate: The effect of UV sources. Journal of Environmental Chemical Engineering, v.5, 2459-2468, 2017.

Patrocinadores

CapesUFMA PSIU Lui Água Mineral FAPEMA CFQ CRQ 11 ASTRO 34 CAMISETA FEITA DE PET

Apoio

IFMA

Realização

ABQ