QUÍMICA FORENSE NO ENSINO DE QUÍMICA: UMA ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES EM EVENTOS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS BRASILEIROS

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Oliveira, D.F. (PPGECN/UFMT) ; Soares, E.C. (PPGECN/UFMT)

Resumo

O uso de temas relacionados ao cotidiano ou que despertem a curiosidade dos alunos tem sido relevantemente debatido nos últimos anos, como a utilização da Química Forense no cotidiano das salas de aula. Neste contexto, objetivou-se analisar as publicações sobre o uso de temáticas da Química Forense para o Ensino de Química disponíveis nos anais, de 2006 e 2017, dos principais eventos de Química e Ensino de Química dos país. Para tanto, o percurso metodológico consistiu na realização de três etapas: revisão bibliográfica, levantamento dos trabalhos e análises e conclusões. Com base nos resultados, observou-se que muitas são as potencialidades, desde que também reconhecidas as limitações, de se trabalhar com temas da Química Forense para o ensino-aprendizagem de Química no ambiente escolar.

Palavras chaves

Química Forense; Ensino de Química; Eventos Científicos

Introdução

A área de Ensino de Química tem se dedicado, nos últimos anos, a discutir relevantes princípios e ações que busquem a efetividade dos processos de ensino e aprendizagem. Para tanto, surgem autores que defendem o uso de temáticas da Química Forense e de investigação criminal como estratégias que promovem a construção de conhecimentos científicos, partindo-se principalmente do pressuposto de que tais temas contribuem para despertar a curiosidade e a motivação dos alunos para aprender (LIMA et al, 2016; SANTOS & SOUZA, 2016). Neste contexto, tem-se publicado ainda diversos trabalhos que congregam o uso de temas de Química Forense com princípios da experimentação (OLIVEIRA & SOARES, 2016; ROSA et al, 2013), da ludicidade (CRUZ et al, 2014), de divulgação científica (SILVA et al, 2016) e de fundamentos de motivação (PINHEIRO et al, 2013) para o ensino-aprendizagem de conteúdos químicos. Todavia, quando se busca levantamentos e análises das potencialidades e limitações dessas atividades em sala de aula, percebe-se que elas são ainda escassas. Desta modo, objetivou-se analisar as publicações sobre o uso de temáticas da Química Forense para o Ensino de Química disponíveis nos anais eletrônicos, entre 2006 e 2017, dos maiores eventos acadêmico-científicos brasileiros da área de Química e Ensino de Química – os quais são: os Congressos Brasileiro de Química (CBQ), as Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Química (RASBQ), os Simpósios Brasileiros de Educação Química (SIMPEQUI) e os Encontros Nacionais de Ensino de Química (ENEQ) –, buscando-se identificar as potencialidades e as limitações de se trabalhar tais temáticas para a construção de conhecimentos científicos no ambiente escolar.

Material e métodos

A metodologia adotada neste trabalho se deu através de três etapas simultâneas e interdependentes: revisão bibliográfica, levantamento das publicações e análises e conclusões. Na etapa de revisão bibliográfica, buscou-se identificar as principais correntes teóricas que dissertam sobre a uso da Química Forense no Ensino de Química, bem como, das bases teóricas, metodológicas e epistemológicas que as subjazem. Já o levantamento das publicações sobre Química Forense para o ensino-aprendizagem de Química aconteceu com a análise dos anais disponíveis nos principais eventos sobre Química e Ensino de Química do país, os quais foram: da 29ª a 40ª edições das RASBQs (de 2006 a 2017, com exceção da 31ª e 40ª edições que, respectivamente: não apresentava as publicações por áreas; e que havia sido realizada juntamente com o Congresso Mundial de Química - IUPAC 2017), do 46º ao 57º CBQs (de 2006 a 2017), do 14º ao 18º ENEQs (de 2008 a 2016, uma vez que esses são eventos bianuais) e do 4º ao 15º SIMPEQUIs (de 2006 a 2017, exceto a 5ª edição, cujos anais não estavam disponíveis). Além disso, é importante destacar que a seleção das publicações aconteceu por meio de descritores presentes nos títulos e/ou nas palavras-chaves, os quais foram (considerando as palavras e suas variações no singular, no plural e em ambos os gêneros, quando possíveis): Criminalística, Ciência Forense, Química Forense, investigação criminal (ou pericial ou de crimes), trabalho pericial, cena de crime, perícia criminal e CSI. Por fim, a última etapa ocorreu com a análise das informações coletadas nos referidos eventos, buscando-se obter um panorama geral do que se tem trabalhado e de que maneira se tem discutido a Química Forense, com suas potencialidades e limitações, para o ensino-aprendizagem de Química.

Resultado e discussão

Uma análise do levantamento revela que foram publicados, nos últimos 12 anos (2006 a 2017), 44 trabalhos (dos quais, apenas sete são trabalhos completos) sobre o uso de temáticas da Química Forense para o ensino-aprendizagem de Química, sendo: sete deles nas RASBQs, oito nos SIMPEQUIs, nove nos CBQs e 20 nos ENEQs – cuja edição com o maior número desses trabalhos foi o XVIII ENEQ (2016), com 11 publicações. Quanto aos níveis de ensino a que se destinavam as atividades descritas, 37 foram para o Ensino Médio, três para o Ensino Superior (graduação em Química) e dois para cursos técnicos. Já em relação ao formato das atividades, 35 abordavam também atividades experimentais, lúdicas e/ou uso de vídeos. E em relação aos conteúdos, reações químicas (10), interações intermoleculares (7) e compostos orgânicos (5) foram os mais citados. Todavia, em 20 (44,5%) publicações não houve clareza sobre qual a temática ou conteúdo havia sido trabalhado – o que aliado a outros fatores (como o forte apelo a intenção de motivação dos alunos) pode indicador o desenvolvimento de atividades com fins em si mesmas, esvaziadas de construção conceitual. Por fim, apesar das diversas potencialidades de se desenvolver temas da Química Forense para o ensino, na maioria dos trabalhos analisados, observam-se problemáticas e limitações como: o aparente tratamento superficial de temas e conteúdos; o apelo à curiosidade e à ludicidade – desconsiderando-se o equilíbrio entre o lúdico e o didático (SOARES, 2008) –; o gostar da atividade como sinônimo de aprender; a ideia de que a motivação é exterior ao sujeito – ao invés de considerar a sua subjetividade (BONNEY et al, 2005) –; a presença de visões folclóricas do trabalho científico; e a criação de obstáculos epistemológicos na construção de conhecimentos.

Conclusões

Deste modo, com base na análise dos trabalhos, pode-se perceber que muitas são as possibilidades de se trabalhar com temas de Química Forense para ensinar conteúdos químicos no cotidiano das salas de aula, sobretudo nos mais variados níveis de ensino, conteúdos e aliadas às práticas de experimentação e ludicidade. Todavia, para se potencializar a efetividade dessas atividades, do ponto de vista da aprendizagem, deve-se manter uma constante vigilância teórica, metodológica e epistemológica, afim de se evitar promover visões deformadas e folclóricas da Química e das Ciências Forenses.

Agradecimentos

Referências

CRUZ, A. A. C.; RIBEIRO, V. G. P.; LONGHINOTTI, E.; MAZETTO, S. E. A Ciência Forense no Ensino de Química por meio da experimentação investigativa e lúdica. In Revista Química Nova na Escola, São Paulo-SP, v. 38, n. 2, p. 167-172, maio, 2016.

BONNEY, C. R.; KEMPLER, T. M.; ZUSHO, A.; COPPOLA, B. P.; PINTRICH, P. R. A aprendizagem de estudantes em salas de aula de Ciências: qual o papel da motivação? Tradução preliminar de José Moysés Alves. In ALSOP, S. (ed). Beyond cartesian dualism: encountrering affect in the teaching and learning of Science. Holanda: Springer, 2005.

LIMA, C. K. A.; MARTINS, A. F.; SILVA, E.; DANTAS, K. G. F.; MARINHO, P. S. B. A utilização da Química Forense no Ensino Médio. In Anais do 56º Congresso Brasileiro de Química, Belém-PA, 2016.

OLIVEIRA, D. F.; SOARES, E. C. A ludicidade e a Química Forense como motivação para o ensino de Química. In Anais do XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química. Florianópolis-SC, 2016.

PINHEIRO, E. E. A.; COSTA JÚNIOR, J. S.; PAZ, C. C.; TEIXEIRA, K. S. N.; SILVA, N. R. A Química Forense como elemento motivador do Ensino de Química no Ensino Médio. In Anais do 11º Simpósio Brasileiro de Educação Química, Teresina-PI, 2013.

ROSA, M. F.; SILVA, P. S.; GALVAN, F. B. Ciência Forense no Ensino de Química por meio da experimentação. In Revista Química Nova na Escola, São Paulo-SP, 2013.

SANTOS, R. O.; SOUZA, D. A. Utilização de experimentos de Química Forense no ensino de Química. In Anais do XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química, Florianópolis-SC, 2016.

SILVA, F. J. O.; SILVA, E. G.; RIZZATTI, I. M.; MEDEIROS, I. J. S.; SOUSA, J. S. Exposição “Perícia Papiloscópica e a Química”: proposta de divulgação da Ciência Química em Roraima. In. Anais do 14º Simpósio Brasileiro de Educação Química, Manaus-AM, 2016.

SOARES, M. H. F. B. Jogo para o Ensino de Química: teoria, métodos e aplicações. Guarapari-ES: Ex Libris Editora, 2008.

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