Atuação dos salões de beleza da cidade de Porto Seguro–Ba na química de cabelos crespos e cacheados

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Frazão dos Santos, R. (IFBA) ; Barbosa, I. (IFBA) ; Silva Cunha, F. (IFBA) ; Rosa Martins, A. (IFBA)

Resumo

Neste trabalho foram mapeados salões de beleza das zonas populares da cidade Porto Seguro-Ba com o objetivo de comparar a infra-estrutura, procedimentos e utilização de produtos químicos dos salões de beleza convencionais com os dos salões de beleza denominados étnicos. Os resultados apontam que os profissionais estão buscando se especializar em cabelos crespos, independentemente de trabalharem em salões denominados étnicos. Por outro, o uso de alisamento capilar ainda é prática frequente nos salão convencionais e em desuso aparente nos salões étnicos. Além disso, os profissionais demonstram pouco conhecimento formal/acadêmico sobre o conceito de química.

Palavras chaves

Salões de beleza; Etnia; Química do cabelo

Introdução

No Brasil atual a população negra é diversificada havendo vários tons de pele, formato do rosto, textura dos cabelos. Contudo, o negro é facilmente identificado pelas características fenotípicas e pela cultura. Todos esses fatos ainda embasa o ideal de beleza da sociedade que ainda atribui ao negro um caráter negativo. Cabelos crespos, ou até mesmo cacheados, por muitos anos foram rejeitados por mulheres que, muitas vezes desde a infância, fazem uso constante de alisamento ou relaxamento para distanciar-se cada vez mais do “ser mulher negra”. Por outro lado, é possível perceber que existe um movimento social de preservação dos corpos negros na busca da reconstrução dessa identidade e muitas mulheres negras trabalham a conscientização de outras mulheres, com a ideia de “empoderamento” estimulando a consciência e apropriação física e cultural. Nesse contexto, diversas empresas voltadas para estética comandaram a produção de itens e serviços destinados aos cabelos cacheados e crespos (SILVA, 2015; SILVA, 2016). A disponibilização de produtos destinados aos cabelos crespos e cacheados tem facilitado na inovação dos penteados, o tratamento dos cabelos com o mínimo de agressão e dano dos fios não só para mulheres como para homens. Produtos diversificados têm aparecido para atender um público cada vez mais exigente e amplo, que procuram produtos que se encaixem tanto no orçamento quanto na estética capilar, entretanto, não só as grandes empresas que produzem os produtos capilares são destaque nessa empreitada, mas também os profissionais que trabalham com esses produtos sob diversas condições. Dessa forma, o presente trabalho traz um levantamento de parte da rotina de atuação na química dos cabelos crespos e cacheados em salões de beleza da cidade de Porto Seguro.

Material e métodos

Na primeira etapa, foi realizado um mapeamento dos salões de beleza nos três bairros mais populares da cidade de Porto Seguro (Baianão, Campinho e Centro), a partir do nome, endereço e público alvo. Foi identificado um total de 64 salões de beleza nos três bairros prospectados. Em seguida, foram selecionados dois salões de beleza em cada um dos bairros, sendo um dos salões especializado em cabelos crespos e cacheados (salão étnico) e o outro um salão convencional que seja localizado o mais próximo desse salão étnico, para aplicação dos formulários. Para preservar a imagem dos salões e dos entrevistados, os salões foram classificados como siglas: SE-A, SE-B e SE-C (salões étnicos), SC-A, SC-B e SC-C (salões convencionais) para os cabeleireiros foi utilizado os seguintes nomes fictícios: Carol (SE-A), Vanessa (SE-B), Carla (SE-C), Kátia (SC-A), João (SC-B) e Juliana (SC-C). O formulário foi construído com o intuito de adquirir informações relacionadas à capacitação dos cabeleireiros em cabelos crespos e cacheados, os produtos capilares que esses cabeleireiros têm preferência e como o conceito de “química” é disseminado nesse âmbito.

Resultado e discussão

Na figura 1, estão os bairros de Porto Seguro, onde ocorreu à aplicação dos formulários. O formulário teve as seguintes perguntas: (i) Você já fez alguma especialização em cabelos crespos e cacheados? (ii) Essa especialização se deu por via de que? (iii) Com que frequência você tende a fazer cursos de reciclagem para aprimorar seus conhecimentos como cabeleireiro (a)? (iv) Com que frequência você trabalha com química de alisamento? e (v) Como profissional cabeleireiro (a), o que você entende por “química”? A maioria dos profissionais respondeu que já fez especialização em cabelos crespos. Essa resposta foi independente do salão ser étnico ou não. Por outro lado, apenas um profissional do salão étnico respondeu ter feito curso de longa duração. A maioria dos entrevistos respondeu que faz esse tipo de curso uma vez por ano. Essas respostas foram independentes do tipo de salão. Segundo a Anvisa, os alisantes são classificados como risco potencial, porém quando perguntado sobre a frequência do uso de alisantes, todos dos salões convencionais responderam mais de três vezes por semana. Por outro, lado a maioria dos profissionais de salões étnicos respondeu não trabalhar com alisamento, optando por cosméticos da rede dos étnicos, com cremes a base de produtos naturais, sem petrolados, surfactantes entre outras substâncias agressivas ao cabelo cacheado. Um que pode significar mudanças de comportamento em relação ao padrão de beleza. Da última pergunta se obteve respostas que ecoam pouco conhecimento acadêmico sobre química. Resposta do tipo “Química é tudo que se mistura e se vê um efeito após a aplicação” (SE-A) “a química é para alisar! Se não tiver cuidado estraga o cabelo” (SC-A). A Figura 2 exibe um quadro das respostas obtidas nas entrevistas aos profissionais dos salões.

Figura 1

Mapa topográfico de Porto Seguro-Ba.

Figura 2

Quadro de resposta inicias na entrevista aos profissionais de salão de beleza.

Conclusões

Os profissionais estão buscando se especializar em cabelos crespos, independentemente de trabalharem em salões denominados étnicos. A Anvisa classifica os alisantes como substâncias agressivas a pele, podendo causar irritação e queimaduras, todavia o uso de alisamento capilar ainda é prática frequente nos salões convencionais e em desuso aparente nos salões étnicos, os profissionais demonstram pouco conhecimento formal/acadêmico sobre o conceito de química, todavia conseguem contextualizar bem a química e o cabelo em suas justificativas.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos profissionais de salão de beleza que se disponibilizaram a participar do projeto voluntariamente.

Referências

Agência Nacional de Vigilância Sanitária –Anvisa – Ministério de Saúde – MS. Orientações sobre alisamento. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/alisantes> Acesso em: 15 de agosto de 2018.

SILVA, P. C. S.; BRAGA, Â. M. DA S. Transição Capilar: O cabelo como instrumento de política e libertação através da identidade e suas influênciasXX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Uberlândia - MG, , 2015. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2015/resumos/R48-0059-1.pdf>

SILVA, E. A. DA; CARVALHO; DE, E. F. Relações entre aprendizagem, estética e identidade: Oficina de cabelo afroAnais do Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão da UEG (CEPE), , 2016. Disponível em: <http://www.anais.ueg.br/index.php/cepe/article/view/8151/5595>

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